Opinião

Liderança: Para lá da moda, o autoconhecimento. Não a autoajuda!

José Crespo de Carvalho, presidente do ISCTE Executive Education

A discussão sobre liderança oscila frequentemente entre duas vertentes. Para uns, uma moda passageira, adornada por jargões e palavras bonitas e pontuada por inúmeros seminários de autoajuda, o que será sempre uma hipótese que, se exagerada, distorce completamente a sua necessidade e até a ridiculariza.

Muitos dos que enveredam por este caminho sem se perguntar a origem e o porquê das coisas acabam reféns dessas palavras, desses seminários e da necessidade da liderança porque sim, por moda. Para outros, a liderança é uma necessidade indiscutível, o alicerce sobre o qual se constrói o sucesso organizacional (seja isso o que for) e se avança e constrói futuro. Mas serão as duas necessárias e terão de conviver?

Ponto um: a ausência de referências ao nível da liderança leva-te muitas vezes a exacerbar a moda e, também, a negligenciar os motivos subjacentes à necessidade indiscutível da segunda, de uma forma estruturada, estudada, aprofundada e consequente. Claro está que a segunda leva à primeira, i.e., uma necessidade de liderança emergente conduz quase sempre a exageros e a distorções de moda. Resultado: tens de conviver com as duas.

Ponto dois: precisas, precisamos mesmo de líderes.

E por onde começar esse caminho de preparação para a liderança? O cerne da liderança eficaz jaz num princípio fundamental: o autoconhecimento.

Antes de aspirares a gerir outros, deves mergulhar na tua essência e nas tuas idiossincrasias para te conheceres profundamente. Não é autoajudares-te. É mesmo autoconheceres-te. O que significa compreenderes as tuas forças, fraquezas, valores e motivações, estímulos aos quais reages positiva e negativamente. Esse entendimento íntimo não apenas molda a tua liderança em autenticidade, mas, também, permite-te um segundo passo que é gerires-te a ti mesmo. Não, novamente não é autoajuda. É autogestão.

Só depois, mais à frente, vem a tua necessidade de conhecimento exterior e do que são as realidades e as idiossincrasias dos outros. E, finalmente, a gestão desses outros. A liderança. A tua adaptação às necessidades de uma equipa, cultivando um ambiente de confiança e respeito mútuos.

Na origem, porém, o autoconhecimento aprimora a inteligência emocional, essencial para gerir conflitos, inspirar colaboração e fomentar um espaço onde as ideias possam florescer. E a origem é a origem. Reconhecer limitações permite-te procurar complementaridade nas habilidades dos outros, promover a diversidade e também a inclusão.

Ponto final: sim, precisamos de líderes. Este princípio é muito mais que uma moda. E, claro que sim, começa no autoconhecimento se quiseres aspirar à liderança. Mas autoconhecimento não é autoajuda. É mesmo autoconhecimento.

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José Crespo de Carvalho

José Crespo de Carvalho

Licenciado em Engenharia (Instituto Superior Técnico), MBA e PhD em Gestão (ISCTE-IUL), José Crespo de Carvalho tem formação em gestão, complementar, no INSEAD (França), no MIT (USA), na Stanford University (USA), na Cranfield University (UK), na RSM (HOL), na AIF (HOL) e no IE (SP). É professor catedrático do ISCTE-IUL, presidente da Comissão Executiva do ISCTE Executive Education e administrador da NEXPONOR. Foi diretor e administrador da formação de executivos da Nova SBE e professor catedrático da Nova SBE (Operations... Ler Mais..

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