A lenta chegada das start-ups ecológicas em Espanha

São cada vez mais os negócios digitais que baseiam a sua filosofia no natural, orgânico e sustentável, embora em Espanha não esteja a ser fácil.

Começar uma start-up eco-friendly em Espanha não é tarefa fácil. A consciencialização da sociedade a respeito da etiqueta verde é cada vez maior, mas é relativamente baixa, o que faz com que o mercado espanhol esteja menos aberto do que noutros países. A isto junta-se uma administração que atua em muitas ocasiões como sujeito passivo com muitas exigências e desconfiança.

Apesar de tudo, as previsões são favoráveis. Segundo a Ecovalia, em 2030 a produção ecológica alcançará 30% da superfície agrária útil e o consumo chegará a 20% da população. Além disso, a Agência Espanhola de Patentes e Marcas calculava em 2015 o investimento mundial em energias limpas em 286 milhões de euros.

O consumo de alimentos ecológicos vai ganhando terreno em Espanha, embora a passo muito mais lento do que nos países à sua volta. No exercício de 2015 registou-se um aumento de 24,5%, situando-se em 1.498 milhões de euros, segundo o Ministério da Agricultura e Pesca, Alimentação e Meio Ambiente.

“As tendências quanto aos alimentos, em particular aqueles com matizes ecológicas, são um indicador do foco na autenticidade”, afirma Daphne Kasriel-Alexander no estudo do Euromonitor Internacional “As 10 principais tendências de consumo de 2017”, citado pelo El País.

Graças a esta corrente, estão a aparecer empresas de todo o tipo, focadas no consumo responsável e na proteção do meio ambiente. É o caso da Superalimentos Wise Nature, uma empresa familiar valenciana que procura transmitir à sociedade uma forma de alimentação sã e saudável, oferecendo ao consumidor alimentos e superalimentos ecológicos ricos em nutrientes.

“O setor da alimentação ecológica aumentou 210% nos últimos três anos e é uma tendência em alta em toda a Europa”, comenta María José Borrás, diretora técnica e comercial da Wise Nature. Por isso, tanto ela como o seu filho Jairo (biotecnólogo) decidiram estudar este tipo de alimentos. Desta forma, reuniram na sua empresa a experiência e o conhecimento para o colocar ao serviço da sociedade.

Além disso, embora se trate de um conceito muito recente, cada vez há mais pessoas conscientes dos seus benefícios. “Os alimentos ecológicos estão livres de substâncias químicas, hormonas, glifosatos e qualquer elemento prejudicial para a saúde das pessoas”, afirma María José.

A rivalidade com as empresas estabelecidas é dura. “Nos dias de hoje, o mercado dos superalimentos sofre muita concorrência”; explica Jairo Pascual, diretor geral e financeiro da Superalimentos Wise Nature. “Cada vez há maiores marcas que lançam no mercado a sua própria linha, muitas vezes sem qualquer certificação ecológica ou de alergénios”.

Energia verde com selo europeu

Uma das preocupações dos espanhóis, segundo o Eurobarómetro, é o meio ambiente e a proteção da natureza. Talvez por isso o setor da energia procedente de fontes renováveis esteja a alcançar uma grande popularidade nos últimos anos.

Estas energias já representam 86% de todas as novas instalações elétricas da UE, de acordo com o relatório ‘Renewables global futures report’, da Ren21, algo totalmente impensável há uns anos, pelo que não é raro que sejam cada vez mais as empresas que se concentram em oferecer este tipo de energia.

É o caso da Ecovatios, empresa que foi criada no ano de 2014 e que se encarrega de fornecer aos seus clientes energia 100% renovável e tem como objetivo ajudar os seus clientes a consumir menos, reduzindo assim o impacto ambiental associado ao consumo energético.

A equipa fundadora da Ecovatios começou a trabalhar em energias renováveis no ano de 2000. Carlos García Buitrón, o seu diretor geral, tinha 15 anos de trabalho no setor em vários mercados europeus quando decidiu pôr em andamento o novo projeto.

García Buitrón conta que as renováveis estão agora a viver o seu melhor momento porque “a sua vantagem não é só não terem impacto ambiental, mas que algumas delas são inclusivamente mais baratas do que qualquer das energias tradicionais”.

A Ecovatios, aliás, conta com o selo europeu EKOenergía, que garante aos seus clientes que a energia renovável que consomem não só não produz emissões, mas também provém de projetos com um baixo impacto ambiental.

Além disso, criaram uma tarifa especial, a Tarifa Green, “dirigida tanto a produtores como a comercializadores de alimentos ecológicos, garantindo uma poupança económica mínima anual de 7% em relação ao seu anterior fornecedor”, explica o diretor geral da empresa. Desta forma, apoiam a expansão do setor da alimentação ecológica, já que partilham com eles os valores de respeito pelo ambiente e pelos consumidores.

Cosmética natural com valores

Também o mundo da cosmética aderiu a este estilo de vida. Optar pelos cosméticos naturais é cada vez mais fácil, graças à grande quantidade de marcas que estão a tentar a eliminação dos compostos nocivos dos seus produtos.

De acordo com o L’Observatoire des Cosmétiques, os cidadãos europeus estão a começar a ficar conscientes da composição dos produtos que compram. A sensibilização perante os parabenos, silicones, sulfatos e ingredientes que não fazem bem continua a aumentar. Sobretudo, por causa dos problemas de pele provocados pelos tóxicos da cosmética.

Nesta área, surge a Freshly Cosmetics, uma marca natural e 100% livre de tóxicos, criada por três engenheiros químicos. “Somos a marca digital da cosmética saudável. Não só vamos para o natural, também para o saudável, que é realmente a principal preocupação”, explica Mireia Trepat, a cofundadora.

Decidiram apostar neste tipo de cosmética porque, segundo Trepat, “a cosmética livre de tóxicos é necessária para que a pele se desintoxique de forma correta”. Além disso, Trepat acredita que hoje em dia “preocupa-nos mais tudo o que se relaciona com a saúde, tanto de nós próprios como dos que nos rodeiam e do planeta”.

Quanto à concorrência, estão como David perante Golias. “A cosmética natural é um mundo que pouco a pouco vai eclipsar os produtos convencionais das grandes marcas”, comenta. Um dos trunfos tem sido a nova realidade, com as redes sociais como agente protagonista. “Graças às redes, que desempenham um papel fundamental para nos podermos comunicar com os clientes, podemos saber o que pensam, o que os preocupa e o que gostariam de ter e não têm”.

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