Como poderão as start-ups de tecnologia sobreviver nos próximos anos? Investidores respondem.
Alex Theuma, fundador e CEO da SaaStock, comunidade global de fundadores, executivos e investidores de software como serviço (SaaS), resumiu as conclusões e previsões do evento online SaaStock Remote sobre como serão os próximos cinco anos de investimento para as start-ups de tecnologia.
Os mais de 3 mil participantes na conferência online SaaStock Remote, que decorreu em junho último, debateram sobre como serão os próximos cinco anos de investimento para as start-ups de tecnologia. Quanto a 2020, não está cancelado para aquelas que operam em SaaS e na cloud, pelo contrário: este pode ser o ano pelo qual esperavam.
“Há décadas em que nada acontece e semanas em que décadas acontecem” – é revelador quando mais que um investidor no mesmo evento abre a sua apresentação com as palavras do revolucionário russo Vladimir Lenin. Os oradores na SaaStock Remote concordaram que, nos últimos três meses desde o início da crise da Covid-19, se deram dois anos de transformação digital. Aliás, de acordo com um estudo recente da IFS, 70% das empresas aumentaram ou mantiveram o investimento em transformação digital durante a pandemia.
As viagens de negócios ao exterior suspensas, o aumento do trabalho remoto, as reuniões via videochamada, conferências/eventos globais a mudarem para online – estas alterações nas nossas práticas de trabalho estabeleceram-se muito rapidamente. Mas o que significam estas mudanças para as start-ups de tecnologia, o SaaS (software as a service) e a cloud? E para as empresas já estabelecidas?
Foi este o enfoque das várias palestras na SaaStock Remote, que decorreu online durante três dias em junho e contou com a participação de mais de 3 mil fundadores, investidores e executivos na área de SaaS. Alex Theuma, fundador e CEO da empresa organizadora do evento, a SaaStock (comunidade global para empreendedores, investidores e executivos SaaS), resumiu as conclusões e previsões para a Information Age.
Para os empreendedores, a grande questão é como nos adaptamos e sobrevivemos a esta mudança sem precedentes nos cenários sociais e de negócios. Para os investidores a questão é: quais as start-ups que vão sobreviver. Oradores experientes de ambos os lados, investidores e empreendedores, avançaram com as suas previsões. E as semelhanças são surpreendentes.
Futuro brilhante para o SaaS e a cloud
Primeiro, as boas notícias: o SaaS e a cloud parecem ser o melhor lugar para se estar de momento. Os vencedores do confinamento incluem ferramentas de videoconferência como o Zoom, plataformas de comércio eletrónico como a Shopify, ferramentas de colaboração profissional como o Miro, e computação em cloud como a Datadog. Os perdedores estão ligados ao mundo offline: o Marriott, a United Airlines, a Nordstrom, para citar alguns.
Rory O’Driscoll, da Scale Venture Partners, forneceu dados estatísticos: a cloud representa 50% do mercado de software em 2020 e irá crescer até dominar o mercado. Ou seja, já não se trata mais de cloud vs. nas instalações, que tem sido a luta junto das empresas nos últimos 20 anos. Agora é a cloud vs. cloud.
É uma boa notícia se estiver a criar uma ferramenta de comunicação e colaboração, e se o seu software permitir trabalho remoto. Mas e se não estiver? Esta questão leva-nos às más notícias: o SaaS e a cloud são o lugar para se estar, a menos que seja uma start-up de baixo desempenho. Devido à prevalência de plataformas na cloud, há que se destacar. As start-ups com baixo desempenho serão eliminadas, criando oportunidades de aquisição para players mais fortes. As grandes empresas com soluções baseadas na cloud, como a Microsoft, a IBM ou a AWS já dominam o mercado, deixando pouco espaço para as novas start-ups explorarem.
David Skok, da Matrix Partners, bateu na mesma tecla: se tiver um baixo desempenho, será mais difícil do que nunca obter financiamento. Terá provavelmente uma queda na avaliação. E pode ser eliminado, criando oportunidades de aquisição para players mais robustos. Embora pareça uma má notícia para as novas start-ups de tecnologia, há investidores que veem uma luz ao fundo do túnel.
Foco na eficiência
Jos White, da Notion Capital, tem alguns conselhos para as jovens empresas: mais do que nunca, deve haver maior enfoque na eficiência. Já não se trata de crescimento a todo o custo. Crescimento e eficiência gera um negócio saudável, defende. Os empreendedores precisam de perceber e rastrear os inputs e outputs, para crescer de forma saudável, sustentável e eficiente.
Desde que seja eficiente, e não tenha um desempenho abaixo do esperado, como pode prosperar num cenário em que a cloud está prestes a ficar mais sobrecarregada/movimentada? Surgiram três grandes opções de diferentes oradores que tentaram responder a esta pergunta:
- Competir com uma oferta existente na cloud, por exemplo, Zoom vs. Microsoft.
- Encontrar uma abertura no mercado em que a penetração na cloud seja baixa (o que fica mais difícil dado que os gigantes estão a mover-se rapidamente para novos mercados).
- Ir além da cloud, aproveitando tecnologias atuais como inteligência artificial, machine learning e realidade aumentada.
A estratégia final, de acordo com Rory O’Driscoll, é planear hoje para daqui a cinco anos, com imaginação e inovação à mistura.
A SaaStock Remote confirmou o que os participantes já sabiam: 2020 não está cancelado para aqueles que operam em SaaS e na cloud; pelo contrário, pode ser o ano por que esperavam. Nos últimos meses, a transformação digital acelerou e a cloud domina. Como declarou Rory O’Driscoll: “estamos todos na mesma tempestade, mas estamos em barcos diferentes”. Ou seja, nenhum de nós pode controlar as condições económicas causadas pela pandemia (a tempestade), mas podemos mudar a forma como nos adaptamos.