Opinião
Entre a fatalidade e a escolha
Em 2011, o Turismo do Alentejo promoveu um jantar no Convento do Espinheiro com os diferentes agentes do setor e o secretário de Estado do Turismo na data, pessoa pela qual ainda hoje tenho grande consideração.
Durante esse jantar, com uma mesa muito grande, todos os empresários tiveram a oportunidade de fazer a sua intervenção com direito a resposta por parte do senhor secretário de Estado.
Entre os habituais lamentos e solicitações, fugi à regra e optei por alertar o senhor secretário de Estado para o maior problema com que a minha empresa se defrontava, e hoje ainda mais se defronta, problema esse estrutural e vital, na minha opinião, para a economia e futuro de Portugal.
Repito, jantar em 2011.
Informei então o senhor secretário de Estado que o problema que mais me afligia era a desertificação populacional do interior do país.
Na sua resposta à minha “aflição” o senhor secretário de Estado respondeu:
“Eu sou um liberal e por isso não tenho que intervir nas escolhas das pessoas”.
Pois bem. Como no devido jantar já não tinha direito ao contraditório, não pude responder, mesmo que contra a opinião facciosa de muitos outros empresários do Turismo, de que quem vive no interior não tem escolha.
A opção é mesmo ir embora, sair. E esta realidade é ainda mais válida para os mais jovens.
E porque volto hoje ao tema?
Parece que com o incêndio de Pedrogão Grande, Portugal voltou a despertar para este gravíssimo assunto.
Reparem. Em grande parte das nossas vilas do interior os jovens têm escola até ao 9º ano. Após isso terão de se deslocar para cidades mais próximas dos seus locais para completarem o 10º, 11º e 12º ano. Após isso vão para a universidade e já lá vão 4 a 6 anos desde que deixaram de estudar nos seus locais de origem. Alguém julga que voltarão para trabalhar no lugar onde nasceram e cresceram depois de um curso universitário?
Claro que não.
Infelizmente que não.
Num país sempre mais rápido a reagir por impulso, sempre astuto a criar comissões de inquérito e comissões de estudo, do que em planeamento estratégico de longo prazo e implementação de ações e medidas reais, efetivas e de impacto sustentável e positivo na qualidade de vida das pessoas e no futuro de Portugal, este tema continua arredado das prioridades dos nossos sempre mediáticos políticos.
Conhecer a realidade do nosso país não é fazer viagens e roteiros pelas zonas rurais e não urbanas, sempre acompanhados por caravanas de jornalistas, visitar à pressa três capitais de distrito por dia, que se vestem de gala para receber os de fato e gravata oriundos dos gabinetes e salas climatizadas do nosso obeso parlamento.
Acreditem ou não, o problema do turismo e das empresas no interior não é levar para lá os clientes ou vender os seus produtos. O maior problema das empresas do interior é ter alguém para receber os seus clientes ou produzir os seus produtos. Sim, mesmo nas zonas de elevadíssimas taxas de desemprego.
Já em textos anteriores referi as estatísticas que dizem que em 2040, 80% dos portugueses vai viver no litoral. E nessa altura as estradas construídas e as vias rápidas já nem gente terão para lá morrer.
Para fixar as pessoas nas zonas não urbanas é necessário criar incentivos fiscais reais para quem lá quer investir e para quem lá quer trabalhar.
E depois sim, poderemos perceber que lá se tem mesmo melhor qualidade de vida, que lá se pode nascer, crescer e trabalhar com futuro.
Depois os de lá poderão então escolher.
Nesse dia “o sair” deixará de ser uma fatalidade e passará a ser uma opção, e então sim um ato verdadeiramente liberal.