Opinião

Muitas são as ocasiões em que já ouvimos alguém a falar economês. Em si mesmo, falar em economês nada mais é que recorrer a vocábulos frequentemente utilizados em economia ou gestão e que não integram o vocabulário de uso corrente. “Superavit”, “balança comercial” ou “cash-flow” são ótimos exemplos de economês. Nenhum político, gestor ou comentador sobrevive sem as utilizar, de forma frequente ou moderada.
Quem trabalha no mundo das empresas, porém, está submetido à tirania do consultês. Contrariamente ao economês, cuja existência é até um pouco desdenhada pela maioria das pessoas, não perceber consultês é prova de ignorância do pobre gestor e impede o seu progresso dentro da empresa. Mais, apenas o seu excelente domínio e continuado aperfeiçoamento com novos vocábulos pode garantir uma boa carreira.
Desta forma, o discurso da gestão está impregnado de palavras que, de tão ponderosas, quase impedem a clareza de raciocínio. Por exemplo, todo o consultor inclui a “sustentabilidade” no seu relatório final. De tão abrangente, a palavra perde quase sentido. Significa ele a sustentabilidade do próprio negócio ao longo dos tempos, a sua sobrevivência, ou apenas um conjunto de práticas que não afetam o ambiente? Ou ainda a continuação de outras práticas, que, em si, podem ser repetidas sem necessidade de mais esforço ou investimento?
Estas imprecisões aparentemente judiciosas alimentam o consultês. A “colaboração” é outra palavra perigosíssima. A “colaboração” pode produzir excelentes efeitos, dissolver barreiras entre pessoas e departamentos, permitir a troca de conhecimentos e o florescimento de boas ideias. Mas, levada ao extremo, pode causar confusão, com dezenas e por vezes centenas, talvez mesmo a totalidade da empresa envolvida em pequenas decisões que, por impossíveis de conciliar, morrem quando o cão ladra, assustado com a confusão reinante. Mas não há consultor que ouse excluir a “colaboração” como mote e incentivo às boas práticas de gestão, muitas vezes sem definir os seus limites, regras e âmbitos de aplicação.
Recentemente chegou-nos o “trabalho remoto” e a “flexibilidade” na relação de emprego. A busca do trabalho remoto veio como consequência da pandemia e rapidamente os consultores abraçaram as mil e uma formas de o permitir, rentabilizar e explorar. Haverá menos espaço arrendado para escritórios, e a produtividade vai aumentar, bem como a lealdade e permanência de quem trabalha. No entanto, um estudo recente do MIT veio determinar com certeza estatística que, para trabalhadores menos qualificados, a existência de um horário de trabalho e de um local certo para o seu exercício permite uma retenção de trabalhadores seis vezes superior à opção “remota” e “flexível”.
Portanto, cuidado com o consultês, as palavras utilizadas e o sempre crescente número de modismos cuja utilização damos como mantra à solução dos desafios das empresas. Melhor será recorrer a essa regra tão útil ao bom senso e perguntar sempre “Porquê” antes que o último slide nos convença que há solução para tudo desde que as palavras soem bem…