Hong Kong prepara-se para acolher primeiro unicórnio

O centro financeiro da Ásia prepara-se para a emergência do primeiro unicórnio, nomeadamente na área do e-commerce. Os empresários franceses encontram em Hong Kong atrações fiscais e uma boa proteção da propriedade intelectual.
Kello é um nome que aparece muito no pequeno mundo de start-ups francesas que se estabeleceram em Hong Kong. Há algumas semanas, a Kello, que está a desenvolver um despertador inteligente, angariou 322 mil dólares (cerca de 304 mil euros) na sua campanha no Kickstarter. Lançada em abril de 2015, a Kello mudou-se para Hong Kong no verão passado e estabeleceu-se no acelerador Brinc.
Mais conhecida pelo seu centro financeiro, a cidade banhada pelo mar da China Meridional depara-se cada vez mais com o aparecimento de casos de sucesso, como a Kello. “Atualmente há cerca de 20 incubadoras e aceleradoras e mais de 40 espaços de cowork“, explica Philippe Bardol, diretor da agência Business France para a área China-Hong Kong.
Em 2014, o escritório de desenvolvimento económico de Hong Kong InvestHK registou cerca de mil start-ups na cidade. Hoje este número cresceu para mais de 2 500, de acordo com WHub, uma plataforma que acompanha a criação de start-ups no seu desenvolvimento. Este dinamismo não escapou à Alibaba que lançou, no final de 2015, um fundo de investimento de 130 milhões de dólares (cerca de 123 milhões de euros) para apoiar start-ups em Hong-Kong.
Porque se encontram as start-ups em Hong Kong? “A fiscalidade é atrativa, a propriedade intelectual é bem protegida e o quadro jurídico, herdado do direito Inglês, é estável. Isso também pode ser uma porta de entrada para a China “, revela Philippe Bardol, citado pelo Les Échos.
“A proximidade com a cidade de Shenzhen tem pesado muito na nossa escolha. Estamos perto das fábricas que produzem plástico e eletrónica, com as quais trabalhamos para a produção do nosso despertador, o que acelera muito as coisas “, diz Antoine Markarian, cofundador e CEO da Kello.
Porque não ir diretamente para Shenzhen, neste caso? “Neste momento, não queremos atingir o mercado chinês, mas a Europa e os Estados Unidos, e o perfil dos nossos clientes finais está mais perto das pessoas de Hong Kong do que daqueles que vivem em Shenzhen, o que nos permite fazer aqui testes. Mais especificamente, com uma das funcionalidades do despertador com Deezer e Spotify, que não é acessível na China Continental “, conta Markarian.
Hong Kong é também um lugar cada vez mais administrado pelas FinTech – convergência do setor bancário-financeiro e da tecnologia. “Temos o Money Service Operator mais rapidamente, quando na Europa levamos vários anos. E uma série de potenciais clientes: há 80 bancos a apenas algumas centenas de metros uns dos outros, para não mencionar todas as instituições financeiras”, diz Aurélien Menant, fundador da Gatecoin, plataforma de intercâmbio de bitcoins.
As FinTech são uma manifestação de uma nova economia tecnológica, partilhada e interligada, na qual os empreendedores e as empresas do setor das tecnologias de informação e comunicação desempenham um papel central. Este segmento de start-ups recorre à tecnologia digital, às redes e ao Big Data, para redesenhar o setor financeiro e oferecer valor acrescentado aos seus clientes.
No entanto, as FinTech não representam mais de 8% das start-ups que têm um endereço em Hong Kong, de acordo com o WHub, comparando com as que estão dedicadas ao e-commerce, que representam um quarto do ecossistema. “O mercado de retalho em Hong Kong não é tão dinâmico, a cidade procura oferecer um serviço de alto valor agregado, melhorando a experiência do utilizador na loja (soluções de realidade virtual, realidade aumentada), o que representa um mercado de teste para novos padrões de consumo”, explica Philippe Bardol.
Em setembro, o Tink Labs levantou 125 milhões de dólares (cerca de 118 milhões de euros). Esta start-up de Hong-Kong propõe aos hotéis um smartphone por quarto, para que os seus clientes possam usar durante a sua estadia na cidade. Uma operação que a valoriza em 500 milhões de dólares. No início de 2016, a Nabs, uma FinTech, tinha angariado 160 milhões de dólares (cerca de 151 milhões de euros) durante uma ronda, tendo sido avaliada em 1 bilião de dólares (mil milhões de euros).
Perante este cenário, o primeiro Unicórnio – uma empresa avaliada em mais de 1 bilião de dólares e não cotada – de Hong Kong pode estar para breve.