Opinião
Maintenant je sais (parte 2)
Maintenant je sais
Je sais qu’on ne sait jamais! (Jean Gabin)
Leia a primeira parte do artigo.
Retomo e acabo aqui hoje as lições da minha Vida que, por não serem minhas, tive a audácia de partilhar e, maior ainda, a audácia de que possam ser úteis para quem as ler.
Sócrates afirmava “Só sei que nada sei”. Jean Gabin retoma este reconhecimento e ignorância numa música lindíssima, cujo sentido só percebi muitos anos depois de a ter ouvido pela primeira vez, quando a sabedoria da idade me permitiu também perceber que sei muito pouco.
Curiosamente, a namorada wildling do herói Jon Snow da série A Game of Thrones também lhe diz várias vezes “não sabes nada…”, referindo-se a tudo o que estava para acontecer no inverno que se aproximava, para o qual ele não estava de todo preparado (e cheia de razão estava ela!).
– Se eu chegar com o arco e a flecha para travar a batalha, mas ela já tiver acontecido… Não posso fazer nada
Eles, os acima de nós – Pais, professores, chefes – existem, entre outras coisas (dirigir, formar, ensinar, …), para nos ajudar. E se não recorrermos a esta ajuda, estaremos a pôr muito em causa. Saber reconhecer que não sabemos, saber aceitar que outros fazem melhor do que nós, saber pedir ajuda… fundamental!
– As contas fazem-se ao tostão / nada melhor que emprestar dinheiro para perder um amigo
Contas e empréstimos de dinheiro, claro. Mas também contas de vida. O que prometemos, o que acertamos, o que combinamos, as expectativas que criamos têm de ser geridas ao milímetro, para que não criemos vácuos entre o que estamos dispostos a entregar e aquilo que demos a entender que íamos fazer.
– A cerimónia é uma arma poderosíssima
É preciso manter a convivialidade dentro de limites; assegurar que não se mistura trabalho com cognac; garantir que cada um sabe em cada situação o lugar em que se encontra; manter as relações adequadas a todo o enquadramento em que se desenvolvem; fazer com que tudo flua sem as complexidades que os erros de perspetiva nos relacionamentos provocam.
Ponto 1, ponto 2, ponto 3, …
Organizar, organizar, organizar. A organização por prioridades e a distribuição de tarefas que conduzam à solução das situações é o princípio de uma gestão inteligente e partilhada. Seja nos processos produtivos, no desenvolvimento de um projeto profissional…. Seja nas tarefas de casa, na lista de compras, na arrumação do armário … Ou, seja naquilo em que nos empenhamos na vida. As listas são um dos nossos melhores amigos!
A causa incausada
Não nos ficarmos pela primeira resposta ou pela primeira razão, não dizer a primeira coisa que nos vem à cabeça, nem aceitar a primeira explicação que nos dão – só assim poderemos deixar de tratar sintomas, em vez de causas e corrigir o que estava mesmo mal ou replicar o que estava mesmo bem.
Mas é tão mais fácil ficar pelo superficial, que nos esquecemos que temos de ir ao fundo da questão, procurar as causas todas do que acontece de bom e de mau, conhecer a fundo o que aconteceu. O risco de fazer asneira por não perceber bem as causas é enorme, não o devemos nunca correr.
Pais maus
“Estou zangado contigo porque gosto muito de ti”
“Se não achasse que tinhas potencial, não te estava a exigir” …
Sounds familiar?
Todos aqueles de nós que tiveram a sorte de ter Pais maus, que nos exigiam e punham barreiras, sabemos o bom que foi. O laxismo na educação e o não estabelecer fronteiras para o que cada um pode fazer é meio caminho andado para criar uma geração de pessoas que tudo exigem e nada dão.
– Respeitinho! É bonito e eu gosto
Dito e redito nas aulas por uma professora de liceu, a quem na época chamávamos chata, porque nos obrigava a levantar quando ela entrava na sala, não nos deixava conversar, mandava deitar fora a pastilha elástica… e nos punha na rua se não estivéssemos presentes de espírito (o corpo só não chegava) na aula. Era chata, sim, mas incutia-nos a noção de que temos sempre, em todas as circunstâncias, independentemente da posição em que nos encontramos, de RESPEITAR quem nos rodeia!
E por aqui terminam – por agora – as lições que fui recebendo ao longo da vida.
Sim, sabemos pouco, mas podemos (devemos!) sempre ter a curiosidade de procurar mais conhecimento, a humildade de reconhecer que há sempre quem tenha algo que nos ensinar, e ter a cabeça aberta para absorver o que nos aparece de novo, às vezes de forma totalmente inesperada!
Ficamos sempre melhores quando aprendemos mais qualquer coisa, por pequena que seja!