Fintech com mais 21% de receitas que o setor financeiro tradicional

Inovação, tecnologia, regulamentação ágil e cooperação entre atores são imperativos estratégicos para acelerar a indústria de fintech, conclui estudo da BCG e da QED Investors.

As receitas do setor fintech cresceram 21% em 2024, uma subida de 8% face ao ano anterior e cerca de três vezes mais do que no setor financeiro tradicional, que registou um aumento de 6%. A constatação é do “Global Fintech 2025: Fintech’s Next Chapter: Scaled Winners and Emerging Disruptors“, um estudo que resultou da parceria entre a Boston Consulting Group (BCG) e a QED Investors.

Segundo o estudo, o desempenho positivo é impulsionado por uma nova classe de fintechs em escala, constituída por empresas com receitas anuais iguais ou superiores a 500 milhões de dólares. Globalmente, já representam cerca de 60% das receitas totais do setor, o que corresponde a 231 mil milhões de dólares.

O “Global Fintech 2025: Fintech’s Next Chapter: Scaled Winners and Emerging Disruptors”, salienta que setor global das fintech está a entrar numa nova fase de maturidade. Apesar do crescimento acelerado, estas empresas continuam a representar apenas 3% das receitas globais do setor financeiro, revelando lacunas verticais e geográficas.

Do ponto de vista vertical, o crescimento das receitas foi impulsionado, em grande parte, por soluções de pagamento, que totalizam 126 mil milhões de dólares, com especial destaque para as carteiras digitais. Os neobancos somam 27 mil milhões de dólares, enquanto a corretagem de criptomoedas no retalho corresponde a 16 mil milhões de dólares. Além destes, e embora constitua apenas 8 mil milhões de dólares das receitas globais, o vertical dos credores Buy Now Pay Later (BNPL) tem vindo a destacar-se, com um crescimento anual de 42%.

No âmbito geográfico, os Estados Unidos mantêm a liderança do setor, concentrando 52% das receitas globais, com cerca de 120 mil milhões de dólares. Com 16%, a China surge imediatamente a seguir, impulsionada pela dimensão do mercado e pelo sucesso das super apps tecnológicas.

A região Ásia-Pacífico (excluindo a China) e a América Latina representam cerca de 10% das receitas cada. Já a Europa responde apenas por 8% das receitas do setor, reflexo da fragmentação regulatória e heterogeneidade cultural que dificulta a escalabilidade das fintechs. Por sua vez, o Médio Oriente e a África estão ainda numa fase embrionária da trajetória de crescimento, representando menos de 1% das receitas totais.

A pesquisa da BCG e da QED Investors indica que os modelos B2B2X, infraestrutura financeira e créditos serão responsáveis pela próxima vaga de crescimento das fintechs e que os agentes de Inteligência Artificial (IA) e a tokenização de ativos são tendências a longo prazo.

Revela ainda que, nos próximos anos, o setor financeiro será impulsionado por quatro grandes tendências tecnológicas e estratégicas, sendo a mais promissora a que assenta na adoção da IA agentiva, baseada em agentes de IA autónomos, que permitirá às empresas ganhar eficiência e velocidade de entrega. Neste contexto, e embora representem apenas 23% do mercado, as fintechs alimentadas por IA captam 49% do financiamento total do setor, o que reflete a forte aposta dos investidores nesta nova geração tecnológica.

As finanças onchain, sustentadas por blockchain, têm também um forte potencial disruptivo e deverão impulsionar o setor, particularmente através da tokenização de ativos ilíquidos, como obrigações ou imobiliário. No entanto, o seu crescimento dependerá da evolução da regulação e da normalização das infraestruturas tecnológicas.

No que respeita aos modelos de negócio, os neobancos deverão manter o seu crescimento, mas a expansão internacional permanece limitada por barreiras regulatórias e pela concorrência intensa, tanto de bancos tradicionais como outros neobancos. Por último, o crédito às fintech está a afirmar-se como uma tendência emergente, graças ao amadurecimento dos modelos de risco e à entrada de fundos de crédito privado.

Comentários

Artigos Relacionados