Opinião
Foi o grupo que me levou a Santiago de Compostela
Depois de vários adiamentos provocados pela pandemia, mas sem nunca perdermos o entusiasmo, chegou o dia de partirmos para Santiago de Compostela! Oito pessoas, entre os 35 e os 64 anos, com diferentes backgrounds e das quais algumas se tinham acabado de conhecer, tínhamos pela frente cerca de 130 kms para percorrer e trazíamos três meses de preparação disciplinada. Portanto, um grupo diverso, como na vida…
No final, uma confirmação: para além das private jokes, que sempre ficam destas experiências, e de momentos e emoções inesquecíveis, o Caminho é uma excelente jornada para recolher insights que podemos transpor para o nosso dia a dia pessoal e profissional.
- Um Propósito partilhado por todos
Quando nos juntámos a pensar nesta aventura, foi claro o que nos unia: o desejo de crescimento e superação pessoal, partilhando em grupo esta experiência e as dificuldades que o Caminho nos trouxesse.
- Um objetivo comum
Também aqui foi fácil encontrarmos o resultado esperado: chegar a Santiago, sem deixar ninguém para trás e mais coesos enquanto grupo. E sem muitas mazelas nos pés, para conseguirmos encontrar o restaurante onde teríamos um jantar especial… Ter uma meta, um output muito claro e que, no final, todos podemos verificar se foi alcançado é essencial quando juntamos uma equipa para atingir algo.
- Um plano definido
Esta odisseia implicou definir um calendário, um orçamento, quais as etapas a percorrer, assegurar apoio logístico, caminhadas ao fim-de-semana para nos prepararmos; enfim, foi necessário criar as condições que nos permitiriam atingir o nosso objetivo. Esta é uma das missões mais relevantes na liderança de equipas e, juntamente com o assegurar de que cada um tem o que precisa para avançar, deveria ser uma das nossas prioridades.
- Uma equipa coesa
Cedo percebemos que cada um de nós teria um papel distinto durante o Caminho. E as responsabilidades foram atribuídas consoante as competências e preferências de cada um: o gestor de projeto, que atualizava o Excel com o mapeamento dos temas (há sempre um “famoso” excel…); o treinador, que definia os trilhos para a preparação física; o responsável pelas operações, que garantia que as mochilas chegavam ao destino e que havia comida para todos; o financeiro, que controlava as contas e o cumprimento do orçamento; até ao enfermeiro, que sabia todos os truques para curar as dores e maleitas do Caminho. Tudo foi garantido, num espírito de colaboração sempre presente. Como nas equipas profissionais, a riqueza está na diversidade e em criar o espaço para cada um dar o que de melhor tem para dar e para pôr em prática as suas competências ou partilhar experiências anteriores.
- Um ritmo equilibrado
Ao longo do Caminho, convivemos com os diferentes ritmos de cada um – dos “despachados”, que às 6 da manhã já tinham uma energia de fazer inveja, aos mais tranquilos que queriam vivenciar todos os detalhes do Caminho com calma. Mas chegámos sempre juntos ao final de cada etapa. Esta aprendizagem de respeitar o ritmo de cada um, de avançar e marcar o ritmo, mas ao mesmo tempo esperar pelos que vêm mais devagar, caminhar por vezes sozinhos, outras em grupo, mas sem nunca pôr em causa o objetivo, foi um exercício de humildade e de companheirismo muitíssimo rico e uma lição para transpor para o nosso dia a dia.
- “Alimentar” o grupo
Pelo esforço exigido no Caminho, a comida tem um papel muito relevante ao longo dos dias. E está presente em muitos momentos. Parar para comer tem vários objetivos: descansar, aquecer, aguardar pelos que vêm mais atrás, olhar uns pelos outros e ver como estamos, celebrar a distância já percorrida, comer, ganhar novas energias e recomeçar! Durante esta viagem, alarguei muito o meu conceito de “alimentar” uma equipa, que passou a significar tudo isto – parar para ver se todos têm “o alimento” (leia-se, “as condições”) para continuar a jornada. E fazê-lo regularmente.
- Ultrapassar as adversidades
Houve momentos em que alguns pensaram desistir, dias em que o caminho parecia não ter fim, etapas em que os pés davam sinais de cansaço excessivo. Estes foram os nossos “momentos de verdade”. E aqui, o poder do grupo foi imenso. A entreajuda, o respeitar o tempo individual, mas sem nunca perder o foco no objetivo final, ou o humor que sempre alguém mostra na altura certa, foram fundamentais. E várias vezes recordar, repetir o nosso Propósito foi o que nos guiou até Santiago: nós propusemo-nos viver juntos esta experiência e é juntos que o vamos conseguir. Quando temos obstáculos difíceis para ultrapassar, nas nossas vidas ou empresas, é na raiz do que nos une, no nosso Propósito, que encontramos o guia para as decisões difíceis.
- Celebrar
Chegarmos todos juntos a Santiago foi uma emoção! Aquele abraço e o “Conseguimos!!” mostrou a força que uma equipa tem quando se propõe alcançar um objetivo difícil. As vitórias são para ser celebradas, em equipa, com estrondo, com emoção! Para construir memórias! Terminámos o Caminho com “O” jantar a que tínhamos direito (para compensarmos os bocadillos do caminho)! E ali partilhámos o que o Caminho tinha sido para cada um e sentimos que saímos mais fortes desta experiência. Para uns espiritualmente, para outros humanamente.
Ainda hoje, quando recordo estes dias, me parece quase impossível ter feito, a pé, mais de 130 kms. Há quatro meses, este era um objetivo irrealista para mim. Hoje é uma história para contar e inspirar outros a vivê-la. E tudo isto devo ao grupo. Sim, foi o grupo que me levou a Santiago.