Conheça as start-ups que estão a revolucionar o mercado da parentalidade

Há quem esteja a apostar em força no mercado das novas famílias. Uma área de negócio emergente que já ganhou a alcunha de “economia da nova maternidade”.
Quando Vanessa Larco, sócia da New Enterprise Associates, uma empresa californiana na área do empreendedorismo, regressou ao trabalho depois de ter sido mãe pela primeira vez, estava verdadeiramente entusiasmada. “Adoro o meu trabalho”, afirmou esta mulher de 33 anos. “Quando regressei, senti-me muito bem vinda e acolhida.”
As primeiras semanas passaram de forma suave até ao momento em que teve de viajar para Los Angeles, na sua primeira viagem de negócios pós-parto. Quando as suas reuniões terminaram mais cedo do que o esperado, Larco correu para o aeroporto na esperança de apanhar um voo o mais rapidamente possível de forma a conseguir chegar a casa antes da hora do seu bebé ir dormir. Mas no balcão das reservas, foi informada que o vôo estava esgotado. “Não sou uma pessoa muito chorona, mas fiquei em lágrimas”, conta.
Este episódio ensinou-lhe que mesmo as mães trabalhadoras que aparentemente têm tudo – um empregador compreensivo, uma carreira bem remunerada e um esposo dedicado, precisam urgentemente de mais apoio. Larco começou então a explorar startups de saúde digital focadas nos primeiros tempos de maternidade, desde o planeamento da gravidez, até ao primeiro trimestre de vida do recém-nascido.
No mês passado, Larco apostou em grande na Cleo, uma aplicação de benefícios parentais que estabelece parcerias com empregadores. A app conecta pais que trabalham com especialistas das mais diversas áreas, desde planeamento familiar LGBT até aos cuidados do sono e consultores de amamentação. E esta é apenas a mais recente aposta da sua empresa no ecossistema das startups vocacionadas para pais recentes. “As mulheres querem regressar ao trabalho mas querem manter as duas vidas,” diz Larco, “e nós podemos financiar as empresas, facilitando a vida delas. É uma excelente oportunidade.”
Vanessa Larco não está sozinha nesta ideia. Nos últimos seis anos, foram vários os investidores que investiram cerca de 500 milhões de dólares em empresas nesta área da “economia da nova maternidade” , ou seja, todas as apps, aparelhos, produtos e serviços que têm pais millennial como alvo. A revista Forbes estima que o volume deste mercado esteja atualmente avaliado em cerca de 46 biliões de dólares e com boas perspectivas de crescimento já que cada vez mais mulheres millennial são mães (1 milhão por ano, mais precisamente).
“Chegar às mães no momento em que estão a começar uma nova família é extremamente poderoso,” diz Anu Duggal, partner da Female Founders Fund. Esta profissional destaca que é neste ponto da vida parental que novos hábitos se começam a formar. “Assim, ao chegarmos a eles primeiro, garantimos que a nossa marca se mantém com eles para a vida.”
E, acrescenta, que “esta é uma excelente oportunidade de mercado que tem sido desvalorizada pela comunidade de capital de investimento”. Ou, pelo menos, negligenciada por muitos dos homens de Silicon Valley. O Female Founders Fund investiu num grupo de seis empresas lideradas por mulheres que apoiam mães recentes. Entre elas encontra-se a Peanut (uma espécie de Tinder para mães com cerca de 650 mil membros) e a Primary (uma marca de roupa para crianças).
Contudo, apenas porque as mães millennial querem entrar no mundo da paternidade com o maior número de apps possível, não significa que Silicon Valley alinhe nesta tendência. Shannon Spanhake, uma das fundadoras da Cleo, explica que inicialmente a indústria não estava totalmente convencida até aparecerem as mulheres executivas da Slack and Reddit e um investidor de alto nível: Marissa Mayer, antiga diretora da Yahoo. “A Marissa tem bastante experiência e consegue ver os dois lados do desafio entre as mães e os empregadores”, afirmou.
Mas apesar do mundo dos investimentos ser dominado por homens, alguns estão a tomar consciência da oportunidade que existe nesta área. Jeff Immelt, ex-CEO da GE, é um dos investidores na Cleo. O principal investidor da Motherly é a BeCurious Partners, uma empresa cujo portefólio é totalmente dedicado a tecnologia relacionada com parentalidade e que é liderada por quatro homens. E, há dois anos a Black Jays Investment, uma firma de investimento liderada por Amit Sharma e Brian Muller, foi o único investidor na Hatch Collection, uma empresa de roupa “chic” que as mulheres podem usar antes, durante e depois da gravidez.
Não é necessário ser mãe para inovar nesta área. Spanhake diz que, por enquanto, Cleo é o seu único filho. “Eu sei que estas start-ups são criadas, na sua maioria, por novos pais. Mas, para mim, isto também significa apoiar famílias e mulheres em momentos chave das suas carreiras profissionais,” acrescenta.
É um objetivo nobre, mas a maioria das start-ups deste ecossistema ainda estão numa fase muito prematura. O seu sucesso está por provar e os 500 milhões de dólares de investimento nesta “economia da nova maternidade” é apenas uma parte do que estas empresas precisam para crescer. Para prevenir que as mulheres não abandonem este caminho vai ser necessário um esforço conjunto entre empreendedores como a Spanhake e investidores como Muller, Duggal e Larco.