Estes cinco países são os novos hubs de start-ups

As novas ideias não surgem apenas em Silicon Valley ou em Londres, mas também em outras regiões do globo com fortes ecossistemas de start-ups e culturas únicas. Conheça os cinco países que estão a acolher o empreendedorismo e a atrair talentos, segundo o Fórum Económico Mundial.

O Covid-19 revolucionou o mundo e a sociedade global a um ritmo e a uma forma sem precedentes. Nesta era de incertezas, as start-ups desempenham um papel cada vez mais importante, trazendo ao mercado soluções inovadoras para enfrentar os desafios e mitigar os impactos negativos causados pela pandemia. Hoje em dia, essas soluções não surgem apenas em Silicon Valley ou em Londres, vêm também de outras regiões do mundo com sólidos ecossistemas de start-ups.

Segundo o Fórum Económico Mundial, há cinco países – Singapura, Coreia do Sul, Brasil, Quénia e Israel – que se tornaram em centros de inovação e que estão a atrair empresários e start-ups de todo o mundo.

1.Singapura
Singapura ficou em primeiro lugar no último Relatório de Competitividade Global do Fórum Económico Mundial, tanto em termos gerais como em fatores como infraestrutura, saúde, funcionalidade do mercado de trabalho e desenvolvimento financeiro. O país ocupou a 13ª posição em termos de capacidade de inovação e possui inúmeros fatores que atraem os empreendedores. Além de uma forte ligação local e de um fluxo de talentos de  qualidade proveniente de instituições competitivas, o governo está a implementar várias políticas favoráveis às start-ups, visando atrair novas empresas e talentos para Singapura.

Entre as medidas, estão planos de redução e isenção de impostos, subsídios e infraestrutura de incubação e criação de empresas. Outro exemplo é a Startup SG, uma iniciativa lançada em 2017 para unificar vários aspetos dos planos de apoio governamental para as partes interessadas do ecossistema, incluindo fundadores de start-ups, investidores, incubadoras e aceleradoras.

Devido a esforços coordenados pelo governo e a um ecossistema crescente de financiamento privado, o investimento em Singapura aumentou drasticamente de 2,39 mil milhões de dólares (2,02 mil milhões de euros) em 2017 para 8 mil milhões (7 mil milhões de euros) em 2019, de acordo com a Enterprise Singapore. No mesmo período, o valor total do investimento em start-ups de alta tecnologia aumentou 260%, passando de 160 milhões de dólares (135 milhões de euros) para 580 milhões de dólares (491 milhões de euros), enquanto indústrias tradicionalmente fortes, como as fintech, continuam a crescer. De acordo com um estudo da Accenture, os investimentos em fintech chegaram a 861 milhões de dólares (729 milhões de euros) em 2019 , mais que o dobro do valor registado em 2018.

VC activity in Singapore has grown sharply over recent years

Imagem: Enterprise Singapore

O sucesso do setor de fintech em Singapura deve-se em grande parte ao regulador financeiro do Estado, a Autoridade Monetária de Singapura (MAS), que fornece vários tipos de apoio – incluindo uma plataforma de troca de API para permitir experiências em tempo real, bem como desenho rápido e implementação de potenciais soluções. O evento organizado pela EnterpriseSG e pela MAS, o Festival Fintech de Singapura x Semana de Inovação e Tecnologia de Singapura (SFF x SWITCH), o maior festival de inovação em tecnologia e fintech do mundo, atrai vários talentos para conectar, colaborar e cocriar ideias.

Michele Ferrario, da StashAway, está a desenvolver uma plataforma de gestão de património digital centrada na construção de património a longo prazo. O empreendedor afirma que “Singapura oferece uma ótima plataforma para iniciar e escalar serviços para mais de 600 milhões de pessoas que vivem no Sudeste Asiático. Ferrario refere que “Singapura é um lugar único, pois, ao mesmo tempo que oferece acesso aos mercados em crescimento muito rápido do Sudeste Asiático, também oferece os benefícios de um centro financeiro global”. “Tendo sido lançada em Singapura, a StashAway beneficiou do acesso a talentos locais e estrangeiros, bem como de capital, e da supervisão de um regulador muito respeitado e voltado para o futuro”, acrescenta.

O apoio para fintech é uma das estratégias mais visíveis do governo. Por exemplo, até 110 milhões de dólares (93 milhões de euros) foram reservados para melhorar o programa Startup SG Founder, que permitirá a criação de projetos, orientação e apoio ao capital inicial para aspirantes a empreendedores. O Startup SG Founder, que foi lançado em 2017, oferece mentoria e capital inicial aos empreendedores iniciantes, bem como apoio para a construção de projetos através de parceiros mentores credenciados que identificam candidatos qualificados com base na singularidade do conceito de negócio, viabilidade do modelo de negócio, trabalho da equipa de gestão e valor potencial de mercado.

2. Israel
Tel Aviv, muitas vezes apelidada da “’cidade que nunca dorme”, é famosa por ser a capital de Israel. Israel – frequentemente apelidada de ‘nação start-up’ – tem a maior concentração global de start-ups per capita e é líder global em tecnologias avançadas. Com quase nenhum recurso natural disponível, Israel procurou um caminho para abraçar a inovação desde o seu início em vários setores, como a água, a agricultura e as TIC, com o objetivo de se tornar na principal potência mundial. As gigantes globais da tecnologia, como a Google e a Microsoft, viram oportunidades e potencial em Israel e, como tal, apoiam as start-ups do país com investimentos e aquisições.

O serviço militar obrigatório de Israel também desempenha um papel fundamental, fornecendo programas exclusivos para recrutas que aumentam as suas competências tecnológicas e ajudam a potenciar a sua mentalidade criativa – tudo o que os incentiva a seguir um caminho empreendedor após deixar o serviço militar.

Autoridade de Inovação de Israel estendeu o seu mandato para promover ainda mais o ecossistema de inovação de Israel. Este organismo é responsável pelo desenvolvimento da infraestruturaa de inovação, fornece subsídios e apoio financeiro para tecnologias inovadoras e interliga a economia de Israel com o exterior, bem como promove e encoraja programas, políticas e leis, para manter o status de Israel como a “nação start-up”.

As start-ups de Israel atingiram um recorde de 8,3 mil milhões de dólares (7 mil milhões de euros) em financiamento em 2019, um aumento de 30% em relação ao ano anterior, devido ao maior investimento de capital estrangeiro, impulsionando setores como software, internet, ciências da vida e semicondutores.

Israel's start-up ecosystem is dominated by tech companies

Imagem: Times of Israel

Houve também um aumento significativo no investimento em empresas de Inteligência Artificial (IA), bem como em setores tradicionalmente fortes, como cibersegurança, ciências biológicas e fintech.

Lior Akavia, cofundador e CEO da Seebo, uma start-up de IA instalada em Tel Aviv que permite aos fabricantes prever e prevenir perdas de produção, explica que na última década o cenário de start-ups israelitas floresceu, particularmente em áreas como IA, tenso ido impulsionado pela riqueza de talentos locais.

“Israel ocupa o terceiro lugar de start-ups de IA e estamos a assistir cada vez mais e mais a unicórnios de IA que surgem todos os anos”, diz Akavia. “Os empreendedores israelitas demonstraram uma visão para identificar necessidades existentes em vários mercados e combiná-las com a fonte de talento e criatividade de alta tecnologia, em cibersegurança, saúde digital ou fabricação avançada. O ecossistema de start-ups de fabricação avançada, em particular, cresceu exponencialmente nos últimos anos, com mais de 260 start-ups ativas e em crescimento”, acrescenta.

3. Coreia do Sul
A economia da Coreia do Sul é impulsionada principalmente por grandes grupos empresariais como a Samsung e a LG, chamados “chaebols”, que reconheceram a importância das start-ups como impulsionadoras de sucesso económico contínuo. O TIPS (Tech Incubator Program for Startups), um programa de incubação liderado pelo Estado, descobre start-ups promissoras, ajudando-as com financiamento. Como o governo não tem património, fornece fundos perdidos às start-ups. Esta condição mudou o jogo, especialmente quando se considera a aversão ao risco da sociedade sul-coreana.

Em 2017, o governo criou o Ministério das PME e Startups com a missão de fortalecer ainda mais a competitividade e apoiar atividades de inovação para as start-ups. Segundo o Ministério, planearam levantar 81 fundos de risco no valor de 2,1 mil milhões de dólares (1,7 mil milhões de euros), através de investimentos de fundos. Em 2019, mais de 3,5 mil milhões de dólares (2,96 mil milhões de euros) em recursos chegaram ao mercado, um aumento de 25% em relação ao ano anterior. Os serviços de TIC, biotecnologia e comércio foram os três setores que tiveram um aumento significativo de financiamento.

The Republic of Korea's start-up scene is both broad and blooming

Imagem: The Republic of Korea’s Ministry of SMEs and Startups

Brandon Suh, da Lunit, uma start-up sediada em Seul que utiliza IA para diagnosticar e tratar o cancro, diz que o sucesso por detrás da sua empresa foi devido ao forte apoio inicial do governo e de outras partes interessadas dentro do ecossistema.

Suh menciona que “como start-up beneficiamos do programa TIPS desde as fases iniciais do nosso desenvolvimento até à atualidade. O programa ajudou-nos a plantar sementes, crescer e a expandir ainda mais à medida que nos transformamos gradualmente num negócio ativo. O apoio do governo coreano e de outras partes interessadas dentro do ecossistema de inovação permitiu-nos interagir com diversas redes dentro e fora da indústria, o que tem sido útil na expansão tanto doméstica quanto global”.

4. Quénia
Nos últimos anos, o cenário de start-ups em África tem sido cada vez mais dinâmico. O investimento total em start-ups no continente ultrapassou a marca de 2 mil milhões de dólares (1,69 mil milhões de euros) em 2019. O crescimento da população e a adoção cada vez maior de dispositivos móveis permitiram que inúmeras start-ups digitais prosperassem, o que fez com que o Quénia esteja no centro da história de sucesso de start-ups na África.

O inglês como idioma nativo e um grande grupo de talentos de várias universidades estão a atrair uma série de strat-ups para estabelecer a sua sede no Quénia. A Internet confiável, bem como a infraestrutura de pagamento online, centrada no serviço M-PESA, oferecido pela Safaricom, está a permitir a prospeção de muitos modelos de negócios baseados em dispositivos móveis. Além disso, o governo apoia os empresários no crescimento e na ampliação das suas ideias através da iniciativa Enterprise Kenya.

O Quénia é considerado um dos mercados emergentes mais atraentes para a implementação antecipada das redes 5G e o governo também tem planos ambiciosos para criar a Savana de Silicon, que espera obter 2% do PIB numa década. Entretanto, existe espaço para melhorias, as leis do trabalho no Quénia nem sempre são adequadas para as start-ups e há uma escassez de políticas específicas em relação ao estabelecimento e ao financiamento.

De acordo com um relatório de 2019 da Partech sobre o setor de start-ups de tecnologia em África, o Quénia está classificado em segundo lugar tanto no montante total de financiamento recebido pelas start-ups, como no número de negócios. Todos os setores mostraram aumentos significativos em relação a 2018, com um total de 564 milhões de dólares (477 milhões de euros) em financiamento – um aumento de 62% em relação ao ano anterior – distribuídos por 52 negócios (um aumento de 18% em 2018). As indústrias como as fintech, as tecnologias independentes da rede e as empresas são os principais setores, seguindo-se o comércio, saúde e o setor das comunicações.

Kenya has become one of Africa's biggest and most attractive start-up hubs

Imagem: Partech 2019 Africa Tech VC Report

“Temos a sorte de fazer parte da vibrante e sólida comunidade de start-ups do Quénia”, disse Josh Sandler, da Lori Systems, uma empresa de serviços de logística voltada para a tecnologia que coordena o transporte em mercados transfronteiriços. “O Quénia com a sua economia expansiva e crescente, altas taxas de tecnologia de penetração, redes sólidas no ensino superior e facilidade em fazer negócios tem os ingredientes certos para o empreendedorismo prosperar. A presença de organizações como a Alter e a Endeavor também proporcionou uma rede de apoio, já que interagiram com financiamento e orientação local e internacional, que têm sido essenciais para o nosso crescimento”, acrescenta.

5. Brasil
De acordo com o Global Startup Ecosystem Report 2020 do Startup Genome, São Paulo é a única cidade da América Latina no top 30 do ecossistema de start-up globais do mundo. O Brasil tem uma população de mais de 200 milhões de pessoas e é a oitava maior economia do mundo. Como tal, o país possui um grande mercado interno com elevada penetração do telemóvel e utilização da Internet, ambos significativamente acima da média global. As start-ups também têm acesso a uma gama de opções de financiamento de grandes investidores nacionais e internacionais, bem como a uma pool de talentos de universidades como a Universidade de São Paulo e a Universidade Federal de Minas Gerais.

O governo brasileiro também está a preparar várias políticas para aumentar o ecossistema de start-ups no país. Em 2018, lançou a Estratégia Brasileira de Transformação Digital, que visa padronizar todas as iniciativas federais relacionadas com o ecossistema de inovação.

Investment in Brazil's start-ups has been growing rapidly in recent years

Imagem: Contxto

A indústria de fintech teve a maior proporção tanto do número de negócios como no valor investido e é claramente um dos principais impulsionadores do cenário de start-ups do Brasil. São vários os fatores que apontam para o sucesso deste setor, incluindo a elevada utilização de telemóveis no país e uma maior população de jovens, bem como um ambiente favorável de regulamentação de fintech.

Federico Vega, da CargoX, que interliga cargas com transportadoras na América Latina e que tem sede em São Paulo, diz que a sua empresa beneficiou do acesso aos melhores talentos da engenharia a um custo relativamente baixo. Veja afirma que “São Paulo tem universidades de nível internacional e pouca procura por talentos da área de engenharia quando comparado com outras áreas da tecnologia”. Além disso, “São Paulo também tem uma grande cultura de start-up de tecnologia entre os licenciados em engenharia. Estes profissionais preferem trabalhar para as empresas de tecnologia recentes do que para as grandes corporações tradicionais”, frisa.

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