Opinião

Fusões de empresas e o desafio da escala competitiva mínima

Franquelim Alves, diretor-geral da 3anglecapital

É bem sabido das debilidades estruturais do tecido empresarial português. O protecionismo do Estado Novo a que sucedeu o processo de nacionalização das maiores empresas nacionais gerou um colossal
efeito de destruição de capital, de que ainda hoje não recuperámos completamente.

Contrariamente a Espanha, em que o processo de transição para a democracia foi, do ponto de vista económico, totalmente pacífico, Portugal sofreu de um processo de intervencionismo revolucionário que desestabilizou completamente o sistema económico e destruiu o capital acumulado pelas empresas.

É por isso que, mesmo ainda hoje, muitas das empresas que conseguiram vingar e alcançar posições de mercado de enorme sucesso e com grande capacidade de competir nos mercados internacionais, sofrem de limitações ao seu crescimento por ainda apresentarem estruturas de capital débeis e, também em muitos casos, estruturas de gestão ainda pouco profissionalizadas.

Vivemos numa época de mutações rápidas e profundas nos modelos económicos empresariais. A revolução digital iniciada nos anos 90 do século passado está agora a atingir uma etapa superior em que as barreiras à entrada de novos concorrentes com  capacidade de alcançar mercados em qualquer parte do mundo exigem agilidade e músculo à gestão das empresas. Os ciclos de venda dos produtos e serviços encurtaram dramaticamente e as soluções disruptivas aliadas à utilização da tecnologia digital são uma constante diária.

Este novo desafio implica músculo financeiro que não pode ser garantido por soluções de financiamento bancário. De facto, esse é o grande problema de muitas empresas que dependem fortemente do financiamento bancário – e quase sempre de curto prazo – para suportar a sua atividade. Ora, é bem evidente que apenas com capitais próprios fortalecidos e capazes de resistir aos embates e aos riscos que a nova realidade económica mundial impõe, as empresas serão capazes de sobreviver.

A escassez de capital acumulado materializa-se, de facto, em estruturas de capital empresariais desequilibradas que são também, muitas vezes, reflexo da fragilidade financeira dos accionistas.

A resposta rápida e eficaz do tecido empresarial português a estas debilidades passa por um acelerado processo de fusões empresariais, tanto mais que a solução de acesso a mercados de capitais é, no presente, muito limitada.

A fusão de empresas contribui para aumentar o valor do conjunto resultante porque, normalmente, se conseguem ganhos de produtividade por optimização da dimensão empresarial, maior poder negocial com os fornecedores  e partilha de estruturas comuns de apoio (compras, finanças, IT, compras, etc.).

Ao nível do capital uma entidade com maior dimensão, maior eficiência e mais rentável é geradora de mais “cashflow” e, automaticamente, tem uma muito maior capacidade de se financiar e de negociar as condições em que o pode fazer.

Frente igualmente crítica nas condições competitivas atuais é o necessário investimento continuado em II&D (Inovação, Investigação e Desenvolvimento) que só empresas bem dimensionadas são capazes de financiar de forma continuada e no longo prazo. Ganhar dimensão e escala através de fusões é uma forma rápida e eficaz de alcançar muito maior capacidade de financiamento do esforço em II&D.

Uma fusão bem sucedida requer um planeamento adequado envolvendo a definição dos termos de execução da operação: valores e forma de pagamento aos várias accionistas, estratégias de fusão das operações e das organizações, equipas de gestão “top e middle” e adequados processos de transição.

O caráter muito personalizado e concentrado da gestão de muitas empresas portuguesas, com acionistas e gestores a confundirem-se frequentemente, tem sido um dos maiores obstáculos á existência de um maior movimento de fusões em Portugal.

Políticas fiscais pro-activas a favor de operações de fusão empresarial seriam um excelente contributo para acelerar um bem necessário processo de ganho de escala empresarial em Portugal. Também a pública IFD (vulgo Banco de Fomento) pode ter uma importante acção pedagógica no terreno de estimação deste processo.

Comentários
Franquelim Alves

Franquelim Alves

Franquelim Alves é managing partner da SIGISFIN (ex-New Finance, Lda.). Anteriormente, foi diretor-geral da 3anglecapital, sociedade especializada em operações de M&A e serviços de “advisory” financeiro. Licenciado em economia, pelo ISEG, detém um MBA em Finanças pela Universidade Católica Portuguesa e o Advanced Management Program da Wharton School of Philadelphia. Desempenhou funções de administração financeira no Grupo Lusomundo e no Grupo Jerónimo Martins. Iniciou a sua carreira na Ernst & Young, onde desempenhou funções de Sócio responsável pela área de... Ler Mais..

Artigos Relacionados