Opinião

Explosão de Inteligência — Parte 1/3

Henrique Jorge, fundador e CEO da ETER9

O fenómeno GPT e o futuro da humanidade perante os avanços da Inteligência Artificial. A era da Inteligência Artificial é uma realidade cada vez mais presente no quotidiano de todos nós.

Com a ascensão de tecnologias como a linguagem natural e as redes neuronais, veio a possibilidade de criar máquinas capazes de realizar tarefas que antes eram exclusivas do ser humano.

Uma dessas tecnologias é o Generative Pre-trained Transformer, mais conhecido por GPT; ou seja, um Transformador Generativo Pré-Treinado. Trata-se do Grande Modelo Linguístico, Large Language Model (LLM), no original em inglês, desenvolvido pela OpenAI.

A OpenAI foi fundada em São Francisco (Califórnia) em 2015 por Sam Altman, Reid Hoffman, Jessica Livingston, Elon Musk, Ilya Sutskever, Peter Thiel, entre outros, que colectivamente se comprometeram com 1 bilião de dólares americanos. Musk renunciou ao conselho em 2018, mas continuou a ser um dador do projecto.

Já em 2019, altura em que a OpenAI se tornou numa empresa com fins lucrativos, a Microsoft investe 1 bilião de dólares americanos, seguindo-se um segundo investimento plurianual em Janeiro de 2023, relatado como sendo de 10 biliões de dólares americanos.

Microsoft Bing versus Google…

A organização original, sem fins lucrativos, tinha como objectivo o desenvolvimento de inteligências artificiais de forma segura e benéfica para a humanidade. Os fundadores estavam preocupados com o facto de que a Inteligência Artificial poderia representar uma ameaça existencial para a humanidade se não fosse desenvolvida de forma responsável.

Assim, a missão inicial da OpenAI era realizar pesquisas e desenvolver tecnologias de Inteligência Artificial que beneficiassem a humanidade como um todo, em vez de apenas lucrar com essa tecnologia.

Uma das principais razões para a mudança foi que a OpenAI percebeu que precisaria de muito mais recursos financeiros para alcançar os seus objectivos ambiciosos de desenvolver Inteligência Artificial avançada que possa ser usada de forma segura e benéfica. Tornar-se uma empresa com fins lucrativos permitiria que a OpenAI atraísse investimentos significativos e estabelecesse parcerias comerciais com outras empresas, como se veio a verificar com a Microsoft.

A propósito, para se ter uma ideia dos custos envolvidos, os sistemas da OpenAI funcionam no quinto supercomputador mais poderoso do mundo. O ChatGPT, por exemplo, foi treinado em GPUs NVIDIA. Consta-se que tenham sido usados 10.000 GPUs NVIDIA para treinar o modelo ChatGPT.

Actualmente, só o ChatGPT precisa de 30.000 GPUs NVIDIA A100 para operar. O ChatGPT usa um tipo diferente de GPU que as pessoas colocam nos seus PCs para jogos. Só uma GPU NVIDIA A100 custa entre 10.000 e 15.000 dólares americanos.

O hardware está a acompanhar bem a evolução do software. Ainda assim, o sistema da OpenAI agora está a passar por interrupções após uma adesão explosiva de utilizadores e pelos numerosos pedidos que simultaneamente inquirem o LLM, sugerindo que isso claramente não é capacidade suficiente. Como alguém já dizia, a inovação tem um custo!

Estão a ser criados monstros que poderão ser Anjos ou Demónios…, ou então, ambos, como na computação quântica. Não depende da máquina e sim do ser humano!

A OpenAI tomou algumas medidas para controlar o acesso às suas pesquisas e tecnologias de Inteligência Artificial. A empresa tomou essa decisão porque percebeu que algumas das suas tecnologias poderiam ser utilizadas de forma prejudicial ou maliciosa e, claro, para não perder a vantagem perante a concorrência.

O co-fundador e CEO, Sam Altman, afirmou que foi um erro abrir o código do GPT e que eles não irão abrir mais o código dos seus modelos ou partilharão detalhes sobre como os treinaram.

A OpenAI pode ter-se fechado, mas a guerra está aberta!

Compreendo as razões acima enunciadas, mas este é um desenvolvimento perigoso, pois o avanço que vimos na Inteligência Artificial é resultado da mentalidade de código aberto. Todas as gerações do GPT são baseadas no Transformer, que foi introduzido pelos investigadores da Google em 2017; por isso, é algo frustrante ver o GPT-4 fechado pela empresa que mais beneficiou do código aberto.

Este é um movimento de volta à era do “segredo do negócio”, que sufocará a inovação e o progresso da Inteligência Artificial. Quando digo que sufocará a inovação, não quero dizer que assim será, pois nestes tão poucos meses de “AI Buzz” já levou ao despertar de “Golias”, e também “Davids”, que em tempos record desvendam o que têm na forja.

A Era da Inteligência Artificial começou! Tal como a corrida ao ouro, todas as atenções estão agora viradas para este tema. O tão amado Metaverso passou para segundo ou terceiro plano. Com o fracasso do plano “metaverso infantil” de Mark Zuckerberg, os investidores que só viam, e exigiam sem saberem bem porquê, Metaverso em tudo, estão agora a reajustar as velas dos seus iates!

Com uns incríveis 100 triliões de parâmetros de aprendizagem — Machine Learning —, o GPT-4, lançado há pouco, mudará para sempre a forma como pensamos sobre a Inteligência Artificial.

O GPT é um exemplo de uma nova geração de algoritmos de aprendizagem profunda — Deep Learning —, que conseguem aprender e gerar informações sem intervenção humana. Isto é possível graças ao grande volume de dados disponíveis na Internet, que permite que o GPT seja treinado numa ampla gama de textos e, assim, adquira uma compreensão semântica mais avançada.

No entanto, a existência do GPT e de outras tecnologias de Inteligência Artificial levantam questões importantes sobre o futuro da humanidade. Algumas destas questões envolvem a possibilidade de que a Inteligência Artificial supere a inteligência humana e comece a tomar decisões autónomas, o que poderia levar a uma série de problemas éticos e sociais.

Por exemplo, imagine um autómato de guerra que consegue tomar decisões de forma independente. Se essa máquina tomar a decisão de atacar um alvo, quem seria responsável pelas consequências? O programador do algoritmo, o operador do autómato ou o próprio autómato? Estas são questões que precisam de ser abordadas antes que a tecnologia avance ainda mais.

Também são levantadas preocupações sobre a veracidade das informações geradas por estes modelos de linguagem. Embora a capacidade do GPT de gerar texto natural seja impressionante, ele ainda é uma máquina e, como tal, pode ser programado para gerar informações falsas ou manipuladas. Isto pode levar a um aumento da disseminação de notícias falsas e informações enganosas, o que pode ter graves consequências para a sociedade.

No entanto, é importante lembrar que a Inteligência Artificial também traz consigo muitos benefícios. A tecnologia pode ser usada para melhorar a eficiência e a precisão em áreas como medicina, pesquisa científica e previsão de desastres naturais. Além disso, a Inteligência Artificial pode ajudar a resolver problemas globais, como a mudança climática e a escassez de recursos.

Para garantir que a Inteligência Artificial seja usada para o bem da humanidade, é importante que os governos, empresas e organizações trabalhem juntos para estabelecer diretrizes e regulamentações claras. Isto inclui a criação de leis e normas éticas para governar a utilização da tecnologia, bem como a promoção de pesquisas e estudos para entender melhor o impacto da Inteligência Artificial na sociedade.

Em suma, o GPT e outras tecnologias de Inteligência Artificial são uma realidade cada vez mais presente nas nossas vidas, e devem ser levadas muito a sério!

O GPT-4 é apenas um passo em direção ao objectivo da OpenAI de eventualmente construir Inteligência Artificial Geral, que é quando a Inteligência Artificial cruza o poderoso limiar em que os sistemas de Inteligência Artificial superam a inteligência humana.

O alcance do homem excede a sua própria compreensão!

 

Nota: Este artigo não obedece, propositadamente, ao Novo Acordo Ortográfico.


Empreendedor, Programador e Analista de Sistemas, Henrique Jorge é o fundador e CEO da ETER9 Corporation, uma rede social que conta com a Inteligência Artificial como elemento central, e que atualmente está em fase BETA.

Desde sempre ligado ao mundo da tecnologia, esteve presente no início da revolução da Internet e ficou conhecido pela introdução da Internet e das tecnologias que lhe estão associadas em Portugal, sendo um dos pioneiros nessa área.

Passando por vários episódios de desconstrução e exploração das linguagens dos computadores, chegou à criação da rede social ETER9, um projeto que tem conhecido projeção internacional, e que ambiciona ser muito mais que uma simples rede social. Através de Inteligência Artificial (IA) pretende construir a ponte entre o digital e o orgânico, permitindo a todos deixar um legado digital ativo no ciberespaço, inclusive pela eternidade. Fora do espaço virtual, é casado, pai de duas filhas, e “devora” livros.

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