Opinião
Humor na Liderança
Humor na Liderança foi o tema do mais recente evento do GRACE, desafiando os representantes das empresas associadas a refletir sobre a relevância de adotar uma estratégia que incorpore ingredientes de humor na atuação do gestor.
A questão pode parecer frívola em comparação com outros assuntos da gestão de topo, mas uma segunda análise revela a sua oportunidade e acutilância.
Na Idade Média, o monarca fazia-se sempre acompanhar por um bobo. Mais do que uma personagem excêntrica que assegurava momentos hilariantes, o bobo era uma consciência do líder, a voz crítica que lhe mostrava a realidade, a única pessoa que o podia confrontar com os seus erros.
D. Bibas, personagem de Alexandre Herculano, Rigoletto, protagonista da ópera de Verdi ou o bobo do Rei Lear, desempenhavam um papel fundamental na intriga da corte, contribuindo para manter o monarca consciente do impacto das suas decisões.
O humor do bobo era uma arma usada para controlar o exercício do poder e continua, nos tempos modernos, a desempenhar um papel fundamental para desdramatizar conflitos, aliviar tensões, promover a inclusão e a construção de pontes entre as pessoas e, naturalmente, humanizar os decisores.
O que aprendemos com os oradores do encontro do GRACE foi que um líder com humor consegue encarar os processos de decisão de uma forma mais positiva e estabelecer com os seus colaboradores e colegas uma ligação mais emocional.
Aprendemos também que o humor tem os limites da elegância, do respeito pelo outro, da adequação ao tempo e ao espaço, mas que, dentro destes princípios, não há assuntos tabu e, em todos os momentos da vida humana, pode e deve haver lugar para essa forma inteligente de observar.
No entanto, os líderes de hoje, em todos os níveis e contextos, não possuem bobos e estão, muitas vezes, rodeados de acólitos e assessores subservientes, incapazes de se opor a deliberações erradas.
O risco que hoje corremos com líderes arrogantes, ignorantes ou distantes da realidade é, por isso, acrescido, quando a “corte” que os rodeia tem medo. Medo de perder o emprego, medo de cair em desgraça, medo de perder influência.
O medo é inimigo do humor, porque o humor é uma arma de verdade e, nesse sentido, indispensável em qualquer modelo de liderança.
Na falta de bobos, cada um de nós, na sua organização, deve desempenhar esse papel, usando o humor como canal privilegiado para colocar o dedo na ferida, sugerir a mudança, apontar o desacerto.
Sem receio de ser inconveniente ou polémico, porque afinal, Joane, o bobo de Gil Vicente, escapou à barca do Inferno, precisamente porque era genuíno, verdadeiro e bem intencionado.