As diferenças salariais entre géneros podem começar a ser combatidas na infância

Um novo estudo revela que, em muitos casos, as diferenças salariais entre géneros começam logo com a semanada que os pais dão às crianças.

Nos últimos anos, os casos de mulheres que ocupam os mesmos cargos que os colegas homens, mas que têm salários substancialmente inferiores tem sido notícia nos mais diversos setores. Esta questão, aliás, tem sido amplamente discutida no sentido de finalmente promover a igualdade entre géneros.

Portugal não escapa a este problema. Dados relativos a 2016 mostram que os homens portugueses recebem mais 17,5% do que as mulheres, uma das disparidades salariais mais acentuadas na Europa.

Um novo estudo parece ter a resposta para estas diferenças. Conduzido pela BusyKid, uma app focada nas verbas que os pais dão, semanalmente, às crianças, o estudo sugere que as diferenças salariais entre géneros podem começar a ser combatidas logo na infância.

Isto porque, segundo a informação recolhida pela equipa da BusyKid durante um ano, enquanto as raparigas recebem uma média de 6,71 dólares (≈5,7€), os rapazes somam 13,80 dólares (≈11,73€). A amostra do estudo – que não tem base científica – foi de 10 mil agregados familiares.

Segundo o que o blog da empresa refere, a razão para esta diferença de valores prende-se com o facto de serem dadas mais oportunidades de ganhar dinheiro aos rapazes. “Em média, por executarem tarefas, os rapazes receberam mais do dobro do que as raparigas.”

Na perspetiva do CEO da empresa, Gregg Murset, “foi interessante e chocante ver a diferença nos pagamentos entre rapazes e raparigas presentes na nossa rede. Enquanto pai de rapazes e raparigas, acho que é uma chamada de atenção para os pais se tornarem conscientes do que estão a pagar, de forma a tornarem-se o mais justos possível. Acho que nenhum pai está a pagar mais intencionalmente com base no género, mas isso está claramente a acontecer”.

Essas tarefas, muitas vezes, divididas por géneros, podem explicar a lacuna entre as semanadas das crianças. Numa entrevista à CNN, o CEO da BusyKid afirmou que “por norma, os trabalhos mais duros requerem pagamentos maiores”. Ou seja, “cortar a relva durante três horas é um trabalho duro” que tem de ter compensações maiores. “Nós, enquanto pais, estamos a dar tarefas às raparigas que não requerem ficar duas ou três horas na rua”, o que poderá explicar as diferenças.

A partir desta lógica é fácil imaginarmos um cenário em que duas crianças, de uma mesma família, começam com a mesma semanada, mas que a partir do momento em que as tarefas são divididas entre os géneros veem os seus orçamentos semanais diferenciados, o que poderá ser uma pequena explicação para as discrepâncias salariais entre homens e mulheres na fase adulta.

Apesar de receberem substancialmente menos, as raparigas conseguem poupar quase tanto dinheiro quanto os rapazes. Em média, enquanto estes últimos poupam 24,98 dólares (≈21,2€), as raparigas conseguem chegar aos 23,49 dólares (≈20€).

Esta análise pode explicar a razão para as mulheres serem mais eficientes a converter os investimentos recebidos em receitas no mundo das start-ups. Enquanto que por cada dólar investido, os fundadores homens só conseguem devolver 31 cêntimos, as mulheres geram 78 cêntimos.

*fotografia por: Nicolas Picard.

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