Fintech Ebury inicia a saída de Londres devido ao Brexit

Fundada em 2009 e com cerca de 400 funcionários, a Ebury há muito tempo que deixou de ser uma pequena ‘start-up’. Por agora, mantém a sua sede em Londres, mas está a reforçar a sua equipa em Madrid. O seu novo escritório na capital aloja já 160 trabalhadores e continua a crescer.

A ameaça do Brexit começa a ter consequências no setor financeiro. Uma das empresas de referência neste setor é a Ebury, uma empresa fundada em Londres por dois engenheiros espanhóis (com experiência na McKinsey e na banca de investimento). A Ebury é uma fintech inglesa especializada em pagamentos e transferências internacionais.

“Desde o exato momento em que foi anunciado o ‘sim’ do Brexit, começámos a estudar alternativas para localizar a nossa sede social”, comenta Salvador García, cofundador e conselheiro delegado da Ebury ao Expansión. A decisão final, afirma, dependerá “das condições regulatórias”.

As mudanças mais imediatas acontecem no plano organizativo. A Ebury decidiu mudar a maior parte da equipa de Londres para Madrid. Na atualidade, cerca de 200 funcionário da Ebury trabalham na capital britânica, dos quais “várias dezenas”, de departamentos como Dados e Riscos, serão realojados nas próximas semanas em Madrid.

Além disso, estes escritórios acolherão a maioria das novas incorporações da empresa. Inauguradas no passado mês de fevereiro, no Paseo de la Castellana, acolhem já 160 trabalhadores, “e há espaço para mais quarenta ou cinquenta”, acrescenta García.

Não se preveem transferências das equipas de desenvolvimento tecnológico, localizadas desde o primeiro momento em Málaga. Também se manterão – e ampliarão em alguns casos – os escritórios comerciais locais, que a empresa possui em cidades como Paris, Amsterdão, Varsóvia, Atenas ou Zurique.

Razões para esta repatriação de talento não lhes faltam. O Brexit é uma, como também é a facilidade de captar talento bem preparado e mais barato do que em Londres. “O setor fintech torna-se muito atrativo para uma geração de jovens espanhóis que procura uma projeção na carreira que as grandes corporações, sobretudo as de mercados em queda, não lhes podem oferecer”, comenta García.

A Ebury prevê faturar neste exercício (que encerra em abril) 40 milhões de libras (cerca de 46 milhões de euros), o que representa um crescimento de 40% num ano. Na sua última ronda de financiamento, a Ebury captou 83 milhões de dólares (perto de 77 milhões de euros) de vários investidores internacionais.

“Depois do Brexit, Londres continuará a ser forte financeiramente, embora vejamos alguns grandes bancos a abandonar o país. Para nós, o Reino Unido é mais um mercado. Somos um negócio com vocação global; instalaremos a empresa onde a regulação for mais favorável”, afirma este empreendedor, que destaca positivamente o efeito que terá no setor financeiro a nova diretiva europeia de pagamentos.

A Ebury está também em Portugal desde 2015 e já se tornou parceira de cerca de 150 empresas nacionais, sobretudo no Norte de Portugal. São sobretudo empresas do setor têxtil, agências de viagens, de produção de componentes de automóvel e de IT que recorrem aos seus serviços financeiros.

Será Londres a capital da ‘fintech’?

A liderança financeira de Londres está em questão por causa do Brexit. Numa recente entrevista ao Expansión, o especialista em regulação financeira Ross Bucley recordava que “o mercado financeiro europeu não nasceu em Inglaterra, mas em Zurique. Não há razão para pensar que não pode voltar a esta cidade ou a Frankfurt, por exemplo”.

Para Salvador García, da Ebury, ainda não está claro que país ou cidade poderia tomar a relevância de Londres. García é da opinião que o Reino Unido continuará a ser forte no setor financeiro, apesar da previsível fuga de algumas grandes entidades, e assegura que “não só Madrid, mas também Paris, Berlim… São muitos os países que estão a tentar atrair ‘start-up’ deste setor. É uma carreira na qual todos querem competir”.

 

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