Europa e EUA: as diferenças na abordagem empresarial

Quer levar o seu negócio dos Estados Unidos para a Europa ou vice-versa? Então esteja atento às particularidades de cada um destes mercados.

São muitas as empresas que ambicionam ter projeção global, ir além -fronteiras e especialmente trabalhar com as chamadas empresas “blue chip”. Contudo, qualquer empreendedor experiente sabe que escalar pode ser uma batalha difícil, porque trabalhar com parceiros internacionais significa prestar muita atenção aos detalhes culturais e comportamentais dos diferentes mercados. Veja algumas diferenças entre os Estados Unidos e a Europa.

A diferença de línguas na Europa implica ter equipas localmente
Embora nos Estados Unidos existam diferenças culturais entre as diferentes regiões, na Europa as pessoas falam línguas completamente diferentes, de país para país. O inglês acaba por ser uma língua comum em muitos deles se pensarmos que cerca 40% da população na União Europeia fala inglês como língua estrangeira. Nos 27 países da União Europeia, e depois da saída do Brexit, apenas a Irlanda tem o inglês como língua materna.

Muitas empresas norte-americanas que tentam construir relacionamentos com grandes players europeus podem achar que negociar em inglês – ou mesmo no idioma nativo do país – é bom. Contudo, muitas vezes a experiência revela que nem sempre é assim. Para trabalhar com empresas blue-chip específicas na Europa, é quase sempre necessário contratar uma equipa local para responder às necessidades e às tendências de cada país. Muitas vezes isso significa ter de abrir um escritório na região e contratar concorrentes locais com um conhecimento profundo do mercado.

O número de habitantes faz a diferença
A União Europeia tem cerca de 508 milhões de habitantes, espalhados por 4 milhões de metros quadrados. Portanto, ao contrário dos Estados Unidos, muitos países europeus abrigam apenas alguns milhões de pessoas. Só  Nova Iorque tem uma população de 8,5 milhões de habitantes, os mesmos que a Áustria.

Como os países são menores e menos populosos na Europa, os indivíduos têm um conjunto mais amplo de responsabilidades. As suas atividades também cobrem uma área mais ampla de foco. Pense por exemplo se especialista em tecnologias de IA abrangentes. Por outro lado, o mercado dos EUA naturalmente possui mais empregos e, portanto, tende a empregar pessoas com um profundo conhecimento de um setor muito específico. Isso pode significar que alguém é especialista especificamente em tecnologia de inteligência artificial.

Então, o que significa isso para as organizações que procuram parceiros internacionais de confiança? Isso muda a maneira como se fala com potenciais clientes. Ao trabalhar com empresas americanas, aprofundam-se mais os detalhes. Com os europeus, fala-se de uma forma mais abrangente. É a diferença entre explicar como uma parceria pode ajudar uma empresa a ter sucesso ou pormenorizar exatamente como se faz isso.

Europa e Estados Unidos protegem os cidadãos de forma diferente
O Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR) da União Europeia entrou em vigor em maio deste ano para regulamentar o que as empresas podem fazer com os dados dos cidadãos. A intenção base é que os europeus possam decidir o que acontece com os seus dados pessoais a qualquer momento.

Já os Estados Unidos optaram por proteger os cidadãos de uma maneira diferente. Embora o país não possua uma regulamentação de dados abrangente, protege os dados dos cidadãos através de leis setoriais. Por exemplo, a Health Insurance Portability and Accountability Act(HIPAA) protege as informações de saúde, enquanto a Lei Gramm-Leach-Bliley (GLBA) protege as informações dos consumidores detidas pelas instituições financeiras, por exemplo.

Deste modo, será justo dizer que, com o GDPR, a Europa tem mais regulamentação para proteger os seus habitantes. Assim, ao trabalhar com empresas no exterior – e especialmente aquelas que não podem violar as regras de dados do consumidor – é prudente que as multinacionais saibam exatamente quais os regulamentos exigidos. E, embora isso possa exigir uma atualização permanente com as leis europeias essa é a única forma pela qual as empresas confiam nos seus parceiros de negócios americanos.

Trabalhar na base do erro-tentativa
Quem tem algum conhecimento da cultura das start-ups norte-americanas sabe que, contrariamente ao que sucede noutros mercados, como no europeu por exemplo, o fracasso não impede os empreendedores de avançarem com suas ideias e com novos negócios.

A cultura americana tem a caraterística da agilidade e muitas empresas trabalham com base na tentativa/erro para testar seus modelos e plataformas antes de encontrarem uma que funcione corretamente.

Na Europa a cultura empresarial é diferente, porque o medo do fracasso está sempre presente nas empresas. Inclusive a União Europeia desenvolveu um programa específico, o FACE (Failure Aversion Change in Europe), para a promover uma nova cultura empresarial e mostrar aos empreendedores que o fracasso pode torná-los mas fortes.

As empresas europeias desejam que os seus projetos tenham sucesso logo à partida, e por isso tudo é feito de forma mais estruturada. Trabalhar com europeus pode levar mais tempo, há mais reuniões, aprovações, etc… Por isso, as empresas americanas devem ser mais sensíveis aos seus pares europeus. As que procuram expandir os negócios internacionalmente devem estar atentas aos processos, comportamento e cultura dos seus parceiros.

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