Europa: A terra prometida das start-ups
Empreendedores europeus ligados ao setor de tecnologia começaram a olhar para o seu próprio continente como a terra prometida. Conheça alguns casos de sucesso.
Quando Lars Fjeldsoe-Nielsen decidiu ser empreendedor no setor de tecnologia há cerca de dez anos, comprou uma passagem só de ida para Silicon Valley. Depois de oito anos como gerente sénior e consultor da Dropbox Inc., WhatsApp Inc. e Uber Technologies Inc.,o engenheiro luso-dinamarquês regressou à Europa.
“A cena tecnológica europeia mudou completamente”, afirmou Fjeldsoe-Nielsen, que se uniu a uma empresa de investimento em tecnologia com sede em Londres. “As oportunidades estão aqui agora”, acrescenta.
Como Fjeldsoe-Nielsen, muitos outros empreendedores europeus ligados ao setor de tecnologia começaram a olhar para o seu próprio continente como a terra prometida, avança o The Wall Street Journal.
Florian Jourda abandonou o seu emprego na Box Inc., start-up californiana que fornece serviços de nuvem, para dar suporte ao número cada vez maior de empreendedores de uma aceleradora de start-ups no seu país natal, a França. O sueco Niklas Zennström, um dos fundadores do Skype, que vendeu a empresa de chamadas telefónicas pela Internet a investidores americanos em 2005, criou um fundo de investimento de apoio a start-ups europeias de tecnologia.
A Europa tem legiões de engenheiros e programadores formados e reúne um número maior de consumidores do que os EUA. Na Europa, já foram criadas start-ups pioneiras, mas, como o Skype, muitas delas terminaram no outro lado do Atlântico. As regulações tributárias, sociais e económicas fragmentadas da Europa acabaram por impedir que muitas empresas de tecnologia crescessem rapidamente e se tornassem grandes o suficiente para dominarem o mercado, ou mesmo lucrativas, apesar das tentativas constantes da União Europeia para harmonizar regras e criar o chamado mercado comum digital.
No entanto, níveis recordes de investimento de capital de risco entraram em países como a França nos últimos 12 meses, à medida que governos locais aumentam os esforços para formar e atrair trabalhadores qualificados, construir incubadoras para start-ups em estágios iniciais e impulsionar investimentos, através de fundos garantidos pelo Estado.
Empresas europeias como a Spotify AB de “streaming” de música, o estúdio de start-ups Rocket Internet SE, da Alemanha, e a finlandesa Supercell Ou, fabricante do jogo “Clash of Clans”, têm obtido avaliações multimilionárias, sem terem feito as malas.
Ainda assim, a Europa ainda não viu nascer nenhuma empresa global de tecnologia, capaz de competir com a Apple Inc. ou com a Alphabet Inc., controladora do Google.
Na China, o surgimento de gigantes de tecnologia, como a plataforma de comércio eletrónico Alibaba Group Holding Ltd. e a Tencent Holdings Ltd., mais conhecida pela sua aplicação de mensagens WeChat, atraíram empresários chineses que, anteriormente, tentaram a sorte em Silicon Valley.
Empreender para inovar e competir
Os países europeus esperam agora que os empreendedores de tecnologia possam ajudá-los a concorrer com os EUA e a Ásia, e entrem na corrida para criar gigantes tecnológicos. “O nível de ambição aumentou. As pessoas podem criar grandes empresas aqui”, diz Zennström.
A chegada de executivos experientes acontece num momento em que o dinheiro começa a ser significativo nas empresas de tecnologia europeias. No ano passado, foram investidos 13,6 mil milhões de dólares (cerca de 12,8 mil milhões de euros) no setor de tecnologia da Europa, comparando com os 2,8 mil milhões (2,6 mil milhões de euros) em 2011, ajudando a impulsionar centros de tecnologia em Londres, Berlim, Paris e Estocolmo, segundo um relatório da Atomico, empresa de investimento em tecnologia, com sede na Europa.
Quando Jourda foi para Silion Valley em 2004, disse que voltar para a França era uma possibilidade remota. “Eu estava a planear voltar quando me aposentasse, para gozar a vida e a boa comida”, frisou
Mas dez anos depois, em 2014, o empreendedor ficou impressionado com as notícias de que a BlaBlaCar, que oferece um serviço de partilha de boleias pagas, se tinha tornado na primeira empresa francesa de tecnologia a angariar 100 milhões de dólares (94 milhões de euros) de investidores. Isso levou-o a regressar a Paris. “Eu queria dar algo de volta ao meu país”, disse. A BlaBlaCar foi fundada em 2006 por Frédéric Mazzella e Nicolas Brusson, depois dos dois regressaram de Silicon Valley.
Brusson confessou que a sua experiência nos EUA foi essencial para o sucesso da sua empresa. “Na França, eu não podia encontrar empresários franceses que me apoiassem”, contou.
Desde que regressou à Europa, Brusson já apoiou várias start-ups e tem investido em empresas de tecnologia como a Roofoods Ltd., start-up londrina de entrega de comida que detém a Delivero e a Doctolib, de assistência médica pela Internet.
Fjeldsoe-Nielsen trabalha agora na Balderton Capital, um dos principais fundos de capital de risco de Londres, que investe em start-ups promissoras, em estágios iniciais.
Enquanto trabalhava na Dropbox, o luso-dinamarquês tinha nos seus planos conquistar os clientes de Jourda da Box, para o seu serviço concorrente de armazenamento de nuvem. Mas, desde que regressaram ao seu país, trabalham juntos.