Empreendedores ‘millennium’: como lidar com a falta de business angels na Europa
Os investidores privados financiam uma percentagem muito pequena das novas empresas quando comparadas com o número total de empresas já em funcionamento. Para além disso, os fundos públicos estão normalmente limitados a certos requisitos que empresas recém-formadas não conseguem preencher.
O colapso económico que afetou vários países da Europa ao longo dos últimos anos gerou um impacto na perceção do espirito empreendedor. A população nascida entre 1981 e 1995 viu-se entrar no mercado de trabalho sem que tivesse uma oportunidade real para ser bem-sucedida. No entanto, agora que as curvas do crescimento económico estão a voltar ao sentido desejado, devemos refletir no que aconteceu à geração do desempego, a chamada geração Millennium.
Eduardo Salido, especialista espanhol em inovação e economia, referiu no relatório do Campus Party 2013 da Telefónica que a Europa tem um número de start-ups, hubs e centros de investimento por capita próximo ao dos Estado Unidos. Mas há uma diferença: na Europa 80% das start-ups foram criadas depois de 2007, escreve o Euronews.
Embora tal não signifique necessariamente que a percentagem de empresas que sobrevivem após a fase semente e de estádios iniciais de investimento seja idêntica à existente nos Estados Unidos, demonstra o valor que os jovens empreendedores europeus têm na economia europeia.
Se tivermos também em conta o valor dos projetos europeus fora dos seus países de origem no reacender da economia, o que se destaca é a elevada participação de jovens profissionais provenientes de países em que crise económica em 2008 teve grande impacto.
De acordo com as ultimas estatísticas do programa de Erasmus para jovens empreendedores, uma iniciativa da Comissão Europeia para promover os objetivos traçados no Europe 2020 Growth and Jobs Strategy, a Itália surge com o maior número de jovens empreendedores a participarem no programa de intercambio, seguidos pela Espanha e pela Roménia.
Este programa financia a estadia num país diferente da União Europeia durante um a seis meses, permitindo aos novos empreendedores terem uma vida de trabalhador a tempo inteiro do que é usualmente chamado de “hóspede empreendedor”.
Silvia Sarria, cofundadora da Innogate to Europe, uma das plataformas espanholas através das quais os empreendedores podem beneficiar do programa, referiu ao Euronews que mais de metade dos empreendedores com quem têm trabalhado entram em contacto com eles quando estão a começar os seus próprios negócios.
“Os investidores privados financiam uma percentagem muito pequena das novas empresas quando comparadas com o número total de empresas já em funcionamento. Para além disso, os fundos públicos estão normalmente limitados a certos requisitos que empresas recém-formadas não conseguem preencher. É por isso que recorremos ao que chamamos múltiplos agentes, ou seja universidades, hubs e centros de investimento, para testar e apanhar os empreendedores quando este ainda estão em fases iniciais das suas empresas, de modo a poderem beneficiar da experiência além fronteiras e de formas diferentes de criar empresas”, explicou.
Alfonso Peletier, fundador e CEO da ep!c>labs, uma start-up espanhola com um inovador software para os media e apoio à transformação digital a start-ups, explica que a maioria das novas empresas com que já trabalharam são 90% de Millennials.
Exemplo disso é a Releno, uma plataforma online de aluguer, ou a Kibugreen, empresa que prepara o lançamento do ‘KIVI’, um vaso para flores inteligente que lhe permitirá tratar das suas plantas remotamente através do seu telemóvel.
“A relação chefe-empregado já não é a mesma. Transformou-se numa quase relação entre pares, em que o colaborador tem muito a dizer sobre o negócio. No entanto, os investidores privados europeus ainda têm dúvidas em avançarem com apostas de baixo risco e fundos públicos devido à enorme lista de trabalho burocrático que tal acarreta”, refere Borja Uría, CEO e CTO da Kibugreen.
Os Millennials começam em média quarto vezes mais negócios com um turnover 43% mas elevado do que a geração Baby Boomer, segundo o Global Entrepreneur Report de 2016 do BNP Paribas.
Segundo este relatório, cuja amostra em causa integrou 47% de empreendedores europeus e apenas 14% de americanos, as mulheres vêem-se empoderadas pelo novo mercado de trabalho e têm mais sucesso que os homens quando se trata de começar um negócio em setores ligados ao retalho e aos serviços profissionais, dois dos setores mais geradores de riqueza.
Hoje quase parece ser moda dizer-se que os jovens estão adormecidos, passivos e desempregados, mas a realidade é que os únicos dados avançados pelos media referem que os EUA, a China e a Alemanha são os países mais atrativos para os empresários. A cultura de investimento europeia manter-se-á estagnada enquanto isto acontecer. Continuará a ser mais fácil acusar os europeus de serem demasiado tímidos para começarem os seus próprios negócios e defender o ambiente empresarial americano do que apostar em projetos de inovadoras star-ups europeias.