Opinião
Ego vs. Legado: a escolha de um CEO
Uma das armadilhas mais perigosas para quem lidera é também uma das mais invisíveis: o ego. Não falo daquele ego saudável que nos dá confiança e energia para liderar, mas sim do ego cheio, alimentado pelo poder, pelos aplausos e, muitas vezes, pela solidão no topo.
Poucas forças internas corroem mais um líder do que um ego descontrolado. Ele não aparece de forma evidente; manifesta-se sorrateiramente. No início, pode parecer apenas um desejo legítimo de reconhecimento. Mas, sem dar por isso, começamos a confundir o sucesso da empresa com o nosso valor pessoal, a acreditar que somos insubstituíveis e que as críticas não passam de ataques. É nesta fase que o ego se torna um inimigo silencioso.
O ego cega. E líderes cegos tomam decisões erradas—movidos pela vaidade, pelo orgulho ou pelo medo de parecerem vulneráveis. Ele impede a escuta, bloqueia a partilha de poder e dificulta a admissão de erros. Um ego insuflado torna impossível preparar uma sucessão eficiente, pois líderes dominados pelo ego não aceitam a ideia de serem substituídos.
O momento perigoso de um CEO
Chega sempre um momento crítico na vida de qualquer líder, aquele em que as suas certezas deixam de ser questionadas. Quando apenas se rodeia de vozes que concordam com a sua opinião, confundindo respeito com obediência e liderança com autoritarismo disfarçado. Este é o palco ideal para decisões desastrosas e um legado comprometido.
Há, no entanto, um antídoto poderoso contra o ego desmedido: a humildade. Não a humildade como submissão, mas como uma consciência clara de que o propósito maior deve sempre prevalecer sobre o ego. Liderar com humildade é lembrar que ocupamos um cargo, mas não somos definidos por ele; que somos guardiões de algo maior que nós. O verdadeiro legado não está no que construímos, mas no que deixamos para que outros possam continuar a construir.
Humildade é admitir erros sem receio, dar espaço à diversidade de ideias, destacar os talentos da equipa sem sentir que isso diminui o nosso valor. E, acima de tudo, é preparar sucessores melhores do que nós. O verdadeiro líder não busca perpetuar-se, mas assegurar que o projeto sobreviva para além de si.
A humildade, como o ego, precisa de ser trabalhada. Requer auto-observação diária, escuta ativa e um constante regresso ao porquê de liderarmos. Humildade não diminui lideranças; pelo contrário, engrandece-as, mantendo-as conectadas com a realidade e com aqueles a quem servem.
Se há algo que aprendi é que um líder incapaz de dominar o seu ego verá esse mesmo ego destruir aquilo que construiu. Já presenciei líderes brilhantes comprometerem as suas carreiras porque não souberam sair de cena, escutar ou adaptar-se no momento certo. Quem acompanhou o meu percurso, conhece os legados deixados no mercado, de empresas, que se tornaram melhores do que eu – esse foi o meu propósito de liderança e por isso, esse legado pernamece até hoje.
Escolhas determinam legados
Ao liderar, estamos constantemente a tomar decisões que terão impacto nas vidas das pessoas à nossa volta. Essas escolhas determinam não só o nosso sucesso como líderes, mas também o nosso legado.
Por isso, é importante lembrarmos que as nossas ações e decisões devem ser guiadas pelo bem maior daqueles que lideramos. Devemos manter sempre em mente os valores e princípios pelos quais nos guiamos e nos certificar de que eles estão alinhados com as necessidades e aspirações da nossa equipa.








