Opinião
A estrada, o muro e as alternativas
WebSummit, Start-Ups, Inovação, Gestão da mudança… Sinais de um tempo de insatisfação, de reconhecimento de que tudo à nossa volta está em rápida evolução, de vontade de fazer diferente e de procurar alternativas.
Todos já sabemos que, se formos sempre pela mesma estrada, iremos sempre parar ao mesmo sítio.
E sabemos também que, se no fim desta estrada estiver um muro que nos impeça a passagem… não adianta percorrê-la vezes sem conta, porque o muro vai lá estar sempre e não nos deixará passar. Por isso, procuramos alternativas. Formas de escalar o muro ou de o derrubar, passagens entre fissuras, ou muito simplesmente… procurar outro rumo ou outro caminho.
Este caminho de mudança, tão necessário para a evolução da sociedade, é apetecível, é interessante, é atrativo. Mas também perigoso, se, quando nele entramos, não o fazemos conscientes dos desafios que se nos vão colocar, todos os dias, nas mais diversas circunstâncias.
O primeiro passo é reconhecer que o muro existe e que não chegaremos ao destino se continuarmos a seguir pela mesma estrada, por mais vezes que a percorrermos.
A fase seguinte é ter vontade de ir procurar alternativas e de fazer de forma diferente. Nem sempre é um processo rápido, porque o reconhecimento de que algo pode (deve!) ser feito de forma diferente daquela que sempre conhecemos, pode ser duro e demorado… É uma fase de reconhecimento que, embora trazendo dor, quando enfrentamos o facto de que não estamos no caminho certo, não mexe ainda de forma efetiva com as vidas das pessoas e das organizações.
Tomar as medidas necessárias para que a mudança ocorra será o momento seguinte. Aqui começam a aparecer alternativas, escolhas e tomada de decisões, e a consciência de que nada vai voltar a ser como antes.
E a coisa complica-se!
A definição da estratégia de mudança processa-se a dois níveis.
Primeiro: por onde e para onde mudar? Estrutura (humana e física), processos de gestão, o que colocamos no mercado, a forma como nos apresentamos, os mercados-alvo que queremos conquistar, optar por crescer ou reduzir a dimensão da empresa, …
Conseguimos tomar as decisões que entendemos as mais corretas, mas falta ainda decidir como as vamos pôr em prática. Ou seja – como proceder?
Utilizar recursos internos versus recrutar no exterior? Contratar consultores versus gestores? Fazer associações com concorrentes ou empresas a montante ou a jusante, versus crescimento orgânico? Avançamos de imediato ou aguardamos? Utilizamos todos os recursos da empresa ou racionamos o investimento?…
Uma vez mais, entramos em decisões que sabemos serem de abrangência total sobre a empresa e a marca e, uma vez mais, somos assolados de dúvidas e indecisões – naturais, justificadas, necessárias, até porque obrigam a reflexão e a não precipitação na escolha do caminho – mas que não podemos deixar que nos tolham o avanço e limitem a capacidade de mudar!
O levantamento de todas as hipóteses, a formulação de alternativas, a analise de prós e contras (bendita análise SWOT que tanto pode ajudar nestes momentos!…), a escolha de caminhos e de formas de o percorrer estão sempre associados a momentos de tensão e stress.
Porque temos consciência de que o tempo nunca é muito. Porque sabemos que o que decidirmos vai afetar a nossa vida e as vidas de todos os que colaboram com a nossa organização. Porque não podemos ignorar que aquilo que fizermos vai deixar marcas indeléveis na estrutura da empresa – nos recursos humanos, na produção e na comercial, no back office, nos métodos e nos processos.
E porque temos sempre presente que todas as decisões que tomamos alteram para sempre a perceção interna e externa da marca – o que fazemos, onde queremos chegar, que experiência proporcionamos aos nossos clientes, que valores norteiam o nosso comportamento, que compromissos assumimos (ou não) com os nossos stakeholders.
Corajosos e determinados, avançamos.
Decidimos, e pomos em prática o que foi decidido.
No processo, conseguimos avanços, de que todos nos orgulhamos.
Encontramos obstáculos, que nos obrigam a recuar.
Fazemos coisas bem-feitas, e ficamos contentes.
Cometemos erros (muitos!…) que nos obrigam a ser humildes, a aprender, a mudar o rumo, e a corrigir – se necessário pondo novamente tudo em causa. E pagamos o preço (por vezes caro, por vezes imprevisto, por vezes repetido…), em todo o tipo de recursos – pessoas que não nos conseguem acompanhar, que não concordam com o rumo que seguimos ou com as nossas decisões, tempo absorvido por estes mecanismos e que nos faz falta para outras atividades (também elas importantes!), dinheiro consumido em atividades sem retorno imediato ou em caminhos em que tivemos de retroceder.
Em bom português, aqui é que a porca torce o rabo. Porque, se não estivermos preparados para viver com as consequências das nossas decisões e com os custos da sua implementação… não vale a pena sequer começar.
Nunca seremos capazes de alterar de forma significativa e sustentável uma organização, se não estivermos, desde o início, conscientes de que o processo de mudança não se faz sem dor, não se faz sem erros, não se faz sem custos… Importante é estarmos sempre disponíveis e preparados para os enfrentar e, de forma resoluta e construtiva, ir derrubando os muros que aparecem na estrada e encontrando formas de chegar ao destino!