Opinião

Nine Lies about Entrepreneurship and Business

Isabel Neves e Isabel Moço, coordenadoras da Pós-Graduação em Empreendedorismo de Negócios da Universidade Europeia

O empreendedorismo e os negócios estão frequentemente envolvidos em mitos e mal-entendidos que podem, até, inibir a iniciativa e proatividade para os negócios.

Baseado e inspirados nos princípios do livro “Nine Lies About Work” de Marcus Buckingham e Ashley Goodall, exploramos, interrogamos e adaptamos as ideias exploradas no livro, para desmascarar nove mentiras comuns sobre o empreendedorismo de negócios.

Mentira #1: A Ideia é tudo – Uma das crenças mais difundidas é que uma ideia brilhante é a chave para o sucesso no empreendedorismo e nos negócios. No entanto, a realidade é que a execução, a resiliência e a capacidade de adaptação são muito mais importantes. Muitas startups começaram com ideias simples, mas evoluíram para algo grande devido à forma, e por vezes muito diferenciada, com que foi executado esse projeto. Acontece frequentemente que só no terreno é possível validar e testar a ideia, bem como ter noção do que implica.

Empresas como Instagram e Twitter começaram com conceitos diferentes dos que conhecemos hoje e são, precisamente fruto de adaptação e evolução. Empreendedores e líderes empresariais bem-sucedidos entendem que a capacidade de criar e melhorar continuamente, supera a genialidade de uma ideia distinta, inovadora e disruptiva – até porque também essas, necessitam de amadurecer. Testar-se face a expectativas e feedback do mercado, é crucial.

Mentira #2: Precisa de um plano de negócios sólido – Será? E se a resposta for sim, tem conhecimentos e competências para o fazer? Embora a preparação seja importante, a ideia de que um plano de negócios detalhado é indispensável, pode ser bastante inibidor e limitante. O mundo dos negócios é dinâmico e imprevisível, e muitas vezes, as melhores oportunidades surgem de forma inesperada – costuma até dizer-se que a sorte acontece quando a oportunidade encontra a pessoa preparada. Muitos empreendedores de sucesso nunca seguiram rigidamente um plano de negócios desde o início, mas tiveram a habilidade de o ir construindo passo a passo.

Mas não existem regras nem padrões e embora talvez não seja absolutamente essencial, pois diminui a margem de erro e dar-lhe-á domínio e à vontade, estará mais habilitado e preparado se o plano de negócios estiver (bem) estruturado. Não será absolutamente essencial mas é importante, onde flexibilidade e predisposição para aproveitar e incorporar oportunidades inesperadas, pode ser mais valioso do que seguir rigidamente um plano predeterminado.

Steve Blank, professor de Stanford, defende que “nenhum plano de negócios sobrevive ao primeiro contacto com os clientes”, pelo que concordamos que agilidade, flexibilidade e adaptabilidade são fundamentais – embora, repetimos, um bom e fundamentado plano de negócios, pode ser um excelente trunfo.

Mentira #3: Crescimento rápido é melhor do que a passos ponderados e maturados – Há uma máxima que funciona bem em qualquer negócio (entre outras coisas da vida): cada caso é um caso. A pressão para crescer rapidamente pode levar a decisões precipitadas e insustentáveis. Empreendedores bem-sucedidos entendem que o crescimento sustentável, baseado em fundamentos sólidos, é mais importante do que a velocidade, mas mesmo assim, por vezes a pressa de realizar pode levar a cometer erros.

Negócios que crescem demasiado depressa muitas vezes enfrentam problemas de gestão, financiamento e operações que podem ser difíceis de ultrapassar e até mesmo provocar o insucesso. Logo, o foco em crescimento, independentemente da velocidade a que o mesmo suceda, deve prioritariamente ser procurado pela sua sustentabilidade e escalabilidade, o que é mais prudente e eficaz.

Mentira #4: Empreendedores e líderes têm de dar resposta a tudo – Há ideia de que os melhores empreendedores e líderes empresariais são aqueles que conseguem fazer de tudo um pouco, no fundo, tocar todas as dimensões do negócio. Com efeito, muitos empreendedores “aparecem” por dominarem uma área, técnica ou não – mas gestão exige um conjunto de competências muito transversais e vai muito além de skills genéricas.

Empreendedores e líderes que reconhecem as suas limitações e constroem equipas complementares tendem a ter mais sucesso, pois será um erro ter a veleidade de dominar todos os campos da gestão – o que não implica não procurar conhecimentos e competências de forma transversal. Steve Jobs é exemplo, pois concentrou-se na visão e design da Apple, enquanto Steve Wozniak, cofundador, se focou no desenvolvimento técnico. Delegar tarefas a pessoas com habilidades específicas pode potenciar o sucesso do negócio.

Mentira #5: Feedback contínuo e estar sempre inteirado de tudo, é essencial – Embora ouvir clientes e stakeholders seja importante, a procura incessante de feedback, ou procurar acompanhar sempre tudo o que acontece, pode ser contraproducente (e extenuante). Empreendedores e líderes devem confiar na sua visão e intuição, usando o feedback e o “terreno” como informação para ajustes, e não como um guias rígidos.

A capacidade de tomar decisões informadas, mas independentes, é crucial e até pode ser que o distanciamento traga uma clarividência distinta e diferenciadora. A visão dos criadores é determinante, a informação do terreno também, mas a conjugação dos dois não é tarefa simples para todos.

Mentira #6: Avaliações de desempenho são importantíssimas – As avaliações e métricas formais de desempenho do negócio podem ser úteis, mas também podem ser subjetivas e influenciadas por variadíssimos fatores, nomeadamente dos reguladores, dos mercados e até das pessoas envolvidas, direta e indiretamente. Os empreendedores devem reconhecer a complexidade humana e valorizar a individualidade, bem como o esforço contínuo das partes interessadas e não se basear apenas em momentos precisos e fechados de avaliação.

O verdadeiro valor do “colaborador ou parceiro certo” nem sempre é passível de ser medido através de processos rigorosos e cientificamente estudados – por vezes, a intuição pode ser a diferença que marca a diferença, devendo privilegiar-se as abordagens mais holísticas.

Mentira #7: O potencial do empreendimento/negócio é predeterminado – Acreditar que o potencial de um empreendedor, líder ou equipa é fixo pode limitar o crescimento e a inovação. O verdadeiro potencial é dependente de experiências anteriores, aprendizagens e desafios enfrentados ao longo do tempo – não esqueçamos, no entanto, que há fatores que podem acelerar ou inibir e nem sempre dependem totalmente do empreendedor (por exemplo, financiamento), devendo sempre seguir uma visão de crescimento contínuo.

Carol Dweck, psicóloga da Universidade de Stanford, defende que uma “mentalidade de crescimento” pode levar a um maior sucesso e realização, permitindo que as pessoas vejam as suas capacidades como desenvolvíveis.

Mentira #8: Equilíbrio entre vida pessoal e trabalho é essencial – A procura do equilíbrio perfeito entre vida pessoal e trabalho pode ser enganosa, mas também há muita boa gente que se realiza plenamente só na esfera profissional – ou outra. Para muitos empreendedores e líderes empresariais, a paixão pelo trabalho é tão intensa que a separação e limites entre vida pessoal e profissional se dilui.

Diríamos que o que realmente importa é encontrar satisfação e propósito, permitindo que o trabalho se integre harmoniosamente na vida – se para uns é o bastante, os que valorizam muito um círculo de vida, família por exemplo, devem ponderar ganhos e perdas possíveis. Empreendedores e líderes que encontram um sentido profundo e prazer no seu trabalho, nem sempre se sentem sobrecarregados pela necessidade de equilibrar estritamente trabalho e vida pessoal.

Mentira #9: É líder quem é – depois, há os outros – A ideia de que liderança é um conjunto fixo de habilidades e competências, é redutora. A liderança eficaz é situacional e varia de acordo com o contexto e as necessidades de cada momento. Empreendedores e líderes devem ser flexíveis, adaptando o seu estilo de liderança às circunstâncias e às pessoas com quem trabalham, e nem só com grandes líderes os projetos vingam.

Se o empreendedor não tiver – ou não quiser assumir, papel de líder, pode muito bem encontrar quem o faça. Aqui, a assertividade é crucial para criar ambientes colaborativos e, independentemente dos papeis (que são importantes) o mais relevante é que a tomada de decisão seja segura, rápida e com a consciência de que nem sempre temos as respostas – é prudente procurar quem tenha as melhores. Importante também será ter noção de que o estilo de liderança pode ter de ser diferente conforme a fase do ciclo de vida do negócio.

Cada uma dessas “mentiras” sobre o empreendedorismo e os negócios desinstala-nos e dá-nos ângulos menos explorados sobre como os empreendedores e gestores podem abordar os seus negócios, de maneira diferente, mas realista e ponderado. Não se perca em noções pré-concebidas, foque-se numa preparação exímia antes de começar o seu caminho.

Como diz o ditado popular português: “Mais vale feito do que perfeito”, mas quanto mais preparado esteja, nomeadamente com a sua análise sobre estas “mentiras”, mais sucesso provavelmente terá.

 

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