Opinião

Construtech – o setor de construção não é estranho à inovação!

Ricardo Luz, empresário

A construção, responsável por 9% do PIB da União Europeia, representa um mercado de € 2 triliões e emprega 18 milhões de pessoas. É, porém, um dos sectores menos digitalizado, com quase estagnação da produtividade nas últimas duas décadas, crescendo apenas 1% – uma fração da melhoria em outras indústrias tradicionais – de acordo com dados da Comissão Europeia.

As tecnologias de construção estão no centro de muitos feitos da engenharia do mundo moderno e a indústria tem feito grandes avanços, entre outros, ao nível da segurança, controle de poluição e impacto ambiental. Mas pode e deve ir muito mais longe.

Novas tecnologias, a custos cada vez menores, ao nível da inteligência artificial, visão computacional, robótica, drones, etc, bem como a inovação constante ao nível dos materiais pode aumentar em muito a produtividade e desempenho económico e ambiental da indústria.

Muitas empresas maduras desenvolvem projectos de Intrapreneurship, contribuindo para a criação/desenvolvimento de uma cultura de inovação interna. É importante realçar que a inovação está ao alcance de qualquer empresa, independentemente da sua dimensão, seja por via interna ou por aquisição de start-ups, fundamentais ao processo de transformação da indústria dado o seu caracter inovador, e muitas vezes disruptivo, nos processos, materiais e tecnologias.

Inovadores e empreendedores tecnológicos estão cada vez mais atentos à indústria da construção como “the next big thing”. Empreendedores e seus investidores são atraídos pela dimensão do mercado e, em especial, pelo impacto de transformação digital num sector que tem sido um “gigante adormecido”.

“Os maiores desafios da indústria da construção são a produtividade, o lixo e os custos. A produtividade porque pouco melhorou ao longo de várias décadas, o lixo porque a indústria enfrenta uma necessidade urgente de melhorar a gestão de resíduos, e os custos porque há grande potencial de ganhos de tempo neste sector”, diz Alban Mallet, fundador da XtreeE, que usa impressão 3D para produzir desde paredes a pontes.

A start-up francesa Hiboo, que fornece uma plataforma para ajudar as empresas a gerir equipamentos pesados, camiões e veículos, concluiu que em 15.000 peças de equipamento que rastreia há em média 40% de ‘inatividade’, o que significa que os motores estão ligados mas o equipamento não é usado.

“No final de um ano, numa frota de 50 camiões, pode-se economizar um milhão de dólares e evitar centenas de toneladas de CO2”, diz Charles Bénard, cofundador.

“Há muitas comunicações sobre sensores, internet das coisas, dados e todos os tipos de dispositivos modernos a serem implementados no sector da construção”, diz Emeric Mourot, fundador da My Digital Buildings, que cria ‘gêmeos digitais’ de estaleiros de obras.

Mas a indústria da construção continua a ser um mundo conservador, produto de um mercado fragmentado, com muitos players diferentes envolvidos nas fases da vida de um projeto, de arquitetos a construtores, promotores e diversos fornecedores, levando muitas vezes a uma coordenação complicada e percalços de comunicação, causa de retrabalhos, atrasos e custos imprevistos. Melhorar a produtividade é a chave para resiliência e competitividade das empresas

Responsável por gerar 39% do carbono global, a indústria da construção enfrenta enormes desafios no caminho para a sustentabilidade. Só em 2020 foram criadas 374 milhões de toneladas de resíduos de demolição. Para colocar em perspectiva, o equivalamente a 37 mil vezes o peso da Torre Eiffel.

“O sector da construção é como um velho dinossauro que finalmente está pronto para se mover,” explica Lucile Hamon, a fundadora da start-up Backacia, uma plataforma de compra e venda de componentes reutilizados.

Gonzalo Galindo, presidente-executivo de Madri CEMEX Ventures, a Venture Capital da Cemex, diz que os desafios operacionais são grandes, especialmente para construtores com margens muito reduzidas. E se há alguém que pode ajudar a indústria da construção a sair da sua zona de conforto e tentar coisas novas são as start-ups, até porque muitos dos empreendedores não querem enfrentar as grandes corporações, mas sim trabalhar lado a lado com elas, pois acreditam ser essa a chave para vencer num sector onde é difícil entrar e ainda mais difícil escalar.

“A tecnologia traz uma nova liberdade à indústria da construção. As pessoas costumavam conceber coisas incrivelmente inovadoras e, em seguida, recuavam na hora de executar a obra, porque era absurdamente caro. Nós queremos tornar a visão arquitetónica concretizável, por isso lançamos a XtreeE”. lembra Mallet.

Se a Europa quiser cumprir as suas metas climáticas, vai ter de enfrentar a questão da construção de uma forma sistemática. Tal só será possível com inovação, novas tecnologias e soluções digitais.

E tal só será possível se todos, Venture Capital, empreendedores e empresários da construção, perceberem que há todo um mundo de oportunidades para quem juntar o conhecimento da indústria à inovação tecnológica das start-ups, tudo isto suportado por uma indústria de capital de risco disponível para financiar projectos inovadores, por vezes arriscados mas com grande potencial de rentabilidade.

“Construction tech, a Sifted Intelligence report”, fonte principal.

Nota: Este artigo segue a antiga ortografia por vontade expressa do seu autor.

Comentários
Ricardo Luz

Ricardo Luz

Ricardo Luz é Partner da Civitta Portugal, e Co-Founder da M.Ventures, Absolute H. e Fluidinova. É Presidente da Invicta Angels - Associação de Investidores early-stage do Norte, da qual foi fundador, e é Vice-presidente do Board da EBAN, The European Trade Association for Business Angels. É Consultor de Estratégia e Gestão empresarial, e autor e moderador das conversas SPE Futuri Investidores, no LinkToLeaders, e das conversas SPES Libertatis, no Instituto +Liberdade. Foi administrador executivo da Instituição Financeira de Desenvolvimento (hoje... Ler Mais..

Artigos Relacionados