Investidores estrangeiros medem em França o ‘spread Le Pen’

O investimento estrangeiro direto em França está a crescer e nos níveis mais elevados dos últimos oito anos, com os investidores alemães a ocuparem o topo da lista.
As eleições presidenciais francesas que se aproximam estão a preocupar os investidores financeiros estrangeiros em França, particularmente os investidores em títulos de dívida, ou seja, aqueles que investem em papéis da dívida pública e ou privada francesa.
Porquê? “Pela simples razão do populismo nacionalista e xenófobo da Frente Nacional, defendido pela candidata presidencial francesa Marine Le Pen, levar a um cenário que, para os investidores, pode ser quase catastrófico. Se isso acontecesse, não só a própria integração europeia estaria em grande perigo, mas também a dívida francesa ficaria envolta num caos de grandes proporções. Esta última, pelo facto de que Marine Le Pen insiste abertamente na necessidade de que a França ponha o euro rapidamente de lado, o que obviamente geraria toda a espécie de problemas para os titulares de créditos que têm sido concedidos a devedores gauleses e que hoje estão denominados em euros”, escreve no site espanhol El Cronista Emilio J. Cárdenas, ex-embaixador da Argentina nas Nações Unidas.
Por isso, os mercados começam agora a observar a evolução diária do chamado “spread Le Pen”, isto é, a diferença existente entre as taxas dos créditos a prazo de dez anos que foram concedidas a devedores alemães por oposição à taxa correspondente dos devedores franceses.
Falamos de uma espécie de “barómetro de preocupação” que surge quando as circunstâncias políticas geram preocupação. Como sucedeu, por exemplo, com a recente eleição de Donald Trump como atual presidente dos Estados Unidos, circunstância que, no mês de novembro passado, levou os mercados financeiros a operar a dívida francesa com um “spread” que era de 0,3% e subiu velozmente até 0,5%, explica Emilio J. Cárdenas.
Pelo menos até agora, o cenário no mercado de dívida francesa não adquiririu qualquer tom dramático. Porque quase todas as projeções apontam para que a votação em Marine Le Pen seja, na primeira volta, somente da ordem dos 30% e que, além disso, numa possível segunda volta, as suas possibilidades reais de triunfar sejam praticamente inexistentes. Mas se, por algum motivo, essa imagem tranquila do “risco político” se alterasse a favor de Marine Le Pen, as coisas poderiam mudar de imediato muito dramaticamente. O sentimento de possíveis choques financeiros tornaria a assombrar o cenário político francês.
Os resultados das recentes eleições holandesas estão, no entanto, a contribuir significativamente para manter os mercados da dívida francesa num ambiente de relativa tranquilidade, fazendo-se notar que o risco de um suicídio político europeu não está de todo iminente. Talvez por isso também o investimento estrangeiro direto em França está agora, de um modo geral, a crescer e nos níveis mais elevados dos últimos oito anos, com os investidores alemães a ocupar o topo da lista de todos os investidores estrangeiros e, pela primeira vez, à frente dos investidores norte-americanos.
Embora a multiplicidade de opções e os escândalos de corrupção que têm sido colocados no caminho de alguns dos candidatos mais populares tornem difícil prever os resultados finais da eleição em curso, os limites que as sondagens de opinião projetam sobre as opções extremistas sugerem que não vão gerar “terramotos” políticos capazes de alterar o rumo de uma das economias mais importantes da Europa, finaliza Emilio J. Cárdenas.