Opinião

Invista em formação, pela sua saúde

José Crespo de Carvalho, presidente do ISCTE Executive Education

Haverá muitas mais razões que apenas sete para se dar mal ao não apostar em formação. Mas sete são críticas e farão diferença face ao futuro que se aproxima.

1) É um erro grosseiro dizer que não se investe em tempos de crise. Ora porque se está desempregado, ora porque não se sabe o futuro, ora ainda porque se tem receio e não se sabe o que aí vem. Tudo pensamentos que em nada ajudam e em nada musculam a preparação de cada um. O resultado deste tipo de pensamento é chegar ao final do tempo de crise desgastado, sem formação e ainda a olhar para o lado e a ver todos quantos apostaram em formação a passarem à frente. Em crise investe-se, sim. Talvez se deva investir mesmo mais que em períodos de milking the cow, i.e., em períodos de não crise;

2) O mercado está estagnado em uma série de setores e as contratações estão a ser frequentemente postecipadas. Este adiamento dá tempo para formação; querendo crescer há que desenvolver um trabalho formativo que o lance para uma vida profissional com algum sentido e algum sabor – nada somos só com vida pessoal e sem trabalho; desenganem-se os que acham que sim, só porque sim;

3) O mercado de emprego não voltará tão cedo a dar sinais de procura forte e muito menos a revelar um salário interessante. Seria necessário mudar o paradigma da economia. É preciso vencer uma pandemia e para além dela é necessário recuperar a economia. Depois, eventualmente em paralelo, perceber que os modelos de negócio terão de se reinventar na lógica do valor. O recrutamento, nestes próximos tempos, estará muito condicionado. E a adicionar a isto ainda não vencemos a pandemia. Assim sendo, os próximos anos serão anos claramente de formação pois serão concomitantes à recuperação;

4) As pessoas melhor posicionadas para uma pós pandemia, ou para uma convivência prolongada com o vírus (que talvez seja provável), serão aquelas que estarão mais bem preparadas a se posicionarem na linha da frente para as primeiras grandes oportunidades que estão a surgir. Essas são as que fizeram formação, tout court;

5) O tempo de que dispomos é apesar de tudo interessante. Muitas pessoas ainda estão em trabalho remoto e assim continuarão. Se alguém tiver de se deslocar irá beneficiar de menos tempo de trajeto e, consequentemente, mais tempo liberto para o próprio. Ao contrário, se alguém está em casa, em trabalho remoto, e apesar do esforço, deve mesmo aprender a conciliar tudo porque nunca terá uma oportunidade como esta para gerir tão bem o seu dia a dia;

6) A formação permite focar o futuro e aquilo que importa, abstraindo-se, na medida do possível, do frenesim das notícias diárias, do sensacionalismo com que se jogam números e das discussões infindáveis sobre se é “assim ou assado”. Sobretudo quando quem discute não o faz intervindo; fá-lo sendo não mais que um mero comentador desportivo dado que as suas ações em nada alteram o curso da realidade, seja ela qual for;

7) Finalmente, mas não menos importante, a formação é uma forma de valorização que engrandece enormemente a autoestima. E sua autoestima não é um brinquedo de somenos importância dado que será um ativo importantíssimo para passar o que se tem a passar e para aguentar o que se tem a aguentar. Experimentem deixar-se levar pela maré negra e a autoestima será sujeita a um maremoto das emoções e, então, ver-se-á a resiliência por um canudo. O fortalecimento mais interessante e que remunera sempre é o da formação. Em payback, em equilíbrio e em criação de oportunidades.

Invista, pois, em formação. Fortaleça-se, pela sua saúde.

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José Crespo de Carvalho

José Crespo de Carvalho

Licenciado em Engenharia (Instituto Superior Técnico), MBA e PhD em Gestão (ISCTE-IUL), José Crespo de Carvalho tem formação em gestão, complementar, no INSEAD (França), no MIT (USA), na Stanford University (USA), na Cranfield University (UK), na RSM (HOL), na AIF (HOL) e no IE (SP). É professor catedrático do ISCTE-IUL, presidente da Comissão Executiva do ISCTE Executive Education e administrador da NEXPONOR. Foi diretor e administrador da formação de executivos da Nova SBE e professor catedrático da Nova SBE (Operations... Ler Mais..

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