Opinião
Gosto do Ronaldo

Há pouco tempo fiz uma pequena publicação, não muito usual em mim, comentando a recente polémica gerada em torno do Cristiano Ronaldo e da sua situação no Manchester United, onde dei uma nota sobre o apreço que tenho pelo jogador em questão.
Pensando um pouco mais sobre o tema, sim é absolutamente verdade que gosto do Cristiano Ronaldo. Para ser sincero gosto muito dele. Assim como gosto de outros tantos como o António Damásio, o António Horta Osório, o José Saramago, a Maria de Medeiros, a Daniela Melchior, a Sara Sampaio, o Alexandro Farto e outros que poderia nomear, mas seguramente esquecendo-me de inúmeros nomes pelo caminho.
Gosto por razões simples. Gosto porque nasci num país pequeno, remetido a uma extremidade de uma grande Europa, onde é comum dizer-se que tudo é bom ou aceitável. O clima, a segurança, a educação, a economia, a comida. Mas por muito que seja bom, ou aceitável, também há muito que não é de todo equiparável aos padrões do resto do Mundo. Quantos de nós não tiveram de sair para outras paragens em busca de melhores oportunidades, melhor formação, mais desenvolvimento pessoal e profissional? E nisso Portugal falha. Falha porque não valoriza como devia os seus talentos, falha porque sistemicamente não consegue adaptar-se às luzes que por vezes aí nascem e potenciar a sua capacidade para o futuro. Falha porque em muitos aspetos a nossa pequenez geográfica vive na mesma dimensão da nossa pequenez intelectual, de mentalidade e visão.
Por isso gosto do Cristiano e dos outros. Porque muitos não tiveram as oportunidades que mereciam à partida, mas decidiram ir atrás do seu sonho de serem os melhores (ou dos melhores) do Mundo nas áreas de trabalho que abraçaram. E mais que tudo, conseguiram.
Não estamos a falar de fenómenos de mediatismo bacoco que, espremendo bem, não passam de influencers das redes sociais. Não, estamos a falar de pessoas que dedicando corpo e alma à sua atividade, investido em si contra inúmeras dificuldades, chegaram ao topo das suas profissões, sendo reconhecidos internacionalmente como os melhores do Mundo em determinado momento (ou pelo menos dos melhores). Venceram a pequenez das suas origens, geográfica e de mentalidade, e singraram entre tubarões melhor preparados e mais apoiados.
Assim, gosto do Ronaldo porque ele mostra que as origens não determinam o destino. Mostra que o talento é importante, mas a dedicação e compromisso conseguem mover montanhas. E não tenho pejo em dizer isso porque, pese a questão de egos maiores ou menores, são estas figuras que colocam Portugal nas bocas do Mundo. Que atraem a curiosidade dos outros povos e se assumem hoje como os nossos “colonos” por esse globo fora.
Em tempos assisti a uma palestra que mostrava como algumas das pessoas melhor sucedidas do Mundo inteiro tinham origens humildes, mas, acima de tudo, provinham de locais onde a esperança há muito que tinha partido. Isso nunca as inibiu de almejar o sucesso que alcançaram. Pelo contrário, motivou-os a serem mais do que lhe estaria predestinado. E isso fez toda a diferença. No fundo como fez o Cristiano.
É por isso que ainda hoje sigo religiosamente os jogos do Manchester United e da nossa Seleção.