Filhos de trabalhadores não qualificados têm maior probabilidade de virem a ser pobres

Uma em cada quatro pessoas que cresceram numa família com baixos recursos financeiros é pobre, conclui estudo publicado pela Fundação “la Caixa”, o BPI e a Nova SBE.

Filhos de trabalhadores não qualificados têm uma taxa de risco de pobreza três vezes maior do que os filhos de especialistas das atividades intelectuais. A conclusão é do relatório “Portugal e o Elevador Social: Nascer pobre é uma fatalidade?”, uma nota complementar do projeto Portugal, Balanço Social, da autoria de Bruno P. Carvalho, Miguel Fonseca e Susana Peralta, do Nova SBE Economics for Policy Knowledge Center, que foi publicado pela Fundação “la Caixa”, o BPI e a Nova SBE.

O relatório analisa a transmissão da pobreza de pais para filhos e discute os vários motivos que a podem desencadear: nível de escolaridade, situação laboral; composição do agregado familiar e outras situações sociodemográficas (como por exemplo nacionalidade e privação material).

Segundo o estudo, a escolaridade do pai tem um impacto determinante na situação de pobreza dos filhos quando adultos. As pessoas cujo pai completou apenas o ensino básico são duas vezes mais afetadas pela pobreza do que aquelas cujo pai completou o ensino secundário. Entre os adultos cujo pai tinha ensino básico, apenas 20% completam o ensino superior; esta percentagem sobe para 58,5% e 75,6% para adultos com pais com ensino secundário ou superior, respetivamente. Assim, ‘ter um pai com ensino superior quase quadruplica a probabilidade de um adulto ter ensino superior’.

No que se refere à situação laboral, o estudo revela que um em cada quatro adultos que, aos 14 anos, tinham um pai desempregado é pobre. Isto sugere que ‘a situação laboral dos pais é determinante para a situação de pobreza dos filhos, quando atingem a idade adulta’.  A profissão dos pais também é relevante: filhos de agricultores e de trabalhadores não qualificados têm uma taxa de risco de pobreza três vezes maior do que os filhos de especialistas das atividades intelectuais (22% e 7%, respetivamente).

No que diz respeito à composição do agregado familiar, os adultos oriundos de famílias monoparentais têm uma probabilidade de 20% de ser pobres. Para os adultos que, aos 14 anos, viviam em famílias numerosas, esta probabilidade é de 23%. As pessoas adultas que não viviam com o pai aos 14 anos têm uma taxa de pobreza de 17%, que aumenta para 23% quando não tinham contacto com o pai.

A situação financeira do agregado também é um determinante importante da transmissão intergeracional da pobreza. Uma em cada quatro pessoas que cresceu num agregado com uma má situação financeira é pobre. Para além disso, um em cada três adultos cuja família não conseguia satisfazer as suas necessidades de material escolar aos 14 anos é hoje pobre (nos adultos cuja família conseguia satisfazer estas necessidades a taxa de pobreza baixa para metade). Os adultos cujas famílias não conseguiam garantir uma refeição proteica diária enfrentam uma taxa de pobreza de 22%, mais do dobro da verificada nas restantes famílias (10%).

Uma comparação entre as gerações nascidas nas décadas de 60, 70 e 80 indica que os adultos que viviam, aos 14 anos, em agregados com boa situação financeira têm taxas de pobreza entre 11% e 13%, independentemente da década em que nasceram. Para os adultos que viviam em agregados com má situação financeira, as taxas de pobreza variam entre 22% e 24%. Assim, a diferença na taxa de pobreza dos adultos que viviam, aos 14 anos, em agregados com boa ou má situação financeira é sistematicamente de entre 11 e 12 pontos percentuais, independentemente da geração considerada. “Logo, não há evidência de que a transmissão intergeracional de pobreza esteja a diminuir”, revelam os investigadores.

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