Opinião

EXCLUSIVO: Business angel italiano fala sobre o futuro do ecossistema empreendedor na Europa

Giuseppe Incarnato, do grupo italiano I.G.I. Investimenti

Itália é um dos países com mais mortes devido ao Covid-19 a nível mundial. Foram adotadas medidas drásticas para conter a crise de saúde pública, mas que, muito em breve, deverão fazer emergir consequências económicas de peso. O Link To Leaders falou com o business angel italiano Giuseppe Incarnato sobre o impacto desta pandemia no ecossistema empreendedor italiano, mas também europeu.

Depois de mais de uma década a andar para trás – com quatro recessões, aumento da dívida pública, fragilidades na banca e vários problemas estruturais por resolver – a Itália terá, com o novo coronavírus, uma vida bem mais complicada em 2020.

Tal como em muitos outros países da Europa, e no mundo, o executivo italiano pediu aos cidadãos para não saírem de casa se não houver emergências ou trabalhos essenciais e ordenou o encerramento de todas as escolas, universidades, museus, lojas, cafés, restaurantes, bares e discotecas. Escaparam farmácias, a venda de comida, incluindo supermercados e mercearias, e fica garantida a prestação de serviços públicos essenciais, incluindo transportes, serviços de utilidade pública, banca e correios. Pouco mais.

Medidas drásticas para conter a crise de saúde pública, mas que, muito em breve, deverão fazer emergir consequências económicas de peso para as empresas. Mas nem tudo está perdido, pelo menos, para quem quer criar um novo negócio, segundo Giuseppe Incarnato, administrador delegado do grupo italiano I.G.I. Investimenti que prevê o “nascimento de inúmeras start-ups na indústria biomédica e farmacêutica”. Contudo, na sua opinião, o estímulo à economia deve ocorrer de maneira coordenada entre todas as nações.

O Grupo I.G.I Investimenti é um fundo industrial que gere investimentos de cerca de 4 mil milhões de euros e que aposta no setor de patentes industriais, produtos farmacêuticos e serviços financeiros. Opera em Espanha, Bélgica, Roménia, Itália, Áustria, Suíça, Polónia e São Marinho. E tem uma participação numa empresa de serviços de TI em Lisboa, a QualtaInformatica.

“As start-ups que terão sucesso serão aquelas relacionadas com as indústrias de sistemas de apoio biomédico, farmacêutico e de trabalho inteligente”.

De que forma está a pandemia do Covid-19 a afetar o sistema empreendedor europeu, no geral, e em Itália, no particular?
Essa situação incrível, na minha opinião, terá impactos muito fortes no ecossistema das start-ups, pois haverá a necessidade de financiar e apoiar muitas novas iniciativas industriais que prometem ser uma alternativa aos antigos negócios perante os inúmeros falhanços das empresas.

Penso, em particular, que algumas indústrias, nomeadamente as medicinais e farmacêuticas, que mantêm uma alta capacidade de se tornarem globlais serão fortalecidas no contexto de cada nação. Portanto, prevejo o nascimento de inúmeras start-ups na indústria biomédica e farmacêutica, dispositivos médicos fortemente incentivados pelos organismos de cada nação.

Além disso, haverá muitos recursos disponíveis para as start-ups que poderão aproveitar, graças ao desenvolvimento do smartworking, a oportunidade de empreender novas iniciativas que consolidem o modelo de trabalho inteligente e cidades inteligentes. Em resumo, as start-ups que terão sucesso serão aquelas relacionadas com as indústrias de sistemas de apoio biomédico, farmacêutico e de trabalho inteligente. Do ponto de vista do capital disponível, os fundos de private equity manterão uma dimensão e vocação internacional, recompensando o início mais lucrativo.

Quais as indústrias que estão a ser mais afetadas em Itália?
Certamente, as indústrias que mais sofrem danos são as indústrias de turismo, transporte e distribuição comercial no geral. De qualquer forma, a suspensão das atividades é devastadora para todos. As grandes empresas e as empresas mais ágeis capazes de se reposicionarem no mercado sobreviverão rapidamente.

Como mitigar perdas? Existem janelas de oportunidade “positivas” perante todo este cenário do Covid-19?
Sem dúvida. Os governos precisam de implementar medidas muito eficazes de apoio à produção e que apoiem também as atividades. A liquidez deve ser introduzida no topo das cadeias industriais e deve-se estimular os gastos públicos para se reiniciar a produção.

Em seguida, deve-se estimular o consumo de bens duráveis com intervenções diretas de fornecimento de dinheiro às pessoas, a fim de evitar uma queda nas encomendas. Na minha opinião, o estímulo à economia deve ocorrer de maneira coordenada entre todas as nações.

“Prevejo desinvestimentos significativos nos setores afetados pela crise do coronavírus, já que o turismo e a distribuição tradicional mostraram-nos a sua vulnerabilidade”.

De acordo com as previsões da CB Insights, o financiamento desacelerará durante os próximos trimestres, com alguns a mostrarem um “desinvestimento” mais frequente nos países mais atingidos. Qual a sua visão sobre isto?
A desaceleração dos investimentos será seletiva. Nem todos os setores a sentirão. Como eu disse anteriormente, os setores médico e farmacêutico, bem como a indústria da Internet no geral enfrentarão uma nova disponibilidade de recursos financeiros.
Prevejo desinvestimentos significativos nos setores afetados pela crise do coronavírus, já que o turismo e a distribuição tradicional mostraram-nos a sua vulnerabilidade.

Fale-nos do I.G.I Investimenti. Quantos investimentos têm e qual o vosso foco?
O Grupo I.G.I Investimenti é um fundo industrial que gere investimentos de cerca de 4 mil milhões de euros, com uma forte concentração no setor de patentes industriais, produtos farmacêuticos e serviços financeiros. Operamos em Espanha, Bélgica, Roménia, Itália, Áustria, Suíça, Polónia e São Marinho. Temos uma participação numa empresa de serviços de TI em Lisboa, onde estamos presentes desde 2017, a QualtaInformatica.

Quais são as estratégias da I.G.I Investimenti para os próximos meses?
O nosso objetivo é concentrar os novos investimentos no setor da Internet e start-ups de fintech, onde observamos que em Itália há um dinamismo particular.

Dos projetos em que esteve envolvido ou aos quais continua a estar ligado, qual é o que lhe dá mais dores de cabeça e o que mais o preocupa?
O setor de ativos em dificuldades em Itália enfrenta uma regulamentação punitiva para fundos de private equity, pelo que nos decidimos alienar totalmente dele.

“Penso que a Europa pode representar uma plataforma interessante para novas start-ups no setor médico, graças à experiência que está a amadurecer no terreno”.

A que países devem os business angels e os venture capitalists estar mais atentos face às oportunidades de negócios que representam nos próximos meses?
Penso que a Europa pode representar uma plataforma interessante para novas start-ups no setor médico, graças à experiência que está a amadurecer no terreno.

Quais são as maiores necessidades de uma start-up, além de investimento, neste momento difícil?
Para as start-ups, vejo sempre uma grande necessidade de financiamento de bancos especializados que, infelizmente, não conseguem gerir as start-ups como deveriam.

Que conselhos daria a todos os fundadores de start-ups?
Eu recomendo que sejam apoiados desde os estágios iniciais do trabalho por business angels especializados que participam na gestão da empresa e que já comecem com uma organização estruturada.

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