Opinião
O gosto pela decisão
Não é fácil decidir na gestão pública.
Uma má decisão pode ter grandes custos. Uma boa decisão pode gerar muitas antipatias. Uma decisão fraca pode trazer-nos forte contestação. Uma decisão forte pode trazer-nos fraca reputação. Todas as decisões envolvem custos, financeiros, políticos, pessoais.
É por tudo isto que não é fácil decidir na gestão pública. Nesse sentido, há quase um convite à inércia, como se esta fosse o mal menor.
Enquanto não se opta por A ou B, mantemos ambos sob expetativa, sem que nenhum nos critique.
Enquanto não escolhemos um caminho, não ouvimos as críticas sobre a nossa escolha.
E há muitas desculpas para não decidir: é preciso estudar mais, é preciso maior debate, é preciso ouvir as pessoas, é preciso testar, experimentar, avaliar – tudo isso serve para não decidir. E exemplos não faltam de pessoas ou processos assim.
Sucede que a não decisão em pouco contribui para o progresso do que quer que seja.
Num mundo tão competitivo, tão concorrencial, em que tudo muda tão depressa, o preço da não decisão é demasiado alto. Nem todas as decisões são boas, nem estou a fazer qualquer elogio da irresponsabilidade, mas a não decisão é, muitas vezes, a maior irresponsabilidade.
Retiro prazer da decisão. Gosto do desafio da escolha, de transformar a realidade, de fazer as reformas que entendo que devem ser feitas. Talvez por isso me tenha decidido a candidatar a uma Câmara Municipal: descobri o gosto de fazer acontecer.
Uma decisão não tem de ser, não pode aliás ser, um capricho, a satisfação de um prazer. Mas a gestão pública responsável não pode estar nas mãos daqueles que temem decidir, daqueles que sofrem a angústia da decisão, daqueles que não conseguem viver a solidão que sempre acompanha a liderança do processo decisório. Daí que o gosto pela decisão seja uma ajuda preciosa na hora de fazer reformas.