Estes últimos anos têm sido extremamente desafiantes para a sociedade, em geral. Depois de uma pandemia global fomos confrontados com uma situação de guerra na Europa que, além da tragédia humanitária que representa, causou uma crise económica de elevada dimensão.

Tenho referido por algumas vezes que só daqui a uns anos, quando olharmos para trás, é que seremos capazes de perceber o que todas estas vivências nos fizeram, enquanto indivíduos e o quanto mudaram o tecido social e a forma como nos relacionamos e como experienciamos a realidade.

Por todas estas razões decidi, no final de 2022 e seguindo um conselho da minha esposa, fazer uma pausa no ritmo frenético de um ano extremamente desafiante, e pôr-me a caminho para fazer… o Caminho de Santiago de Compostela. Não foi nada que tivesse planeado, mas como é algo que rapidamente se organiza e se prepara, foi a situação ideal para tirar um tempo para mim, respirar e ganhar alguma perspetiva.

Há várias experiências que vivi que serão, potencialmente, matéria para outro dia, mas gostava de focar esta partilha em algo que decidi fazer – e que acabou por ter mais significado do que aquele que inicialmente lhe pensei dar. Sou Pai de quatro meninas e pensei que seria engraçado trazer-lhes um pequeno livro com uma frase por dia que representasse uma lição que tinha aprendido naquela jornada. A ideia seria poder contar-lhes, ao voltar, algumas situações que pudessem ser usadas também como aprendizagens para elas.

Foi assim que surgiu o “Livrinho do Caminho”. A verdade é que, ao escrever as diferentes frases, ficou claro que todas aquelas lições eram conselhos para mim próprio, que o Caminho me estava a ensinar (se é que isto faz sentido para o leitor) e que indico abaixo porque me parece que ao iniciarmos um novo ano, todos precisamos de nos lembrar. O Caminho de Santiago pode ser visto como uma metáfora para a Vida, e há algumas coisas que me parece importante que nos lembremos com regularidade – porque são fáceis de esquecer. Por vezes, demasiado fáceis, em particular considerando tudo o que temos vivido.

  1. Mesmo que seja difícil começar, se é o que está certo, façam na mesma.

Deixar a família em casa e partir para o desconhecido, com uma mochila pronta para uma caminhada de vários dias não foi fácil. Ainda para mais, quando não era claro para elas porquê. Mas por vezes temos de abraçar o desconforto na certeza de que estamos a fazer o que é certo.

  1. Não tenham medo de começar, mesmo que lá fora esteja frio e escuro. O primeiro passo é o mais importante.

Partilhei com elas que no primeiro dia, com frio e chuva, não tinha vontade de começar a andar no que seria uma caminhada de mais de 130km. Mas era o certo, e dei o primeiro passo, sem dúvida o mais importante. Quantas vezes estamos perante este tipo de situações, a nível pessoal e profissional?

  1. Por vezes o caminho é solitário. Mas se tiverem a certeza de que estão a fazer o que é certo, continuem e não desanimem.

A vida coloca-nos perante desafios que muitas vezes nos fazem sentir sozinhos, tanto a nível profissional como pessoal. E aí temos apenas como orientação a nossa certeza de estarmos a fazer o que está certo (referência a um filme da Disney para os aficionados!).

  1. O Caminho é suposto ser divertido!

Digo muitas vezes às minhas equipas que é suposto estarmos divertidos e acharmos graça ao que fazemos. Há sempre alturas mais difíceis, claro, mas da minha experiência riso e piadas fazem magia mesmo nas alturas piores.

  1. Mesmo que estejamos separados estamos sempre juntos no Caminho.

Em complemento ao que disse acima, certamente cada um de nós terá família, amigos, colegas ou um misto de tudo isto com quem partilha a sua vivência profissional e pessoal. Se estes anos mostraram algo foi a importância de partilharmos o nosso Caminho com todas essas pessoas – fisicamente ou em pensamento.

  1. Não tenham medo de ir fazendo amigos pelo Caminho.

As relações que fazemos pela vida, tanto profissionais como pessoais, são as que ficam e que mais nos marcam. Como lhes disse, não tenham medo de as criar porque no final, são elas que irão perdurar e ter real significado.

  1. Aproveitem o Caminho, mas também a chegada. É bom sentir que se cumpriu o objetivo!

Muito se fala de que o Destino não é tão importante como a Viagem. De que vivemos num Jogo Infinito, que não termina. Concordo com esta visão, mas a verdade é que também é importante celebrar quando atingimos o nosso objetivo – mesmo que isso seja logo seguido pela definição do próximo!

Foi gratificante ver a reação das meninas às várias frases e às histórias que as acompanharam. Foi uma experiência marcante, que planeio repetir já este ano – por tudo o que permitiu viver, pela superação física que consegui realizar e pelas pessoas que conheci, a minha família do Caminho, com quem mantenho contacto regular. Mas se ficou algo foi que aquela metáfora sobre o Caminho ser como a Vida é mesmo verdade – e que é importante querer e saber caminhar, tirando partido do bom e do mau que se nos apresenta. No final de cada dia, mesmo com maleitas nos pés, tudo se cura – e no dia seguinte, de mochila às costas, caminhamos novamente.

Bom Caminho!

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Sérgio Viana é Partner & Digital Experience Lead na Xpand IT, onde é responsável pela definição da estratégia e oferta da unidade, focada na criação de experiências digitais com uma base tecnológica. É também Board Member da IAMCP Portugal, o... Ler Mais