Empreender após a maternidade: conselhos para quem vai começar
Quando nascem os filhos as responsabilidades aumentam e a tendência de muitos pais é procurar maior estabilidade financeira e profissional. Se acabou de ser mãe, conheça o trabalho de uma start-up brasileira e o programa da Google para ajudar as mulheres a empreender com sucesso e a vencer barreiras no mercado de trabalho.
Ao longo da vida, são várias as razões que podem levar uma mulher a sair da sua zona de conforto e a tornar-se numa empreendedora de sucesso. Seja porque herdou um negócio de família e tem de assumir as rédeas da situação, porque está desempregada e precisa de criar o próprio emprego, porque se sente estagnada na carreira profissional e quer tornar-se dona do seu destino ou porque tem uma ideia que gostava de tornar real. Quando surge uma destas situações, as mulheres com perfil de empreendedoras não têm dúvidas: há que arregaçar as mangas e seguir em frente.
No entanto, as mulheres continuam a ter pouca expressão em cargos de topo. Portugal tinha 36% de mulheres em cargos de gestão no terceiro trimestre de 2020, ligeiramente acima dos 34% da média da União Europeia (UE), segundo dados divulgados pelo Eurostat . De acordo com o gabinete estatístico europeu, 46% dos trabalhadores na UE são mulheres, mas só 34% ocupam cargos de gestão.
A maternidade continua a constituir uma penalização para o sexo feminino. De acordo com um estudo da Organização Internacional do Trabalho, a maternidade reduz “as possibilidades de as mulheres serem empregadas”. Em 2015, 45,8% das mães de crianças mais novas estavam empregadas, contra as 53,2% daquelas sem filhos ou mães de crianças com menos de seis anos – numa análise de 51 países. Ainda segundo o estudo, as portuguesas são das mulheres que mais têm crianças, com até cinco anos de idade, a seu cargo.
Para ajudar a mulher a progredir na sua carreira depois de ser mãe e conectá-la ao ecossistema de inovação e tecnologia, foi criada, em 2016, por Dany Junco, a B2Mamy, no Brasil. Em entrevista à revista brasileira Claudia, a CEO da strat-up, diz que “o nosso propósito é tornar as mães líderes e livres através da educação digital”.
Segundo Jungo, as competências tecnológicas são cruciais na recolocação no mercado de trabalho e no sucesso do empreendedorismo. Algumas das iniciativas da B2Mamy incluem a capacitação de mulheres da periferia na área de social media e formação de profissionais de tecnologia para atuar em cargos de liderança como CTO. “A educação é um grande pilar, assim como a geração de renda”, acrescenta.
Além de investir nas suas competências, unir-se a uma comunidade para ganhar conhecimento e contatos profissionais é uma das principais dicas da brasileira para as mães em transição de carreira.
Outro conselho da empreendedora prende-se com “o arrumar a casa primeiro”. “Cuide da sua saúde mental. Estamos esgotadas, precisamos pedir ajuda”, diz. No seu caso, contar com o apoio da mãe e do marido tem sido fundamental para dar conta do trabalho, casa, cuidados com o filho de seis anos e das aulas online.
Também a Google tem apoiado as mães brasileiras na sua vida empreendedora. Contar histórias de mulheres que conseguiram ser bem-sucedidas nos negócios depois de serem mães é uma das estratégias do Google for Startups Brasil.
“Eu acredito na força da visibilidade, quando começamos a contar casos de mulheres, outras se sentem empoderadas para também estarem lá”, diz Fernanda Caloi, gestora de programas do Google for Startups Brasil. Caloi é responsável pelo programa de capacitação técnica para start-ups que, este ano e pela primeira vez, terá uma turma formada por empresas lideradas exclusivamente por mulheres.
São dez as start-ups escolhidas que terão sessões de orientação online com especialistas do Google e empresas parceiras, com vista a resolver desafios técnicos e de liderança. Estarão disponíveis módulos sobre liderança e foco em comunicação. “As mulheres não falam sobre as suas conquistas. Mesmo quando têm qualidades, colocam-se numa posição modesta e humilde”, acrescenta a executiva e mãe de três filhos.
A proatividade na procura pela diversidade trouxe resultados animadores para a comunidade da Google for Startups no Brasil. Em 2016, eram 31% de mulheres entre todas as pessoas que participavam nos eventos.
Outo dos conselhos de Caloi é que as mulheres empreendedoras conheçam muito bem os seus pontos fortes. A comunicação pode ajudar a mudar a realidade: estudo divulgado pela Crunchbase em 2020 indicou que, mesmo apresentando um aumento de oito vezes nos últimos dez anos, os investimentos em empresas fundadas por mulheres representam apenas 2% do total.
Para as mulheres que querem mudar de emprego, a brasileira sugere ainda destacarem as suas competências digitais. A maternidade traz competências valiosas, afinal, qualquer mãe é uma gestora de crises. Empatia, capacidade de planeamento e de atuação em cenários complexos também são pontos importantes entre as virtudes conquistadas pelas mães, frisa Caloi.
As conquistas são possíveis, mas quer a gestora de programas do Google for Startups Brasil, quer a fundadora da B2Mammy, evidenciam o cuidado com a saúde mental como uma das prioridades na vida de quem foi recentemente mãe.