Fundadoras continuam a ser alvo de assédio sexual pelos investidores
Um novo estudo da Y Combinator e de uma start-up revelou que mais de 20% das mulheres fundadoras que já passaram pela aceleradora já foram alvo de assédio sexual.
Quando pensamos no universo das start-ups surge-nos a imagem de um grupo de pessoas que à frente do seu tempo e de olhos postos no futuro. Como tal, e por esta lógica, problemas como o assédio sexual, ou a desigualdade salarial, seriam colocados de parte. Mas a verdade é que continuam a existir.
Recentemente, a aceleradora norte-americana Y Combinar (YC) conjuntamente com a Callisto, uma start-up sem fins lucrativos que luta contra o assédio sexual, decidiram estudar a situação no universo das start-ups, abordando o assunto com base nas relações das fundadoras com os investidores (VCs e business angels). Ao todo, foram enviadas 125 entrevistas às mais de 380 fundadoras que receberem investimento da YC.
Das 88 mulheres que responderam, 19 disseram ter experienciado um ou mais incidentes pouco apropriados com investidores. Destas:
– 18 afirmaram ter havido avanços sexuais indesejados;
– 15 relataram ter sido pressionadas em troca de favores;
– Quatro disseram ter sido vítimas de contacto sexual não desejado.
Quando questionadas sobre o motivo para terem respondido a esta pesquisa, as fundadoras afirmaram que tinham como objetivo proteger outras empreendedoras. No relatório feito pela YC, podem-se ler citações como “queria ter a certeza que as outras fundadoras financiadas por este VC não entrariam em contacto com esta pessoa” ou “queria que as outras pessoas evitassem ser perseguidas pelos mesmos indivíduos”.
Apesar de terem sido alvo de assédio sexual, as inquiridas lesadas disseram não fazer queixa. As razões prendem-se com a proteção da empresa ou o medo de retaliações. “Os VCs penalizariam as mulheres que se chegassem à frente ao deixá-las fora das situações sociais e profissionais e negando-lhes oportunidades de financiamento, o que significa que este comportamento era raramente conhecido”, afirma uma das fundadoras no blog da aceleradora.
As mulheres continuam a ocupar uma fatia bastante reduzida no universo de venture capital e do lado das start-ups e do mundo tecnológico continuam a representar uma pequena percentagem.
Apesar do público-alvo do estudo terem sido fundadoras que passaram pelos programas de aceleração da YC, a aceleradora quis deixar claro na publicação do blog institucional que não tolera este tipo de comportamentos na sua organização e que está a trabalhar, em conjunto com a Callisto, para encontrar novas soluções para as mulheres que são alvo deste tipo de ataques.