Opinião
Mãe/Pai: Lições para liderar negócios no mês das mães
Durante anos ouvimos dizer que a vida profissional e pessoal devem estar separadas. No entanto somos uma e uma só pessoa, com ambas as vidas. Também ouvimos dizer que para sermos líderes eficazes temos de ser “profissionais” a tempo inteiro, deixando o lado pessoal em casa.
Esta ideia começa, porém, a perder força. Nomeadamente à medida que mais empreendedores/as e mais líderes reconhecem o valor das competências desenvolvidas fora do mundo empresarial — nomeadamente, na maternidade e na paternidade.
A maternidade/paternidade, longe de ser uma pausa ou entrave à carreira profissional, pode ser uma escola avançada de liderança, juntando elementos estratégicos a uma forte resiliência. Criar e educar filhos de forma consciente exige visão, gestão de recursos, tomada de decisão tantas vezes sob pressão e, acima de tudo, compromisso com o longo prazo — exatamente o que qualquer empresa de sucesso também exige.
Há cinco aprendizagens da maternidade/paternidade, por adaptação dos escritos de Denise Woodard, que se aplicam diariamente às vidas de líderes empresariais e empreendedores.
- Tomar decisões em crise: lucidez quando todos sentem pressão
Todos os pais reconhecem o momento: uma febre inesperada no meio da noite e a urgência de decidir o que fazer, com pouca informação e muita emoção. O paralelismo com o empreendedorismo é evidente — decisões rápidas, com dados incompletos, impacto elevado e a necessidade de manter a racionalidade enquanto se gere o impacto nas equipas.
Na empresa, antecipam-se riscos como se antecipam emergências familiares. Criam-se planos de contingência e formam-se equipas para lidarem com mais calma antes de qualquer tempestade. A maternidade/paternidade treina-nos para lidar com o inesperado — e o mundo dos negócios exige isso todos os dias.
- Fazer muito com pouco: gestão financeira consciente
Gerir um orçamento familiar é um exercício permanente de criatividade: reinventar refeições com o que há, ajustar contas perante imprevistos, planear sem garantias. Este mindset de otimização é vital na fase inicial – e sequentes – de qualquer negócio.
Financiar aventuras empresariais com recursos pessoais, incluindo o sacrifício de objetos próprios ou peças de família pode ser uma forma de financiar o empreendedorismo. Incentivar a que todos numa empresa sustentem as suas ações como se de donos dessa empresa se tratassem — com responsabilidade sobre os recursos e consciência sobre margens e sustentabilidade, é absolutamente fundamental. A literacia financeira começa em casa, mas transforma-se em cultura organizacional. Uma empresa sem literacia financeira não tem cultura. Jamais pode ter.
- Desenvolver pessoas: liderança que valorize as diferenças
Cada criança é diferente. Saber ajustar a liderança a diferentes perfis, motivações e talentos é um dos maiores desafios de quem lidera.
Na maternidade/paternidade e na liderança, importa definir objetivos claros, reforçar expectativas e reconhecer progressos. Saber quando intervir e quando confiar. A empatia que se cultiva em casa é um poderoso trunfo no mundo dos negócios.
- Adaptar-se ao crescimento: navegar a mudança com agilidade
As crianças crescem por fases — tal como as empresas. Quando achamos que dominamos uma rotina, tudo muda. Este ciclo constante obriga-nos a ajustar planos, a rever prioridades, a aceitar o desconforto da transformação.
Algumas vezes têm de ser as lideranças a perceber que está na hora de crescer. Outras, será o próprio negócio a empurrar-nos para a frente. Por isso, debater com terceiros, ter conselheiros e ajudas externas ajudam a garantir que a visão acompanha o ritmo da realidade.
- Jogar a longo prazo: construir um legado com valor
Ser mãe/pai obriga a decisões com impacto futuro: educar com valores, preparar para a vida, resistir à gratificação imediata. O mesmo se passa com o empreendedorismo ou com a liderança de empresas: abdicar de lucros imediatos para investir em cultura, em produto, em serviço, em reputação.
É preciso paciência, fé e consistência – muita consistência – para criar algo duradouro — seja um filho ou uma empresa. A motivação está na vontade de deixar um legado, de contribuir para o mundo com algo que reflita os nossos princípios.
***
A maternidade/paternidade não é, assim, um obstáculo. É uma preparação avançada para liderar.








