Opinião

Não deixe a sua carreira na mão do seu chefe!

Isabel Viegas, professora na Universidade Católica

Há cerca de um ano, num programa de executivos, o João, um dos participantes, partilhava que não estava preocupado com a sua carreira, porque trabalhava há já vários anos com um diretor, que sempre o tinha levado para os novos projetos onde foi estando e estava certo que assim continuaria a acontecer. É o que eu chamo “estar sentado no colo do chefe”.

Uns meses mais tarde, o João ligou-me, preocupado, porque tinha sabido que o “chefe” iria sair da empresa e ainda não lhe tinha falado do tema, o que indiciava que não o iria levar consigo. E a preocupação vinha de não saber o que lhe iria acontecer.

Fiz, então algumas perguntas:

  • O João é conhecido na empresa por pessoas influentes? Que o podem “ir buscar”?
  • Tem um bom networking interno?
  • Se ficasse agora desempregado a quem telefonaria? E há quanto tempo não fala com esses seus contactos?

Percebi rapidamente que estas eram perguntas incómodas e consideradas improváveis pelo João de virem a ser-lhe colocadas…

Colocarmos a nossa vida na mão de um chefe é um enorme risco. Cada um deve olhar para si como um “valor”, no qual investiu, muitas vezes muitos anos e recursos, sendo que esse investimento deve ter um retorno nos diversos contextos onde vai trabalhando ao longo da sua vida.

E garantir que o que fazemos não é apenas visível para o seu chefe, mas que chega a diversos interlocutores, a diversas áreas, na empresa e fora dela.

Invista, pois, na criação de uma reputação, que será um importante alicerce na construção da sua carreira.

Algumas dicas para que possa considerar:

  • Seja visto na empresa. Sim, é exatamente isso: saia da sua sala, ande pelos edifícios, cumprimente colegas, outros chefes, de modo a manter-se no radar, nas memórias de quem toma decisões na sua empresa;
  • Peça para ir a reuniões ou comités com outras áreas, às quais não era suposto ir: fale com a sua hierarquia e mostre interesse em o acompanhar a alguns fóruns;
  • Fale sempre nas reuniões: mesmo que repita ou reformule o que já foi dito, não deixe de intervir nas reuniões em que participa. São estas suas intervenções que ficam na memória;
  • Aceite todos os desafios para fazer apresentações. Expor-se é sempre uma oportunidade de criar boas impressões e fortalecer, assim, a sua imagem profissional;
  • Aproveite todas as oportunidades de formação que a sua empresa lhe proporciona e sugira programas que considera que podem trazer valor acrescentado para si e para a empresa. Muitas vezes dizemos não ter tempo, que andamos muito ocupados e descuidamos este pilar. Cuidar do seu desenvolvimento pode alavancar muito a sua reputação e o surgimento de oportunidades;
  • Peça feedback regular não só ao seu chefe, mas também aos seus colegas, subordinados, antigos chefes ou outras hierarquias. Para além de ser um “presente” para si, saber como é visto pelos outros, cria neles uma perceção de pessoa segura, que sabe receber uma boa crítica e integrá-la como motor do seu desenvolvimento / progresso;
  • Mostre-se disponível para os outros, dentro e fora da sua empresa. Passe uma mensagem de ser bom ouvinte nas diversas interações que vai tendo. Os outros criarão de si uma perceção positiva…
  • Almoce regularmente com pessoas informadas: elas lhe trarão o mundo e o ajudarão a ver que há mais mundo para além do seu quotidiano. E poderão vir a ser um suporte para si em momentos de ventos menos favoráveis;
  • Participe em todos os eventos da empresa. Eles são, por natureza, excelentes momentos para criarmos boas impressões e fortalecermos alguns laços profissionais;
  • Por último, coloque este tema na sua agenda. Se não formos nós a criar e a alimentar a nossa reputação, outros o farão por nós…

Em suma, em vez de esperar que as boas notícias cheguem, crie as condições para que elas venham ter consigo!

 

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Isabel Viegas

Isabel Viegas

Isabel Viegas é atualmente Chief People Officer na Semapa e professora na Católica Lisbon School of Business & Economics. Foi Diretora-Coordenadora de Recursos Humanos do Grupo Santander em Portugal, de 2003 a 2016, bem como Diretora de Recursos Humanos da Jazztel Portugal, entre 1999 e 2003. Anteriormente, desempenhou vários cargos de responsabilidade na Direção de Recursos Humanos da Marconi. É Licenciada em Psicologia e Mestre em Políticas e Gestão de Recursos Humanos (ISCTE). Tem uma vasta experiência no domínio da... Ler Mais..

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