Opinião

Marketing e tecnologia: o primado da experiência do cliente

Pedro Celeste, diretor-geral da PC&A

Apesar das dinâmicas de marketing digital já terem chegado a muitas empresas, independentemente da sua dimensão, a verdade é que se toda a lógica digital, desde o marketing às vendas e ao serviço ao cliente não está interligada, isso significa que lhes falta estratégia, pelo que o resultado tem tudo para ser pouco consistente, difuso e penalizador para os clientes.

Em boa verdade, mais tecnologia pode não ser a resposta. Se esta não servir o interesse do negócio e sobretudo o dos clientes, esta mais não representa do que um fenómeno que cria entropia na relação com o mercado. É um chatbot que não funciona, é um call center que demora uma eternidade a atender, é um site confuso que não ajuda à migração para a compra.

Quer isto dizer que, se a experiência do cliente não resultar num fenómeno marcante e positivo, não será a tecnologia que vai disfarçar esse défice de qualidade. De que serve o check in online, um QRcode e um fast track num voo que parte sistematicamente atrasado? Tudo aquilo que verdadeiramente conta é a experiência do cliente nas diferentes etapas da sua jornada, com mais ou menos tecnologia e é ela que responde pela capacidade competitiva com que a empresa é reconhecida e preferida pelo mercado.

Todavia é necessário que esse reforço competitivo esteja intimamente ligado e seja responsável pelo retorno do investimento. Todos sabemos que é comum encontramos casos onde competitividade rentabilidade evoluem no mesmo sentido. Isto acontece quando o investimento é marketing não tem retorno porque não é reconhecido nem valorizado pelo mercado.

Ora, a experiência do cliente é um fator chave que determina e explica a rentabilidade de qualquer negócio. Numa análise micro, todos constatamos que durante décadas era à área comercial que incumbia a responsabilidade de gerar receitas, o que explica que era ali que se alocavam os incentivos comercias à força de vendas. E em muitos casos, ainda hoje é essa a realidade. Neste contexto, o marketing ter-se-á colocado na posição confortável de estar na retaguarda deste processo, cabendo-lhe a função de criar condições para que os departamentos comerciais pudessem fazer o seu trabalho da forma mais eficaz.

Hoje, esta explicação não colhe! Os departamentos de marketing devem ser co-responsabilizados pelos índices de rentabilidade de cada operação e do investimento em marketing como um todo. Se a qualidade da experiência do cliente é um processo que resulta da sua responsabilidade, então a medida do êxito desse processo também deve estar alocada ao marketing.

São as lideranças das empresas que deverão assumir esse papel agregador, percebendo que ambos fazem parte do mesmo puzzle e habilitando-os a funcionar de forma integrada, na certeza de que podem produzir resultados conjuntos. É ou não verdade que uma experiência positiva de um cliente pode gerar mais clientes por força do passa-palavra ou aumentar o tempo de fidelização dos clientes atuais?

A tecnologia contribui em muito para colocar em prática um conjunto de lógicas de comunicação e distribuição que permitem aos clientes interagir com a empresa de forma eficaz. Sendo verdade que a tecnologia constitui a base de suporte para todo esse processo, não é ela que determina o formato ideal de tirar daí o melhor proveito. Essa responsabilidade cabe ao marketing.

A função marketing pode e deve ser repensada. A breve prazo, o CMO (chief marketing officer) dará lugar a uma combinação de CXO (chief experience officer) e CRO (chief revenue officer).

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Pedro Celeste

Pedro Celeste

Doutorado em Gestão pela Universidade Complutense de Madrid. Diplomado pelo INSEAD, London Business School, Wharton School, University of Virginia, MIT Management Sloan Management School, Harvard Business School, Imperial College of London, Kellogg School of Management de Chicago e IESE Business School. Na Católica Lisbon School of Business & Economics é Diretor Académico dos Executive Master in Management e coordenador do Programa Avançado de Marketing para Executivos, do Programa de Gestão Comercial e Vendas, do Programa de Gestão em Marketing Digital... Ler Mais..

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