Espanha: as 11 start-ups que poderiam ser o próximo grande desinvestimento
Durante os últimos 5 anos, o Venture Capital quintuplicou a entrada de investidores internacionais no país vizinho. O último relatório da Webcapitalriesgo anuncia quais poderiam ser os próximos principais desinvestimentos espanhóis.
“Entre os anos 2011 e 2016 o Venture Capital (VC) em Espanha viveu a sua etapa de maior crescimento e transformação”, afirma-se no recente relatório da Webcapitalriesgo cujo conteúdo integral pode ser consultado neste link . O estudo, citado pelo Empreendedores, reconhece que, nestas rondas, os business angels e fundos nacionais desempenharam um papel determinante, “validando o potencial da start-up nas suas etapas iniciais. 103 fundos internacionais de 17 países investiram em start-ups espanholas neste período, face aos 18 de 4 países que o tinham feito no período anterior”. Os Estados Unidos encabeçam a lista de investidores, seguindo-se o Reino Unido e França.
Segundo o relatório, no período compreendido entre 2011 e 2015 “o investimento do Venture Capital no nosso país cresceu 45% para atingir 352 milhões de euros, em média, e 23% em número de operações para 405, relativamente ao período anterior”. No que respeita a 2016, o investimento ascendeu a 385 milhões de euros em 436 investimentos, “de acordo com os números preliminares de 2016 publicadas pela ASCRI [Associação Espanhola de Capital, Crescimento e Investimento]”. Apesar da descida verificada, os analistas continuam a considerar a dinâmica de “muito positiva”.
O relatório destaca alguns casos de sucesso, como os da eDreams, Privalia, Idealista.com, Softonic, Ticketbis e Oryzon Genomics. Todos eles receberam financiamento de business angels, fundos de capital semente, de Venture Capital e de Private Equity, assim como empréstimos de organismos públicos como o CDTI ou o Enisa que participaram no financiamento de um terço destas empresas.
Além disso, no estudo são apresentadas as 11 start-ups que poderiam protagonizar o próximo grande desinvestimento em Espanha e que acumulam já um investimento superior a 750 milhões de euros.
1. AlienVault
Empresa especializada em providenciar soluções de gestão unificada da segurança (Unified Secutity Management) e informação sobre ameaças através de colaboração maciça. Cofundada e liderada por Julio Casal, conhecido pelo seu trabalho pioneiro em Segurança da Informação e Gestão de Eventos (SIEM), a Alien Vault começou a operar em Madrid no ano de 2006 e desde 2012 tem sede em Silicon Valley. Não obstante, mantém em Madrid e Granada a equipa de I&D que integra 50 funcionários, de um quadro total que ultrapassa os 200. A empresa é dirigida atualmente por Barmak Meftah (CEO). Entre os seus mais de 2.000 clientes, encontram-se a Universidade de Columbia e a NASA. A empresa deseja e prepara-se para entrar na Bolsa a médio prazo.
O primeiro investidor que apostou na AlienVault foi a Adara Ventures, acompanhada pelo fundo Neotec, que permanecem ainda como acionistas. Em princípios de 2012 entra o primeiro investidor internacional de referência, Trident, liderando uma ronda de 8 milhões de dólares (7 milhões de euros), juntando-se depois Kleiner Perkins e Sigma, noutra ronda que ascendeu a 22,4 milhões de dólares (20,36 milhões de euros). Em setembro de 2013 fecharam uma ronda de 26,5 milhões de dólares (24 milhões de euros), liderada por GGV Capital e na qual participaram também Top Tier Capital, Correlation Ventures e investidores anteriores. A última grande ronda, de 52 milhões de dólares (47 milhões de euros), fechou em agosto de 2015 com Institutional Venture Partners, dando também entrada a Jackson Square.
2. Cabify
Nascida em Madrid em 2011, atualmente a Cabify é uma empresa internacional de redes de transporte que liga utilizadores com proprietários particulares e empresas com veículos Premium, através de dispositivos móveis. A empresa, fundada originalmente por Juan de Antonio, contou no início com o apoio de Adeyemi Ajao (ex-confundador da Tuenti) e Brenda Wallace. Fizeram também parte da equipa inicial Samuel Lown (CTO), Michael Koper, Adrián Merino e Mario Carranza. Atualmente a empresa tem presença em 7 cidades espanholas, conta com filiais no México, Chile e Perú e está também em Portugal, Argentina, Brasil, República Dominicana, Colômbia, Equador, Panamá e Uruguai.
A empresa emprega 400 funcionários próprios e tem cerca de 9.500 condutores. Em 2015 multiplicou por 9 a sua faturação e tinha previsto fechar 2016 com 100 milhões de euros, receitas que provêm, maioritariamente, da América Latina. No seu primeiro ano e meio de vida, recebeu recursos de vários business angels e empresas de Silicon Valley. Em 2014 fechou uma ronda de 8 milhões de dólares (7 milhões de euros), liderada pela Seaya Ventures, à qual, algum tempo depois, se juntou a Amadeus Ventures. Em outubro de 2015, entrou a Rakuten, liderando uma ronda de 12 milhões de dólares (cerca de 11 milhões de euros) em conjunto com a Seaya. Não obstante, a entrada definitiva da Rakuten aconteceu em abril de 2016, quando obtém a maior participação de um único investidor: 103,5 milhões de dólares (94 milhões de euros).
3. Carto
Criada em Madrid no ano de 2012 como CartoDB, os seus impulsionadores, Sergio Álvarez Leiva (CPO) e Javier de la Torre (CEO), optaram posteriormente por chamar Carto à sua empresa, especializada na criação de mapas interativos a partir da geolocalização e de grandes volumes de dados. Decidiram também mudar a sede (em 2015) para os Estados Unidos.
Com a sua tecnologia open source (código aberto), são criados mais de 100 milhões de mapas por mês que são utilizados por mais de 1.400 empresas (algumas delas do tamanho da Google ou da NASA) e por 200 mil utilizadores. Com uma faturação que cresce 300-400% ao ano, as aspirações da Carto para 2016 eram duplicar a equipa, alcançando os 160 trabalhadores.
A primeira ronda, de 8 milhões de dólares (7,27 milhões de euros), obtida em 2009 foi liderada pelo fundo alemão Earlybird e os espanhóis Kibo Ventures e Vitamina K. No ano seguinte, fechou uma segunda ronda de 23 milhões de dólares (cerca de 21 milhões de euros), liderada pela Accel, à qual de associaram também a Salesforce e os antigos investidores.
4. Cornerjob
É uma aplicação móvel de classificados que se orienta para a busca de emprego e localização de candidatos. Criada ao abrigo da Antai Venture Builde, os cofundadores da Cornerjob são Miguel Vicente, Gerard Olivé e Mauro Maltagliati. Com sede em Barcelona, a empresa iniciou a sua operação em Itália no ano 2015, dando posteriormente o salto para o mercado francês. Em 2016, abriu em Espanha e México e prepara o salto para outros mercados europeus, América e Ásia. A empresa emprega mais de 70 trabalhadores.
Cornerjob fechou formalmente a sua primeira ronda em abril de 2016 por 12,3 milhões de euros, na qual participaram Antai, Sabadell VC, Bonsai, Cube, Ithaca, Samaipata, CaixaCR, Media Digital e Ad4Ventures. Três meses mais tarde anunciaram a série B de 22,5 milhões de euros liderada pela Northzone e que integrou também a e.Ventures.
5. Jobandtalent
Também para a procura de emprego, a Jobandtalent foi criada em Madrid por Felipe Navío e Juan Urdiales em 2009. Num primeiro momento, a start-up pôs a ênfase em empregos de alta qualidade para grandes empresas, como o BBVA ou Deloitte, obtendo receitas pela publicidade e pela recomendação de cursos. No entanto, a partir de 2016 a empresa muda para um novo modelo de cobrança de comissão pelo recrutamento de pessoal não qualificado para PMEs e serviços relacionados. Devido a isso, no ano passado a empresa implementou um processo de reestruturação da equipa de trabalho, que alcançava já os 350 funcionários repartidos pelas suas sedes em Espanha, Colômbia, México e Reino Unido. Em meados de 2015, a Jobandtalent tinha 5 milhões de utilizadores registados e 35 mil empresas clientes.
Os primeiros recursos atraídos pela empresa chegaram dos organismos públicos como Invercaria (Andaluzia), em 2009, Enisa, em 2010, e a contribuição de vários business angels. Em finais de 2012 dá-se a entrada da Kibo Ventures, assim como os family offices Next Chance e Pelayo Cortina e, em 2014, a da Qualitas e FJME-Fides numa ronda de 14 milhões de euros, coincidindo com a saída da Invercaria. Em princípios de 2015 fecham uma nova ronda de 23 milhões de euros liderada pela Pelayo Cortina e, no ano seguinte, dá-se entrada do investidor internacional Atomico, numa ronda de 37 milhões de euros.
6. Kantox
É uma plataforma de serviços de cobertura de câmbio de divisas entre grandes e pequenas empresas. Criada em Barcelona no início de 2011 por Philippe Gelis (CEO), Antoni Rami e John Carbajal, a Kantox sempre teve vocação global pelo que a start-up mudou a sua sede para Londres, centro nevrálgico do setor Fintech na Europa, embora mantenha o centro de operações em Barcelona.
A Kantox conta com mais de 2 mil clientes repartidos por 20 de países. No quarto trimestre de 2016, a empresa decidiu mudar o modelo de negócio, diminuindo o peso do papel de broker e aumentando o seu trabalho como fornecedor de tecnologia.
A sua primeira ronda foi fechada em 2012 com 1 milhão de euros, liderada pela Cabiedes e na qual participaram Mola, Lánzame e vários business angels. Em inícios de 2014 dá-se a entrada na empresa de dois grandes investidores internacionais, Partech e Idinvest, numa ronda de 6,5 milhões de euros. Na primavera de 2015, fecham uma nova ronda de 11 milhões de dólares (10 milhões de euros), completada pelos mesmos investidores e um novo business angel.
7. Scytl
Empresa líder mundial em soluções tecnológicas seguras de voto eletrónico, gestão e modernização eleitoral. Fundada no ano de 2001 por Andreu Riera como spin-off de um reconhecido grupo de investigação da Universidade Autónoma de Barcelona.
Durante os últimos 10 anos, a Scytl geriu mais de 100 mil eventos eleitorais em 20 países, entre os quais se encontram os Estados Unidos, México, França e Áustria. A empresa emprega mais de 600 trabalhadores em diferentes países e conta com mais de 40 patentes internacionais na área de segurança e processos eleitorais.
Quanto aos investimentos recebidos, o primeiro teve lugar em 2002, quando recebeu 1 milhão de euros de dois fundos geridos por Riva e García. Depois de receber um empréstimo do Enisa em finais de 2007, fechou uma nova ronda de 3 milhões de euros, na qual entrou o Nauta Capital. Em julho de 2010 incorporou o seu primeiro investidor internacional, Balderton, numa ronda de 7,5 milhões de euros. Em julho de 2014, fechou a sua maior ronda por um montante total de 80 milhões de euros, na qual participaram Vulcan Capital, SAP Ventures, Vy Capital, Adams Street e Industry Ventures. Finalmente, em princípios de fevereiro de 2017 atraiu 12 milhões de euros adicionais dos seus atuais acionistas. Com os novos fundos, a Scytl pretende aumentar a sua presença no mercado eleitoral do setor privado, onde o voto pela internet está a ganhar força. Com a última ronda, a valorização da empresa elevou-se 18%, ultrapassando os 360 milhões de dólares.
8. Stat-Diagnostica
Fundada no ano de 2010 por Jordi Carrera e Rafael Bru, a Stat-Diagnostica é especializada no desenvolvimento de sistemas de diagnóstico Near Patient Testing (próximos do paciente). Para o ano de 2017 prevê-se que a empresa, sediada em Barcelona, gere receitas provenientes de centros hospitalares e, a médio prazo, de clínicas e consultórios médicos.
No ano de 2011, a Ysios Capital tornou-se no primeiro investidor, acompanhado pela Axis e Enisa. Em abril de 2013 fecha uma ronda de 17 milhões de euros, que conta com os investidores internacionais Kurma, Idinvest e Boehringer. Entrou também a Caixa CR e investidores anteriores. Três anos mais tarde fecha uma nova ronda de 25 milhões de euros, liderada pela GilderHC.
9. PeerTransfer
Trata-se de uma plataforma de soluções privadas para a indústria da Educação que foi fundada no ano de 2009 por Iker Marcaide. Criada na Universidade Politécnica de Valência e com sede também em Boston, o objetivo da PeerTransfer, também conhecida por flywire, é ajudar estudantes internacionais a realizar o pagamento de matrícula, alojamento e manutenção de forma simples e económica em mais de 500 escolas, colégios e universidades dos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália com mais de 100 funcionários.
Esta start-up atraiu, desde o início, investidores internacionais. Assim, na sua primeira ronda – liderada pela Spark Capital – levantou 5,2 milhões de euros. Em meados de 2013, deu-se a entrada dos espanhóis Kibo Ventures e FJME-Fides, além da QED, numa segunda ronda de 5 milhões de euros. Em princípios de 2015 dá-se a incorporação da Bain Capital, liderando uma nova ronda de 22 milhões de dólares (20 milhões de euros).
10. Letgo
Fundada em Barcelona no ano de 2015 pelos empreendedores Alec Oxenford, Jordi Castello e Enrique Linares, a Letgo é um mercado virtual móvel que permite aos utilizadores a compra e venda de artigos em segunda mão. No seu primeiro ano de vida, a start-up, com sede em Nova Iorque e Barcelona, ultrapassou as 30 milhões de downloads. Em setembro de 2015, conseguiram fechar uma ronda de 100 milhões de dólares (91 milhões de euros), realizada pelo grupo multinacional sul-africano Naspers.
11. Wallapop
É também uma plataforma móvel de compra e venda de objetos em segunda mão baseada na geolocalização. A Wallapop nasceu no início de 2013 em Barcelona, tendo sido fundada por Gerard Olivé, Agustín Gómez e Miguel Vicente.
Pela sua aposta forte no marketing televisivo, a start-up aliou-se a grupos de comunicação, como Atresmedia, Zeta e Godó, trocando ações por publicidade. Não obstante, a Wallapop nasceu com vocação internacional, provando o seu modelo de negócio em Espanha, bem como em outros países europeus. Com o objetivo de dar o salto para o mercado norte-americano, fundiu as suas operações nos Estados Unidos com a Letgo.
Depois dos primeiros meses debaixo do guarda-chuva da Antai Venture, fechou a sua primeira ronda de 1,6 milhões de euros. Nesta ronda acorreram a Caixa CR, Bonsai, Enisa e o ICF, entre outros. Desde finais de 2014 a junho de 2015, geriram uma ronda de mais de 100 milhões de euros, desembolsados escalonadamente, o que deu entrada aos investidores internacionais Accel, Insight, 14W, New Enterprise Associates e Digital Sky Technologies. Nos últimos meses, circularam rumores que apontavam para uma nova mega ronda ou uma venda, opção esta desmentida pela empresa.