Opinião

Entre o rigor estratégico e a flexibilidade tática

Gonçalo dos Santos Rodrigues, Partner & Head of Consulting na Winning

A utilização da palavra “estratégia” devia constituir um caso de estudo: cabe em toda e qualquer frase de um pomposo relatório, é atirada para a mesa em cada discussão e serve de reforço positivo a qualquer argumento.

Ora, são muitos os casos em que a estratégia é tão inconsequente quanto a recorrente e vazia utilização do seu campo lexical. A estratégia é tipicamente tida como um momento estanque no tempo que acaba por não ser acompanhado de uma definição, gestão e implementação eficazes das medidas que lhe dão corpo.

De acordo com um estudo da Brightline Initiative (2020), apenas um quinto das organizações afirmam finalizar com sucesso mais de 80% das iniciativas estratégicas a que se propõem. Os fatores que justificam esta incapacidade são de naturezas distintas: humanas, organizacionais, competitivas ou tecnológicas, sendo que tais fatores criam um distanciamento entre o planeamento estratégico e a sua efetiva implementação.

Neste quadro, as práticas relacionadas com a gestão de portefólio, programas e projetos, sejam elas mais tradicionais ou mais ágeis, são ainda, e de longe, as mais utilizadas para implementação da estratégia.

Segundo dados da edição de 2021 do PMI Pulse of the Profession tem-se verificado um crescimento na representatividade de empresas com gabinetes de gestão de projeto (PMO), em particular nos de natureza organizacional (EPMO).

Analisando evolutivamente os dados das mais recentes edições do estudo, verifica-se um crescimento constante e reforçado do alinhamento entre as equipas de projeto e objetivos estratégicos, em particular nas organizações com um EPMO. Existe, no entanto, uma ideia pré-concebida de que a existência de práticas maduras de gestão de projetos implica rigidez processual. Tal maturidade, não só não constitui obrigatoriamente um exercício de formalização e rigidez, como aliás, são as organizações que adotam estas práticas de forma mais flexível que obtêm melhores resultados.

Na edição de 2021, o PMI concluiu que são as organizações mais flexíveis, ágeis e com maior permeabilidade a metodologias híbridas de gestão de projetos aquelas que mais se destacam. Estas organizações não só tendem a ser mais eficazes no alcance dos objetivos, como entregam uma percentagem mais significativa de projetos dentro do prazo e dentro do orçamento.

Posto isto, não podia terminar com maior clichê: encontramo-nos num contexto de transformação social e económica sem precedentes. Esse contexto traz-me à memória uma velha ideia (cujo campo político de onde é oriunda ficaria chocado com a sua utilização no mundo dos negócios): garantir a maior flexibilidade tática, no maior rigor estratégico

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