Opinião
Liderança 4.0 – leading through algorithm?
De repente (ou não), já estamos à porta da quarta revolução industrial. A Indústria 4.0, segundo as várias definições disponíveis, é o termo que engloba tecnologias para automação e troca de dados, e facilita a visão e execução de fábricas inteligentes (wikipedia).
Sem dúvida que grandes mudanças foram e são operadas, desde que se passou da primeira para a segunda, desta para a terceira e agora para a quarta revolução industrial. Estas alterações que surgem, inicialmente na parte tecnológica, afetam depois, naturalmente, todas as demais componentes do sistema; legal, humano, social e gerencial.
Vamos refletir um pouco sobre a parte gerencial e de recursos humanos.
A influência determinante da tecnologia
A tecnologia, mesmo na sua forma rudimentar, quando comparada com o que temos hoje, define, altera e molda as relações numa organização, na sociedade ou até mesmo na família. Basta ver que a primeira revolução industrial ou mecanização, com a introdução da força motriz, determinou um novo padrão de relacionamentos laborais, levando a que a força humana (ou animal) fosse substituída.
Já na segunda revolução industrial, com o surgimento da linha de montagem, houve novo redesenho das relações laborais, principalmente nas fábricas. Como consequência, formou-se um novo tipo de relacionamento laboral e surgiu a necessidade de organizações de defesa e proteção daqueles que trabalhavam nas fábricas, em regimes que hoje já não são aceites socialmente, pelo menos na nossa cultura.
Mas o que se passou ao nível gerencial? Passámos a ter novas teorias de gestão e novas formas de gerir, acopladas a novas técnicas que se foram aperfeiçoando ao longo do tempo, nomeadamente a logística, uma atividade muito importante nas linhas de montagem (basta lembrar o conceito just-in-time).
A terceira revolução introduziu a automação e o processamento de dados e, mais uma vez, novas formas de gestão.
E a quarta revolução ou Indústria 4.0?
Bem sabemos que, mais cedo ou (do que) mais tarde, a gestão (e toda a sociedade) acabará, naturalmente, por se adaptar e trazer a tecnologia para o seu lado.
Seria até interessante que a liderança (management) tentasse antecipar essas mudanças ou, pelo menos, ir lado a lado, e não ficar atrás, embora saibamos também que a evolução de muitos processos (tecnológicos ou não) surge muitas vezes como resposta às limitações ou desafios da própria gestão.
Então na Indústria 4.0, como pode ser a liderança 4.0?
Pensamos que teria de ter, necessariamente, o ADN da indústria 4.0. Vejamos algumas características:
- Descentralização dos processos decisórios, nas suas diversas vertentes:
- A possibilidade da tecnologia (não só o hardware mas também o soft ou algoritmos) tomar decisões de forma autónoma, o que já acontece em muitos processos no mundo financeiro, e não só (high trade frequency ou negociações de alta frequência).
- Possibilidade da decisão ser tomada por qualquer colaborador da rede. Também já se verifica, devido às possibilidades oferecidas pela blockchain systems (distributed ledger technology), nomeadamente o uso da crypto
- Interoperabilidade: ou a habilidade dos sistemas ciberfísicos e dos humanos, bem como das fábricas inteligentes, se conectarem e se comunicarem entre si, através de internet das coisas (internet of things). É um facto que, a cada revolução industrial, a tecnologia “rouba” empregos humanos, logo, no Indústria 4.0, a maioria das tarefas rotineiras previsíveis serão realizadas, sem quaisquer dúvidas, por autómatos ou algoritmos. Os carros autónomos e o robô-advisory são talvez, as áreas mais conhecidas onde a máquina “pensa” (inteligência artificial) substituir o homem.
Parece que, nestes dois quesitos, a liderança 4.0 não tem problemas. Senão vejamos: a descentralização pode ser entendida como uma liderança democrática, baseada mais no carisma e menos no poder autoritário, o que já é uma realidade. No que toca à interoperabilidade, o perfil do líder terá de sofrer afinações, passando a ser mais gestor (de processos e tecnologias hard e soft) e menos líder (de pessoas).
Perante tudo isso, e como a “procissão ainda vai no adro”, será que a liderança 5.0 será um algoritmo?