Entrevista/ Campus tecnológico do grupo Crédit Agricole quer investir e construir parcerias no ecossistema português
“O nosso objetivo é instalar a KLx de forma duradoura aqui em Portugal, e é por isso que estamos a fazer investimentos significativos e a construir parcerias com o nosso ecossistema local”. A afirmação é de Elizabeth Pugeat, diretora-geral da KLx, ao Link to Leaders.
Subsidiária do Crédit Agricole, a KLx tem em Portugal, desde 2020, um campus tecnológico, no qual investiu 3,6 milhões de euros, especializado no desenvolvimento de aplicações bancárias e de seguros. Trabalha para o grupo, mas não só, e emprega cerca de 450 profissionais, equipa que quer reforçar nos próximos dois anos.
Em entrevista ao Link to Leaders, Elizabeth Pugeat, diretora-geral da KLx, faz “um balanço muito positivo” dos três anos de atividade, e explica que quer contrariar as dificuldades de contratação que algumas empresas enfrentam em Portugal. Reforçar o valor do trabalhador, do recrutamento e do multiculturalismo são apostas estratégicas para a empresa.
Como nasceu e o que faz o campus tecnológico do grupo Crédit Agricole?
A empresa foi criada para fornecer competências adicionais à área de IT do grupo e desenvolver aplicações bancárias e de seguros. Em 2018, o projeto arrancou com um parceiro local, mas foi em 2020 que a organização se instalou em Lisboa, onde trabalhamos lado a lado com as equipas de IT das diferentes empresas do grupo, contribuindo para a transformação e crescimento do grupo Crédit Agricole.
O Campus trabalha apenas para o mercado nacional ou para o grupo como um todo, e para outros mercados?
A KLx, apesar de estar sediada em Lisboa, trabalha para o grupo como um todo. Trabalhamos para empresas que operam em cinco países europeus, sendo França o maior mercado. É por esta razão que, ao nível do domínio de línguas, todas as nossas posições requerem algum francês ou inglês. Também disponibilizamos aulas de línguas para melhorar as competências das nossas equipas e dar-lhes mais oportunidades de evolução.
“Neste momento, a maioria dos perfis que procuramos são ligados a novas tecnologias”.
E quais os setores tecnológicos em destaque?
Cobrimos, de facto, um vasto espetro de tecnologias, desde as linguagens tradicionais do mainframe bancário até ao digital e linguagem de dados, como por exemplo Java, Angular, Python, Spark Hadoop, por exemplo.
Como trabalhamos com empresas bancárias e seguradoras, representamos as suas equipas de TI e da sua evolução. Podemos observar necessidades crescentes no que respeita às tecnologias digitais e fazemos, naturalmente, parte desta transformação. Neste momento, a maioria dos perfis que procuramos são ligados a novas tecnologias.
É público que a KLx investiu 3,6 milhões de euros no campus de Lisboa. Que balanço faz dos três anos de atividade no mercado português?
Sim, renovámos totalmente o nosso campus e desde o início que investimos significativamente no espaço, porque acreditamos profundamente que isso contribui para o trabalho em equipa, o bem-estar e a atratividade da nossa empresa. O nosso principal objetivo inicial era atrair talentos de TI altamente qualificados, e o balanço após os primeiros três anos é muito positivo. O nosso crescimento e os nossos resultados estão em linha com os objetivos a que nos propusemos inicialmente.
“Algumas empresas estão preocupadas com o facto de a reserva de candidatos de TI poder enfrentar alguns desafios em Portugal (…)”
A opção por Lisboa é uma aposta ganha?
É de facto uma aposta ganha, pois conseguimos crescer de 0 para 450 pessoas em poucos anos, trabalhando com oito clientes que estão altamente satisfeitos com os nossos serviços e temos quatro parceiros adicionais que estão a considerar trabalhar connosco.
Algumas empresas estão preocupadas com o facto de a reserva de candidatos de TI poder enfrentar alguns desafios em Portugal. Contudo, isto na verdade acontece em todo o mundo. Sabemos que Portugal continua a criar novos talentos de TI, com pessoas a formarem-se ou a requalificarem-se todos os anos e até atrai talentos do estrangeiro. No nosso campus, por exemplo, temos pessoas de 15 nacionalidades. Consideramos este dinamismo do mercado um desafio, mas positivo. Estamos confiantes na nossa capacidade de atrair e reter talentos.
Anunciaram a intenção de, até 2024, contratar cerca de 300 pessoas? Porquê este reforço de equipa e a valorização dos profissionais TIC portugueses?
Sim, queremos aumentar a nossa equipa em 300 pessoas durante este ano e o próximo, o que corresponde à nossa ambição inicial. Os nossos primeiros projetos foram bem-sucedidos e os resultados são reconhecidos no seio do grupo Credit Agricole. Contamos agora com quatro novas empresas que querem começar a colaborar connosco.
“Os profissionais (…) têm também uma grande mentalidade profissional e são, normalmente, fluentes em duas ou três línguas”.
O que encontram de diferente na mão de obra nacional?
A KLx, tal como muitas outras empresas, escolheu Portugal para se instalar devido ao grande número de trabalhadores de TI altamente qualificados. Os profissionais não têm apenas as competências técnicas que procuramos, têm também uma grande mentalidade profissional e são, normalmente, fluentes em duas ou três línguas.
Quais os valores KLx?
A KLx foca-se em quatro valores chave: excelência, diversidade, espírito de equipa e procura por soluções. Recrutamos perfis com grande talento e vontade de crescer connosco e temos um conhecimento profundo das atividades dos clientes. Além disso, temos no nosso campus um ambiente multicultural com mais de 15 nacionalidades, onde valorizamos a diversidade de perfis, origens e culturas dos nossos colaboradores. Valorizamos o trabalho de equipa e temos uma gestão próxima – trabalhamos lado a lado com os clientes do grupo Crédit Agricole e fomentamos relações duradouras com todo o ecossistema. Temos também uma abordagem proativa e orientada para as soluções em tudo o que fazemos, esforçando-nos por trazer sempre mais valor aos clientes.
Que mais-valias querem trazer ao mercado?
O nosso objetivo é instalar a KLx de forma duradoura aqui em Portugal, e é por isso que estamos a fazer investimentos significativos e a construir parcerias com o nosso ecossistema local. Queremos continuar a desenvolver os nossos colaboradores, que são o nosso maior ativo, apostando na formação, no desenvolvimento de carreiras e na mobilidade.
A nossa ambição é também tornarmo-nos num dos melhores locais para trabalhar em Portugal. Oferecemos vantagens competitivas em termos de benefícios e o nosso modo híbrido é muito flexível, com 120 dias de trabalho remoto por ano (equivalente a três dias por semana). Além disso, todos os nossos benefícios estão disponíveis para todos os colaboradores, independentemente da sua posição ou antiguidade – o seguro de saúde, a possibilidade de ter um automóvel, a título de exemplo.
“O desafio passa muito por combinar as novas tecnologias com os ativos existentes (…)”.
Quais os principais desafios que uma tecnológica do setor financeiro/bancário enfrenta neste ecossistema em permanente transformação e pródigo em inovação?
Trabalhei em TI para o setor bancário durante toda a minha carreira e sei que uma coisa é garantida: a mudança. O setor financeiro e bancário, tal como outros, continuará a transformar-se à medida que surgirem novas tecnologias. Nos últimos dois anos, ouvimos muitas palavras-chave, mas penso que o essencial passa por aceitar a mudança e a inovação, mas manter a cabeça fria. O desafio passa muito por combinar as novas tecnologias com os ativos existentes e desenvolver as nossas equipas com as competências adequadas. Depois, é uma questão de nos mantermos adaptáveis e ágeis para enfrentar qualquer nova transformação que surja.
Em 2022 revelaram um volume de negócios de 31 milhões de euros. Qual a estimativa para 2023?
Para 2023, temos o objetivo de alcançar os 39 milhões de euros de volume de negócio.
O que é que a KLx pode fazer pela dinamização do mercado laboral português e, globalmente, pela economia nacional?
Numa altura em que as empresas tecnológicas estão a enfrentar dificuldades e a despedir, a KLx contraria esta tendência querendo crescer e atingir 750 pessoas até ao final de 2024. Para atingir este objetivo, contamos também com uma dúzia de empresas portuguesas de consultoria em TI que consideramos parceiros estratégicos.
“Na nossa empresa, as oportunidades de crescimento e desenvolvimento são iguais para qualquer um dos géneros (…)”.
Enquanto diretora-geral e mulher num setor maioritariamente masculino, como tem sido este desafio de liderar o projeto KLx?
A KLx foi um desafio, sem dúvida, mas nada teve a ver com o facto de ser mulher. Um dos três principais pilares do grupo Crédit Agricole, o “Human Project”, centra-se na inclusão e na igualdade entre homens e mulheres. Eu própria nunca sofri discriminação, mas levo este assunto muito a sério.
A equipa da KLx é constituída por 36% de mulheres – em comparação aos 28% no resto do setor. Ainda mais significativo para mim: cerca de 50% dos cargos de gestão de equipas da KLx são ocupados por mulheres. Na nossa empresa, as oportunidades de crescimento e desenvolvimento são iguais para qualquer um dos géneros, com uma cultura inclusiva um ambiente de trabalho que promove a igualdade de género e respeita as diferenças.
Respostas rápidas:
Maior risco: ser bem-sucedido face a um crescimento rápido e manter-se ágil.
Maior erro: talvez escolher um nome de empresa que não seja fácil de pronunciar em português. De facto, pronuncia-se “calicsse”.
Maior lição: não é uma lição, mas esta viagem confirmou que o fator humano é o mais importante.
Maior conquista: conseguir crescer em tão pouco tempo. Conseguimos ser reconhecidos pelo nosso grupo, ter clientes satisfeitos e uma equipa feliz.








