Opinião

Liderança: e quando ter poder não significa ter autoridade?

Paulo Finuras, professor associado do ISG*

Sabia que estudos conduzidos nos EUA[1] atribuem uma taxa de insucesso aos líderes empresariais de cerca de 55% e outros estudos[2] mostram que mais de 60% dos empregados referem que o aspeto mais negativo e stressante do seu trabalho diário é… o seu próprio chefe!

A questão que se coloca é que um chefe deve ser exatamente isso. Alguém investido de poder que deve de forma competente planear, organizar, coordenar e controlar. Chama-se a isto cumprir o ciclo da gestão. Esta é a essência do poder atribuído e que constitui nas empresas aquilo que designei noutro local (Finuras, 2018 Bioliderança) um “estabilizador automático de comando”.

Contudo, estes estabilizadores, ou seja, os poderes atribuídos pela hierarquia só garantem “os mínimos de funcionamento” de uma organização. O que faz então falta e o que é que pode ultrapassar os mínimos de performance? A resposta é, conseguir ter chefias que sejam mais do que isso, ou vão além disso, conseguindo ser também líderes. Ora para que isso aconteça é necessário que essas chefias sejam reconhecidas e respeitadas e assim, para além do poder atribuído, consigam ter autoridade concedida pelos colaboradores.

Eis uma das respostas à pergunta: “por que falham os líderes”? Entre outras razões, porque ser líder é conseguir ser reconhecido. Ser chefe é apenas ter poder. A Liderança é concedida. O Poder é atribuído. É por isso que aqueles que não conseguem legitimidade como líder (porque não conseguem ser reconhecidos nem respeitados como tal) sentem a necessidade de exercer o seu poder. A liderança vai de baixo para cima. O Poder vai de cima para baixo.

As atuais situações de liderança nas empresas modernas estão, em muitas situações, em conflito com a psicologia natural dos liderados.

Quais são então as virtudes que associamos a uma grande liderança? Honestidade, fiabilidade, generosidade, ponderação, espírito de sacrifício, humildade e, sobretudo, uma bússola moral sólida!

Mais importante do que ter chefias com poder atribuído é necessário conseguir que essas chefias sejam líderes com autoridade concedida. Para isso é fundamental conhecer a essência da liderança e a psicologia dos liderados, tantas vezes esquecida!

E o leitor? Conhece, ou já conheceu, algum indivíduo que exercesse o seu poder, mas que não conseguisse ter autoridade? Eu já conheci! Até já conheci gestores que se preocupavam com o preço de tudo, mas não sabiam o valor de nada.

[1] Nicholson, N. 2000
[2] Hogan, R.; & Kaiser, 2005

* Professor associado do ISG – Instituto Superior de Gestão, Investigador e Associate Partner da Hofstede Insights (Finlândia)

Comentários

Artigos Relacionados

Tiago Rodrigues, economista e gestor
Rosário Pinto Correia, Catolica Lisbon School of Business and Economics