Opinião
COVID-19: Lições importantes
Neste momento das nossas vidas tão particular, não me faria sentido falar de outra coisa que não fosse relacionada com o COVID-19, pelo que gostaria de partilhar convosco algumas conclusões que tenho vindo a tirar ao longo de todo este processo desconhecido.
O mundo mudou em muito pouco tempo
Pois é. Este vírus fez-nos mesmo parar. E foi mesmo de um dia para o outro. As empresas que estavam a faturar muito bem num dia, no dia seguinte faturaram zero e no outro já nem sequer estavam em pleno funcionamento ou já se encontravam completamente paradas.
“Fiquem em casa!”
Além desta crise ser essencialmente uma crise sanitária, e porque tudo está relacionado, depressa atingiu o setor económico, que é como dizer que nos atingiu a todos nós mesmo sem estarmos infetados com o vírus. Compreendo a situação da quarentena profilática como medida de prevenção, mas já não compreendo aqueles que insistem para que fiquemos em casa (independentemente do que isso possa custar às empresas) exigindo receber o mesmo salário ao final do mês, tendo produzido muito menos que o esperado.
Não nos podemos esquecer que, além dos setores essenciais, existem outros setores que serão dizimados se pararem de produzir. Neste contexto, também não compreendo aqueles que referem que a responsabilidade de manter postos de trabalho é das empresas. Não tive conhecimento de nenhuma medida por parte do Estado, até ao momento, que não seja aumentar o endividamento das empresas, no sentido de manter a liquidez que permita suportar custos fixos (mesmo quando o Estado ordena o seu encerramento e não permite à empresa fornecer os seus produtos ou serviços).
A importância do Estado
Gostaria de questionar os ultraliberais e mesmo os liberais, se acham que as suas empresas, dos quais são donos ou trabalhadores por contra de outrem, vão ultrapassar esta crise sem recorrer à ajuda do Estado para pagar os seus salários (mesmo que essa ajuda apenas de cinja à liquidez acima referida). Se defendem um papel menos relevante do Estado na economia, e consequentemente menos impostos sendo cobrados, seria interessante perceber como dariam a volta a uma situação desta natureza sem uma ajuda coordenada entre o Estado Português e a União Europeia.
Saúde privada
É mais do que compreensível que qualquer serviço de saúde pública tenha dificuldade em conseguir lidar com uma situação desta natureza. Mas não tenham dúvidas algumas que só um serviço nacional de saúde conseguirá combater (da melhor forma possível) algo desta natureza. E portanto, para os defensores da saúde privada e de um papel menos ativo do Estado na saúde em geral, questiono-os se teríamos “apenas” o número de mortes que têm vindo a anunciar ou se não teríamos muitas mais.
Profissões mais valorizadas
É interessante constatar que muitas das profissões que nos ajudarão a superar e a manter o conforto das nossas vidas, são das mais mal remuneradas. Começo pelos trabalhadores dos supermercados, que sendo das profissões mais “descartáveis” dos dias de hoje, acabam por ter um papel funcionamento na manutenção da nossa calma e ansiedade. O mesmo se aplica aos operadores de contact center, que ajudam a manter o normal funcionamento de um conjunto de setores fulcrais nas nossas vidas. Operadores de bombas de gasolina, pescadores e outros profissionais da área alimentar, forças de segurança, alguns serviços municipais que não podem mesmo parar, e termino com os profissionais de saúde, que muitos deles são mal pagos para o serviço que prestam, bem como o risco de saúde que correm diariamente a cuidar e tratar das nossas famílias. Não deixa de ser irónico que muitas das profissões melhor remuneradas, sejam aquelas que hoje se encontram a trabalhar em regime de teletrabalho no conforto dos seus escritórios com vista para o jardim.
Teletrabalho
Um dos poucos aspetos positivos desta crise é que muitas empresas se vão aperceber que será possível, daqui em diante, operarem e funcionarem em regime de teletrabalho, significando isso um equilíbrio vida-trabalho muito relevante para os seus colaboradores, e simultaneamente, uma redução de custos fixos para a empresa. Creio que esta situação irá acelerar o desenvolvimento do conceito de teletrabalho para áreas que até agora eram complemente contra esse regime. Também acho interessante que muitas dessas empresas, que defendiam e obrigavam os colaboradores a estar presentes nos seus escritórios, se tenham vangloriado e feito mesmo campanhas de marketing nesse sentido, quando simplesmente foram obrigados pelo Estado a colocar os seus colaboradores nessa situação. Que isto seja o gatilho para que muitos de nós fiquemos a trabalhar de casa mais vezes do que o habitual, tendo com isso uma melhor qualidade de vida.
Funcionários públicos
Uma vez mais, os únicos trabalhadores que estão mais salvaguardados na situação do emprego são os funcionários públicos, curiosamente são os que mais protestam e reclamam melhores condições. Durante esta crise, aposto que não houve nenhum colaborador ou empresário que não pensasse no futuro da sua família, bem como nos tempos que se avizinham. Por isso, custa-me compreender como a generalidade dos funcionários públicos continue a achar-se injustiçado com algumas das condições de trabalho. É importante não esquecer que as condições não se medem apenas pelo salário.
Inteligência artificial
Creio que alguns setores vão acelerar o investimento em inteligência artificial, tais como a aviação, retalho e mesmo a construção civil. Estes são setores que no futuro terão a possibilidade também de aplicar o regime de teletrabalho a grande parte dos seus colaboradores. Parece quase impossível, mas creio que não estamos assim tão longe dessa situação!
Melhores dias virão!








