Fortaleza de Peniche será incubadora de start-ups

O Grupo Consultivo da Fortaleza de Peniche prevê a criação de um núcleo de atividades e negócios ligados ao Mar, que poderá albergar uma incubadora de empresas e atrair start-ups associadas à indústria do surf e desportos de ondas, pesca, biologia marítima e turismo.

O grupo consultivo nomeado pelo ministro da Cultura para encontrar uma solução para o futuro da Fortaleza de Peniche chegou à conclusão de que este monumento nacional não deve ser parcialmente transformado numa pousada, como previa o Revive, o programa criado pelo Governo tendo em vista a recuperação do património para fins turísticos.

Segundo o documento entregue na segunda-feira passada ao ministro, a fortaleza deve ser, prioritariamente, afectada a um museu, mas a proposta prevê também a existência de restaurante, cafetaria, auditório e posto de turismo cultural.

A Fortaleza de Peniche, cuja construção recua até ao século XVI-XVII, deve grande parte da sua fama a ter guardado a mais infame prisão política do Estado Novo, onde foram presos durante 40 anos os opositores ao regime ditatorial. Foi aqui que se deu a célebre fuga de Álvaro Cunhal, secretário-geral do PCP.

A “afectação prioritária à função museológica”, acrescenta o documento de 14 páginas, passa por um projeto capaz de se afirmar “como testemunho vivo da repressão nas prisões do regime fascista, mas também da luta pela liberdade e a democracia”, permitindo “sobretudo às novas gerações um contacto direto, pedagogicamente orientado, com essas realidades e memórias”. Ao mesmo tempo, “a recuperação e requalificação da Fortaleza de Peniche para esse fim é um acto de justiça”.

O museu terá “uma dimensão nacional”, mas para já é prematuro definir se o termo significa a sua integração no organismo da Cultura responsável pelos museus nacionais, que é a Direcção-Geral do Património Cultural.

Para o modelo de gestão, o grupo defende “a criação de uma entidade gestora” da fortaleza, com “modelo e mandato legal” definidos, que tenha a “participação da administração central, local e outras entidades”. Pediu também a designação “de uma comissão específica para a instalação do núcleo museológico”.

O presidente da Câmara Municipal de Peniche, António José Correia, avançou ao Público que o documento apresentado ao ministro pelo grupo de trabalho foi aprovado por unanimidade. A expectativa deste independente eleito pela CDU (PCP e Os Verdes), que está no seu último mandato, é que seja anunciada alguma coisa ainda em abril, no mês da liberdade, a partir do “conjunto de pistas de utilização” avançado pelo grupo de trabalho. Mas avisa: “Sem dinheiro não se compram melões.”

“O grupo fez uma proposta ao ministro. Para lá do que o grupo propôs fazer, estou expectante com o que o Governo quer fazer. Ou seja, o que vai fazer com base nos contributos que recebeu.” A unanimidade que o grupo foi capaz de encontrar, ressalva, não se reflectiu na Câmara Municipal de Peniche, onde o PSD votou contra a proposta apresentada no documento — por “não dar qualquer garantia de financiamento” e “não deixar claro” que entidades assumirão a gestão, justificou à Lusa o vereador social-democrata Filipe de Matos Sales.

Acualmente, apesar de aí estar instalado o Museu Municipal de Peniche, com um núcleo dedicado à resistência ao fascismo e outro às artes da pesca, a Fortaleza de Peniche apresenta partes muito degradadas. Num orçamento preliminar feito no passado, a Câmara de Peniche avançava com 5,5 milhões de euros só para obras de conservação.

O projeto museológico, defende o grupo, deve incluir as diversas fases históricas da fortaleza e abrir-se à “criação de um núcleo de actividades e negócios ligados ao mar”, albergando, nomeadamente, “uma incubadora de empresas ligada à economia do mar, atraindo star- tups associadas à indústria do surf e desportos de ondas, pesca, biologia marítima e turismo”.

Sobre a vertente tecnológica ou das start-ups ligadas ao mar, o ministro da Cultura diz que “há muitas ideias”, mas que os dois grandes objetivos do Ministério da Cultura são “o museu” e “a conservação do monumento, que tem a ver com a fortaleza seiscentista e com a memória da resistência contra o fascismo e a luta pela liberdade”. “A parte cientifica-tecnológica e a das start-ups ligadas ao mar são ideias excelentes, mas isso é melhor perguntar aos meus colegas da ciência e da economia, porque todos os planos são bem-vindos.”

 

 

 

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