Espaço de Cowork de Nova Iorque está a inspirar cidades em todo o mundo

Cidades de todo o mundo estão de olho no New Lab, antigo estaleiro naval, em Nova Iorque em busca de inspiração.
Ao arrancar uma folha fresca de uma alface, o empresário Andrew Shearer pode mostrar como as luzes coloridas num armário hidropónico aumentam os nutrientes ou alteram os sabores e as cores das plantas que podem ser cultivadas numa cozinha de restaurante.
Morangos, pimentões e tomates são as próximas colheitas da sua start-up Farmshelf, que tem como objetivo reduzir o caminho percorrido pelos alimentos e os resíduos alimentares, ao oferecer sistemas automatizados para cultivar vegetais para uso comercial, cozinhas domésticas e até furgões móveis.
“Como próximo passo, [queremos] mudar a forma como o sistema de fornecimento de alimentos pode funcionar para os itens altamente perecíveis que muitas vezes acabam no lixo”, disse Shearer, no espaço de trabalho do New Lab, em Brooklyn Navy Yard (BNYDC).
A Farmshelf é uma das 95 empresas do New Lab, que abriga empresas como a Honeybee Robotics, que produz braços para veículos que andam sobre Marte e robots do tamanho de um camundongo, e a Spacial, que tem um dos seus drones pendurado no teto.
A antiga fábrica de navios de guerra de 1902 foi remodelada num imenso espaço de cowork e conta com dois andares e 7.804 metros quadrados para abrigar start-ups de robótica, inteligência artificial, dispositivos conectados, tecnologia urbana, arquitetura, impressão 3D e 4D, nanotecnologia, ciência dos materiais, biologia e desenho industrial.
Várias cidades de todo o mundo estão de olho neste espaço, com vista a substituir os empregos industriais em declínio por alternativas bem pagas, assim como a dar uma nova vida a espaços desprezados.
Depois de ser um próspero centro do East River da cidade de Nova Iorque, que empregava 70 mil pessoas, a região à beira-mar de Brooklyn caiu em abandono quando o negócio da construção naval fechou, disse David Ehrenberg, presidente-executivo do BNYDC.
Quinze anos depois, o local é sede de 330 empresas e emprega 7 mil pessoas, tendo-se tornado num bairro moderno, pontuado por projetos habitacionais e edifícios de apartamentos chiques.
Parceria com escolas locais para atrair jovens para a robótica
O BNYDC é parceiro das escolas locais para atrair crianças para áreas como robótica e conseguir estágio ou emprego numa das empresas de ponta, disse Ehrenberg, acrescentando que “se as coisas funcionam bem, outras cidades podem chegar aonde chegamos”.
Ao lado de empreendedores que desenvolvem nanotecnologia ou projetam móveis cinéticos, outras empresas do BNYDC estão a criar centenas de empregos manuais e mecânicos, que os especialistas urbanos dizem ser fundamentais para tornar as comunidades economicamente resistentes.
No Steiner Studios, onde a série da HBO “Girls” foi filmada, mais de metade dos funcionários trabalha como carpinteiros ou eletricistas.
A Crye Protection emprega mais de 200 pessoas, muitas das quais costuram equipamentos de camuflagem especializados e armaduras corporais flexíveis.
“Nenhuma cidade pode depender de uma única indústria, seja Roterdão e o seu porto, New Orleans e a petroquímica, Nova Iorque e finanças”, disse Michael Berkowitz, presidente do 100 Resilient Cities, programa de 164 milhões de dólares (138 milhões de euros), apoiado pela Fundação Rockefeller, que visa ajudar as áreas urbanas a desenvolverem a sua resiliência perante desafios físicos, sociais e económicos.
Para cidades como Glasgow, na Escócia, que já foi a maior construtora naval do mundo, o desafio é tornar o crescimento inclusivo, ao procurar preencher o espaço deixado livre pela indústria e encontrar novas maneiras de usar as capacidades de fabrico existentes.
Reaproveitar um espaço de 305 mil metros quadrados para empreendedores que procuram soluções para inundações e mudanças climáticas é uma opção que está a ser considerada em Nova Orleans, já que a cidade tenta afastar-se da dependência da indústria petroquímica.
“A parte mais importante para nós é garantir que estamos a treinar as pessoas da cidade, não apenas crianças … mas pessoas atualmente desempregadas para que possam aproveitar as inovações da nova economia”, afirmou disse Jeff Hebert, diretor de resiliência e vice-prefeito de Nova Orleans.
Embora as cidades com menos recursos possam ter dificuldades para replicar o sucesso de Brooklyn, a diversificação das economias e o apoio à inovação podem gerar ganhos, segundo os especialistas.