Opinião

Com três letrinhas apenas…Queremos mesmo ser todos iguais?

Rosário Pinto Correia, Católica Lisbon School of Business and Economics

Igualdade de dignidade e de direitos. Igualdade perante a lei. Igualdade (de tratamento)… sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação…estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.

É disto que fala a Declaração Universal dos Direitos Humanos, assinada no plenário da Organização das Nações Unidas em 10 de Dezembro de 1948 .

Talvez porque em toda a minha vida estive em áreas próximas do marketing, onde o reconhecimento das diferenças entre pessoas e o conhecimento de cada uma delas é fundamental para o sucesso dos processos de atração de clientes pelas marcas, assente na direção das mensagens que melhor de adequam às características, desejos e necessidades de cada um.

Talvez porque já cá ando há muitos anos.
Talvez porque depois de filha, neta e bisneta sou agora Mãe e Avó.
Talvez porque gosto demasiado do ser humano e das suas diferenças.
Talvez…são tantas as razões que me levam a este apelo ao bom senso.

Esta mesma declaração fala também – reconhecendo que diferenças existem e têm de ser protegidas – de liberdade de pensamento, de consciência e de religião (art.º 18.º) bem como de liberdade de opinião e de expressão (art.º 19.º).

Faz-me muita confusão que nos queiram impingir limitações de linguagem e impedir de reconhecer, ao falarmos, que os seres humanos são todos – e ainda bem – diferentes.

Iguais em direitos e oportunidades, sim.
Iguais perante a lei e na forma como são tratados, sim, sim, sim!

Mas iguais??? Todos? Onde? Quando? Como?
O local e a família onde nascemos, a raça a que pertencemos, a educação que recebemos, a profissão que escolhemos, os amigos que temos, os hobbies de que gostamos, a religião que professamos (ou não..) o clube que apoiamos… tudo nos faz seres diferentes.
E que, por isso, queremos, procuramos, lutamos por, divertimo-nos ou choramos por coisas diferentes.
É esta a riqueza do ser humano.
É esta diversidade que nos faz tão extraordinários como somos.

Queremos mesmo prescindir disto?
Queremos mesmo ser reduzidos a um conjunto de seres todos iguais?
Não acredito…

São de certeza boas as intenções de quem – para, com toda a legitimidade e razão, combater as existentes e imperdoáveis injustiças, desigualdades e desrespeitos pela tão importante Declaração Universal dos Direitos Humanos – propõe alterações de linguagem que visam eliminar estas diferenças.

Mas que o remédio para a inclusão seja a eliminação das diferenças, não me parece ser o caminho certo!
Numa atitude de censura permanente sobre o que dizemos e a forma como articulamos os nossos raciocínios, levando os que se submetem a esta disciplina a um receio permanente de errar, de ofender alguém, de dizer a coisa errada.

Será que que quando entro numa sala de aula com 30 alunos, de varias nacionalidades e sexos e lhe digo “Hi, guys!” estou mesmo a discriminar as raparigas que estão na sala?
Quando falamos num grupo de “amigos” estamos a deixar de fora as mulheres do grupo? Alguém se sente mal com isso?
Parece-me demasiado!
Deixar de haver elas e eles?
Mas deixará alguma vez de haver homens e mulheres com toda a riqueza que as suas complementaridades emprestam à nossa vida..?
De todos ou todas passamos a ser todes?
Nivelamos e igualizamos tudo?
E deixa de haver Mãe para passar a haver pessoa lactante?
Fará algum sentido retirar das nossas vidas tudo o que está contido nesta palavra que nos acompanha desde que nascemos, esta figura que a todos dá vida e é pilar da família (esta também, by the way, protegida pela mesma declaração no seu artigo 16.º “A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção desta e do Estado”)?
Parece-me demasiado!

Lutemos contra as injustiças.
Acabemos com as desigualdades.
Mas não o façamos duma forma simplista como estas propostas regras de mudança de linguagem.

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Maria do Rosário Pinto Correia

Maria do Rosário Pinto Correia

Maria do Rosário Pinto Correia é Founder e CEO da Experienced Management e regente da disciplina de Marketing in The New Era (licenciatura em Business Management) na CLSBE. Coordena, ainda, três programas de Executive Education - PGV - Programa de Gestão de Vendas, EI - Estratégias de Internacionalização e CE – Comunicação Estratégica, e é responsável pelo desenvolvimento de atividades da Executive Education da CATÓLICA-LISBON no Brasil e na Ásia. Licenciada em Ciências Económicas e Empresariais pela Universidade Católica Portuguesa,... Ler Mais..

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