Opinião

Esqueça o novo normal! Desenhe o “Futuro Oficial”

Luís Madureira, partner da ÜBERBRANDS

Visões como a de Steve Jobs e Elon Musk ditaram e vão continuar a ditar o futuro de Silicon Valley. Estes ‘Futuros’ acabam por se tornar em self-fulfilling prophecies para todos nós.

Empreendedores de todo o mundo criam e desenvolvem as start-ups que vão construir o ecossistema que permitirá que estes Futuros se tornem realidade. No oposto do espectro, as empresas, na sua maioria incumbentes estabelecidos, utilizam os objetivos estratégicos definidos no seu processo de planeamento estratégico para guiar a sua atividade na direção da visão dos seus líderes. Tudo isto porque:

“…viver com um futuro em aberto é cognitivamente muito cansativo  – as pessoas exigem um certo grau de certeza em relação ao futuro, que é exatamente o que o ‘Futuro Oficial’ lhes deve proporcionar.” – Nils Gilman

Segundo Peter Schwartz, o ‘Futuro Oficial’ é o cenário ‘‘business-as-usual’’ comummente aceite para o que será o estado do mundo num determinado ponto no tempo. A maior parte dos decisores não aceita Futuros alternativos a menos que o Futuro Oficial seja posto em causa.

A COVID-19 trouxe um desafio de saúde pública monumental, mas também estraçalhou o Futuro Oficial, e veio realçar a inexistência de uma Visão de futuro em muitas empresas. Mais grave ainda, na maior parte dos casos, veio pôr a nu a incapacidade das empresas e dos seus líderes em desenvolver novas Visões que motivem os seus seguidores. Esta pandemia pode ser uma oportunidade de desenhar um novo Futuro Oficial melhor do que aquele que tínhamos até aqui. Mas esta oportunidade só será aproveitada se, e apenas se, os líderes das nossas organizações tiverem a criatividade e o conhecimento necessários para o fazer.

O problema é que a maior parte das empresas continua agarrada às suas Visões pré-pandemia. Os objetivos estratégicos foram revistos em baixa. Os custos foram adaptados ao ‘Novo Normal’, um conceito que de per se, representa tudo de mau. O Novo Normal é o regresso ao passado e o que precisamos é um regresso ao Futuro. Um ‘Futuro Oficial’ que motive e nos guie em direção a um futuro melhor, não uma versão “requentada” do passado.

Aqueles Objetivos “Estratégicos” que nos guiam, também nos desviam. Cuidado com o novo Futuro Oficial se este for apenas um Novo Normal.

E qual é a solução? A pandemia força-nos a rever o Futuro Oficial, a desenvolver novas perspetivas, a pensar em novas missões para as nossas organizações, a definir novos propósitos económicos e sociais. Não estou a falar em rever a Visão, a Missão ou os Valores para “pôr no website” ou “pendurar na parede”. Estou a referir-me a como o Competitive Intelligence nos pode ajudar a desenvolver as perspetivas, os insights, as ideias, e a identificar os drivers que nos podem guiar em direção a esse novo Futuro Oficial.

Os diversos tipos de insight gerados suportam todo este processo que muitos chamam de Transformação Digital que no fundo, não é mais do que a gestão da mudança assente em três grandes pilares: as pessoas, a tecnologia e a estratégia de negócio. O Competitive Intelligence sinaliza a mudança, identifica as novas necessidades das pessoas – colaboradores, clientes e consumidores – mapeia as tecnologias, e desenvolve os modelos de negócio que garantem o retorno desejado pelos acionistas. Ao fazê-lo, ajuda as empresas e o País na recuperação económica, e acima de tudo na recuperação e desenvolvimento social.

É assim crítico que as organizações trabalhem em três horizontes temporais baseados nos diversos insights que o Competitive Intelligence pode desenvolver:

1) um horizonte imediatista, em que saiam do torpor do corte e da gestão de custos e identifiquem o “low hanging fruit” – o Hindsight ou Retrospetiva ajuda a perceber como chegámos até aqui, os nossos pontos fortes e aquilo que sabemos fazer melhor que os concorrentes;

2) um horizonte de futuro imediato, em que invistam o seu tempo e recursos a gerir a mudança e os impactos que daí advêm – os Insights ou Perspetiva permitem a tomada de decisão informada e eficaz para navegar à vista a mudança constante do ambiente competitivo; e por último,

3) um horizonte pós-pandemia, onde idealizam o novo futuro oficial e se preparam para tirar partido do mesmo assim que este se torne realidade – o Foresight ou Prospetiva suporta o desenvolvimento da visão de um futuro oficial que nos propulsiona em direção ao melhor das pessoas e das organizações.

Existe apenas um senão. Nenhumas das partes funciona isolada. De nada adianta ter uma visão inspiradora, motivadora de um Futuro Oficial (Foresight) se eu não souber quais os pontos fortes da minha organização que me vão permitir chegar lá (Hindsight). Nem adianta, se no meio do processo, aparece uma tecnologia mais eficiente, ou eu não tenho Insights para conseguir identificar em tempo útil um concorrente emergente que vai tornar esse Futuro realidade antes da nossa organização.

E mais do que falar, ou escrever, é preciso atuar a adaptar. Eu acabei de lançar a NE(X)T!

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Luís Madureira

Luís Madureira

Luís Madureira é fundador da ÜBERBRANDS, uma boutique de consultoria estratégica que ajuda organizações e os seus líderes a navegar o ambiente competitivo com sucesso. É Chairman da SCIP Portugal e Fellow do Council of Competitive Intelligence Fellows desde 2018. É keynote speaker e professor premiado a nível internacional (PT, US, FR, ES, SI, UK), nomeadamente pelos alunos do Ljubljana MBA por duas vezes consecutivas. Acumula o cargo de Global Competitive Intelligence Practice Lead da Presciant e previamente da OgilvyRed,... Ler Mais..

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