Entrevista/ “Bitcoin não é a resposta para uma sociedade sem dinheiro físico”

Quem o diz é Benoît Cœuré, membro do conselho executivo do Banco Central Europeu, que acredita que divisas como o bitcoin não passam de pobres imitações de dinheiro verdadeiro.

As moedas virtuais parecem ter saído da ribalta durante algum tempo. Desde dezembro, altura em que o bitcoin atingiu o seu valor mais alto, que o interesse do público nas cryptocurrencies tem vindo a decrescer.

Depois do vice-governador do Banco Central da China ter dito que o bitcoin não passava de uma bolha, esta semana, um membro do conselho executivo do Banco Central Europeu, Benoît Cœuré, publicou um artigo no site da organização europeia a explicar as falhas deste tipo de moedas.

Intitulado “Bitcoin não é a resposta para uma sociedade sem dinheiro físico”, Cœuré tece largas críticas a aquelas que, segundo o economista, não passam de pobres imitações de dinheiro verdadeiro.

Nas palavras de Cœuré, ninguém dá um preço em bitcoins aos bens que vende, poucos utilizam esta divisa para fazer pagamentos e, enquanto investimento de longo-prazo, “não são melhores do que ir apostar no casino”.

No entanto, o economista consegue ver a outra face da moeda. Apesar das cryptocurrencies ainda serem uma pequena amostra do seu potencial, podem muito bem ser um sinal de mudança para um mundo sem dinheiro físico.

Prova disso é uma pesquisa do Banco de Compensações Internacionais, que revelou que os pagamentos sem dinheiro físico duplicaram desde a viragem do século. Para reforçar ainda mais esta tendência, os países nórdicos – como a Suécia -, estão a descartar a utilização do dinheiro físico e, segundo o autor do artigo, as novas gerações, “que mais rapidamente recorrem à aplicação de pagamentos do que à carteira”, também estão a impulsionar esta iniciativa.

Apesar de ainda apresentar muitas falhas, Cœuré acredita que o bitcoin veio preencher algumas lacunas existentes nos sistemas bancários que terão de ser trabalhadas. As transferências entre cidadãos que se encontram em países diferentes e os pagamentos a lojas internacionais são apenas dois exemplos dos buracos presentes no atual sistema.

Adeo Ressi, fundador do The Founder Institute, parece partilhar da mesma opinião do membro do conselho executivo do Banco Central Europeu. Questionado sobre o bitcoin em entrevista ao Link to Leaders, Ressi afirmou que “se foi criada para ser utilizada como moeda de troca é terrível. Mas acho que vai haver uma moeda virtual que se vai tornar melhor do que uma moeda física a todos os níveis, mas não nos próximos tempos, visto que as inovações dentro do mercado das moedas virtuais são comparáveis às inovações do HTML em 1994, tentativas muito primitivas de pessoas com 20 e poucos anos de inovar o setor bancário, os governos e a inflação”.

A solução poderá mesmo passar por instituições como o Banco Central Europeu. O antigo colega de quarto de Elon Musk acrescentou ainda que “assim que começarem a haver grupos de pessoas muito inteligentes, economistas e pessoas deste campo que trabalhem coletivamente para resolver estes problemas, vão começar a existir soluções que poderão substituir as divisas físicas. Mas ainda não estamos, de todo, perto de atingir isso”.

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