Opinião
Explosão de Inteligência — Parte 2/3

Alucinação! Poderão as “alucinações” gerar um mundo alternativo, profetizando a inverdade?
No momento em que escrevo este artigo, a NVIDIA(*) supera as expectativas de Wall Street. A empresa, sedeada em Santa Clara, Califórnia, acabou de se juntar ao clube exclusivo das apenas cinco empresas no mundo avaliadas em mais de um trilião de dólares [Apple (2.7T), Microsoft (2.4T), Saudi Aramco (2T), Alphabet/Google (1.5T) e Amazon (1.2T)], depois das suas acções subiram quase 25% num único dia! Sinal claro de como a ampla utilização da Inteligência Artificial (IA) pode remodelar drasticamente o sector da tecnologia.
A Intel anunciou um ambicioso plano de desenvolvimento de IAs generativas científicas, projectadas com um trilião de parâmetros. Esses modelos serão treinados em diversos tipos de dados, incluindo textos gerais, código e informações científicas. Em comparação, o GPT-3, desenvolvido pela OpenAI, possui 175 biliões de parâmetros (o tamanho do GPT-4 ainda não foi divulgado pela OpenAI). A empresa de semicondutores tem como foco principal a aplicação dessas IAs no estudo de áreas como biologia, medicina, clima, cosmologia, química e desenvolvimento de novos materiais. Para alcançar esse objectivo, a Intel planeia lançar um novo supercomputador chamado Aurora, com capacidade de processamento superior a dois EXAFLOPS(**), ainda neste ano.
Os Centros de Dados (Data Centers) do mundo precisam passar por uma transformação devido à revolução que virá com as tecnologias de IA.
O comboio da IA já arrancou e antes de entrar em velocidade de cruzeiro, fará algumas paragens para permitir que entrem, qual Arca de Noé, todas as espécies de negócios. Nesta fase, é crucial ter todas as “espécies” na corrida, por forma a garantir uma mais democrática e diversificada… Inteligência.
Uma vez em velocidade de cruzeiro, atingimos o ponto sem retorno. Escolhas e decisões sensatas precisam-se antes disso! No fundo, é o futuro da humanidade que está em jogo.
A OpenAI propõe a criação de um órgão internacional dedicado à regulamentação das Inteligências Artificiais. A organização acredita que nos próximos dez anos é possível que os sistemas de IA ultrapassem o nível de habilidade de especialistas em diversos domínios. Diante desse cenário, surge a necessidade de realizar estudos sobre a governança de uma Superinteligência, considerada pela OpenAI como a tecnologia mais poderosa já desenvolvida pela humanidade.
Portanto, a proposta é estabelecer um órgão internacional para lidar com os desafios e questões éticas envolvidas no avanço das IAs, a fim de garantir a sua utilização responsável e benefícios para a sociedade como um todo.
Parece uma alucinação, mas não! É bem real.
Mas hoje, nesta 2.ª parte da “Explosão de Inteligência”, venho falar de outro tipo de alucinação.
A Alucinação da Máquina!
A explosão da IA é um dos fenómenos mais significativos da era digital. Chamo-lhe explosão pela rapidez com que (finalmente) surgiu após estar em “banho-maria” por tanto tempo. O impacto mundial é impressionante, denotando uma aceitação generalizada, não obstante, a usual resistência fruto do receio do desconhecido natural do ser humano.
É interessante notar as sucessivas “explosões por simpatia”, provenientes das ondas de choque das explosões principais! Esperemos que este aumento de energia cinética não provoque a decomposição do explosivo (IA) em si.
Explosões por simpatia dão-se quando um explosivo é atingido pela onda de choque que provoca um aumento de energia cinética e subsequente decomposição do explosivo.
Até ao momento, tem sido um processo controlado de liberação de grandes quantidades de informação, mas quando a intensificação da onda de choque tiver lugar, qual Efeito de Munroe-Newmann, as coisas vão aquecer muito. Muito mesmo!
Nos últimos anos, a IA tornou-se uma parte cada vez mais importante da vida moderna, desde sistemas de recomendação de produtos até aos assistentes pessoais (aquilo a que há mais de uma década tento fazer vir à luz do dia com o Projecto ETER9, que apelidei de “contrapartes digitais”). O próprio Bill Gates, afirmou há dias que os agentes digitais (contrapartes) vão mudar radicalmente a Internet, transformando assim os modelos existentes de negócios ou tecnologias estabelecidas.
O antigo CEO da Google, Eric Schmidt, também já o tinha dito na Collision Conference em 2022: — Os humanos terão em breve um Segundo Eu (contraparte), feito pela Inteligência Artificial.
O sucesso da IA pode ser atribuído em grande parte aos modelos de aprendizagem, como a Aprendizagem Profunda (Deep Learning), que são capazes de processar grandes quantidades de dados e extrair padrões complexos. No entanto, com o aumento da complexidade desses modelos, surgem também novos desafios, como a “alucinação”.
Os modelos de Aprendizagem Profunda são um subconjunto de algoritmos de IA que utilizam redes neuronais para aprender a partir de grandes conjuntos de dados. Esses modelos são capazes de processar informações em diferentes camadas, permitindo a extracção de padrões complexos e a criação de novos conhecimentos. Por exemplo, uma rede neuronal treinada num conjunto de imagens pode aprender a identificar objectos em novas imagens com alta precisão. No entanto, esses modelos também têm algumas limitações, como a tendência à alucinação.
A alucinação é um fenómeno que ocorre quando um modelo de IA é treinado num conjunto de dados com informações incompletas ou imprecisas. Quando o modelo é exposto a novos dados, ele pode criar informações inexistentes com base em suposições incorrectas. Por exemplo, se um modelo de IA for treinado num conjunto de imagens de gatos, mas nunca vir um gato preto, ele pode criar um gato preto com base em informações incompletas. Isso pode levar a resultados imprecisos ou até mesmo perigosos, especialmente quando se trata de aplicações críticas, como sistemas médicos ou de segurança.
Para evitar a alucinação, os especialistas em IA estão a explorar novas técnicas de aprendizagem, como a aprendizagem adversarial, onde dois modelos de IA são treinados simultaneamente para criar um equilíbrio de poder e evitar a alucinação. Além disso, os especialistas também estão a trabalhar em modelos de interpretabilidade, que permitem que os utilizadores entendam como um modelo de IA chegou a uma decisão específica, facilitando identificar e corrigir informações incorrectas.
Apesar dos desafios da Alucinação da Máquina, a IA continua a evoluir e a tornar-se cada vez mais importante para a sociedade moderna. Os modelos de Aprendizagem Profunda estão a ser utilizados numa ampla gama de aplicações, desde assistentes pessoais até aos carros autónomos. À medida que a IA continua a evoluir, é importante que os especialistas continuem a explorar novas técnicas para melhorar a precisão e a confiabilidade dos modelos, para poderem ser usados com segurança em aplicações críticas.
Estou convicto que a alucinação será temporária, um “mero” efeito secundário da aprendizagem. Ainda assim, importa referir que neste processo (aprendizagem da máquina), a alucinação representa a criação de novos dados que nunca existiram antes, criando um paradoxo do que é real (verdadeiro) e do que é falso (alucinação, logo também real para a máquina e subsequente utilizador).
Não esqueçamos nunca: — Enquanto o ser humano dominar as IAs, criando-as e treinando-as, não existe perigo maior. Mas não tenhamos dúvidas, estamos todos a contribuir para a criação da Caixa de Pandora. Resistiremos à sua abertura? Ao contrário da mitologia grega, quero acreditar que, ao ser aberta, a Caixa não conterá apenas “ventos e tempestades”, mas a essência humana, não obstante, ironicamente, vir da máquina!
P.S. A propósito das alucinações da máquina, uma pequena recomendação para alunos que usem o ChatGPT (ou equivalente). Usem, mas certifiquem-se de que os resultados não são alucinações. O que quero dizer com isto? Usem as ferramentas de IA, sim, mas usem mais o vosso cérebro!
Acredito que alguns professores irão criar um novo carimbo, “ALUCINADO” a vermelho, para classificar os testes dos alunos que usem apenas o “cérebro alucinado” de uma máquina, em vez dos seus próprios cérebros.
(*) Proponho a leitura da Parte 1/3 da “Explosão de Inteligência“, para melhor entendimento da minha referência à NVIDIA.
(**) EXAFLOPS é uma unidade de medida utilizada para expressar a capacidade de processamento de um computador, neste caso de um supercomputador, em termos de operações de vírgula flutuante por segundo. O prefixo “EXA” indica um valor igual a 10 elevado à 18ª potência. O “FLOPS” é uma abreviação para operações de vírgula flutuante por segundo (FLoating-point Operations Per Second). A taxa na qual um sistema executa um FLOP em segundos é medida em EXAFLOPS.
Portanto, quando mencionamos “dois EXAFLOPS”, estamos a falar de um supercomputador capaz de realizar aproximadamente dois biliões de operações de vírgula flutuante por segundo. Esta medida é utilizada para avaliar a velocidade e o desempenho do supercomputador em termos de cálculos intensivos, como simulações complexas, modelação climática, análise de dados em larga escala e outros tipos de processamento computacionalmente intensivo. Ter um supercomputador com essa capacidade representa um avanço significativo no poder de processamento e abre possibilidades para resolver problemas científicos e tecnológicos cada vez mais desafiantes.
Nota: Este artigo não obedece, propositadamente, ao Novo Acordo Ortográfico.
Empreendedor, Programador e Analista de Sistemas, Henrique Jorge é o fundador e CEO da ETER9 Corporation, uma rede social que conta com a Inteligência Artificial como elemento central, e que atualmente está em fase BETA.
Desde sempre ligado ao mundo da tecnologia, esteve presente no início da revolução da Internet e ficou conhecido pela introdução da Internet e das tecnologias que lhe estão associadas em Portugal, sendo um dos pioneiros nessa área.
Passando por vários episódios de desconstrução e exploração das linguagens dos computadores, chegou à criação da rede social ETER9, um projeto que tem conhecido projeção internacional, e que ambiciona ser muito mais que uma simples rede social. Através de Inteligência Artificial (IA) pretende construir a ponte entre o digital e o orgânico, permitindo a todos deixar um legado digital ativo no ciberespaço, inclusive pela eternidade. Fora do espaço virtual, é casado, pai de duas filhas, e “devora” livros.