Opinião

Formação ao longo da vida

Belén de Vicente, CEO da Medical Port

Tenho a sorte de trabalhar desde há mais de 15 anos no setor da Educação. Especificamente na formação pós-graduada. A formação que é realizada quando já existe experiência profissional está intimamente ligada a uma necessidade de atualização de conhecimento, de competências e de destrezas.

Pode também estar associada a uma promoção de carreira, mas em muitas profissões esta necessidade de atualização existe ao longo da vida e não pontualmente. Este tipo de formação continuada é vista como um processo sem fim que acompanha o indivíduo no seu percurso profissional.

A saúde é a área onde este termo tem a sua maior aplicação, porque se há um setor onde o estar atualizado no “saber fazer bem” faz a diferença, este é a saúde. O que está em causa é a vida. Em gestão podemos enganar-nos na projeção de um plano de negócios, ou no lançamento de um produto, com consequências financeiras graves para a empresa. As consequências de um erro em saúde podem custar vidas. Se alguém não tinha clara a importância da formação dos profissionais de saúde, penso que nos últimos meses ficou esclarecido. Outra profissão onde o erro pode ser fatal é a aviação.

Faz assim sentido que nestas profissões se fale de formação ao longo da vida. A base desta é que o indivíduo fique cada vez mais capacitado e mais competente para fazer face aos desafios que se lhe colocam profissionalmente, tendo um maior controlo sobre as suas ações, face às novas situações com que se depara. Se este processo for feito de forma sistemática, o individuo acaba por ser capaz de exercer com qualidade a sua profissão e por se diferenciar dos seus pares, destacando-se.

Para que a formação ao longo da vida seja realmente eficaz e dê resposta aos profissionais que dela precisam é necessário, do meu ponto de vista, que se verifiquem três aspetos que determinarão o seu sucesso:

Em primeiro lugar tem de dar resposta às necessidades reais dos profissionais. Esta afirmação parece óbvia, mas algumas vezes quem desenha a formação não está no terreno e desconhece as preocupações e dificuldades do dia a dia. É assim muito importante que se recorra aos mais experientes para saber o que é necessário ensinar e que ao mesmo tempo se pergunte aos mais novos o que precisam de aprender. Este é um processo que deve ser sistemático, profissionalizado e isento.

Segundo, tem de ser baseada na prática de competências. Em muitas profissões realizar treinos práticos está intimamente ligado a ter acesso à tecnologia que é utilizada no desempenho das atividades e poder integrar um ciclo de teste-erro até que se domine a utilização da técnica ou da ferramenta. É relevante que exista tempo para poder fazer esta aprendizagem de habilidades e destrezas. Este tempo tem de ser promovido e respeitado pelas instituições responsáveis por estes profissionais, sendo reconhecido como indispensável.

Por último, da mesma forma que a capacidade para começar a exercer uma profissão é atribuída pela entidade (Escola, Faculdade, etc.) que avalia que as competências básicas necessárias foram adquiridas, entregando para este efeito um diploma que atesta este facto, a capacidade para poder continuar a exercer uma profissão também deve ser formalmente assegurada por uma entidade idónea. Neste âmbito só algumas profissões têm processos de validação ou certificação em funcionamento que dão essa garantia.

Para além do trabalho que se possa fazer nestas vertentes, há um factor que me parece relevante desenvolver desde a infância, independentemente de qual seja a profissão que o indivíduo venha a desempenhar na sua vida, que é o gosto por aprender, por saber mais. Por querer continuar a aprender ao longo da vida. Cabe-nos também a nós, gestores, potenciar e incutir este comportamento nas nossas organizações.

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Belén de Vicente

Belén de Vicente

Belén de Vicente é fundadora e diretora geral da Medical Port, a porta de entrada para cuidados médicos em Portugal, para quem vem de outros países. É também fundadora da Stuward Health. Foi diretora do MBA Lisbon, contando com mais de 20 anos de experiência em consultoria de gestão na Península Ibérica e na gestão de parcerias internacionais nos setores do Ensino Superior e da Saúde. É apaixonada por projetos desafiantes que envolvam transformações com pessoas e para pessoas.

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