Entrevista/ “Avançámos com a oferta de um seguro de vida e seguro de saúde para os funcionários”

Miguel Ferreira, CEO da Companhia Operacional de Segurança

“Existe uma grande falta de profissionalismo e de ética profissional na gestão das empresas, o que, por consequência, afeta todo o restante setor. O não controlo da formação dos vigilantes é o que origina alguma falta de qualidade na operativa”, apontou Miguel Ferreira, CEO da Companhia Operacional de Segurança, em entrevista ao Link To Leaders. “Um dos grandes desafios é a criação de uma contratação coletiva única”, alertou.

A Companhia Operacional de Segurança (COPS) é uma PME portuguesa que presta, desde 2008, serviços de segurança a terceiros, nomeadamente, tribunais, hospitais, centros de saúde, escolas e universidades, câmaras municipais, teatros, espaços de entretenimento, hotéis e resorts, condomínios, e outros de alta segurança como à Procuradoria Geral da República, ao Departamento Central de Investigação e Ação Penal ou à Administração do Porto de Sines.

Com mais de 10 anos no setor e com cerca de 1500 funcionários – que contam com uma carteira profissional atribuída pelo Ministério da Administração Interna – , em 2019 foi alvo de um projeto de reestruturação, que lhe permitiu começar a ter resultados positivos.

Em 2019, a empresa registou uma faturação anual que ultrapassou os nove milhões, o que representa um crescimento na ordem dos 200%, comparando com o ano de 2008 em que alcançou 3 milhões de euros. No ano passado, nem a pandemia fez com que a COPS baixasse os braços e faturou 24 milhões de euros (um crescimento de 166% em relação ao ano anterior).

Este ano foi reconhecida pela DECO, organização de defesa dos consumidores, para a prestação de serviços de segurança privada e eletrónica, bem como para serviços de segurança em condomínios. A COPS recebeu os selos DECO PROTESTE SELECT e DECO CONDOMÍNIO+ depois de uma auditoria realizada pela Bureau Veritas, que garantiu que todos os serviços e procedimentos de funcionamento, bem como todas as normas estão em conformidade com as exigências estabelecidas pela DECO.

Como se passa de uma faturação anual de 3 milhões de euros em 2018 para uma faturação de 9 milhões em 2019?
O aumento de faturação verificado no ano de 2019 na ordem dos 200% é fruto do plano de reestruturação lançado no início desse ano. Houve uma mudança estrutural e organizativa da empresa com a implementação de novas medidas de gestão que obrigaram a uma mudança de paradigmas na forma de gerir a COPS. Esta reestruturação levou à contratação de profissionais experientes do setor que, por sua vez, avançaram com alterações estruturais e de gestão nos diversos setores críticos da empresa.

Definimos neste plano diversos objetivos a atingir durante os anos de 2019 e 2020 e temos vindo a cumpri-los. Os aumentos de faturação verificados em 2019, de 200%, e no ano de 2020, de 166% são o reflexo desse cumprimento e do sucesso conseguido. É necessário muito rigor, empenho e enorme dedicação de toda a equipa envolvida neste projeto de reestruturação. Têm sido tempos de muito trabalho.

“Iniciámos o ano de 2020 com a abertura de serviços nas Infraestruturas de Portugal, e, logo de seguida, no mês de fevereiro, com a Reitoria da Universidade de Lisboa, clientes bastante significativos no número de vigilantes que entraram para a empresa e que permitiram de certa forma colmatar as falhas verificadas em outros setores de atividade”.

E com o surgimento da pandeia, como foi o último ano para a COPS?
O ano de 2020 foi um ano extremamente atípico para nós, tal como para todas as empresas em Portugal, e, inclusivamente, em todo o mundo. Houve um decréscimo de 100% nos serviços prestados em eventos, valores que eram significativos na faturação mensal da empresa, clientes particulares que suspenderam os seus serviços, demoras significativas nos valores a receber.

No entanto, iniciámos o ano de 2020 com a abertura de serviços nas Infraestruturas de Portugal, e, logo de seguida, no mês de fevereiro, com a Reitoria da Universidade de Lisboa, clientes bastante significativos no número de vigilantes que entraram para a empresa e que permitiram colmatar as falhas verificadas em outros setores de atividade.

A gestão financeira desse ano de 2020 tornou-se um pouco complicada devido ao acréscimo significativo nos custos indiretos associados à pandemia, tais como: a compra de equipamentos de proteção, custos com vigilantes que se encontravam no apoio à família, um elevado número de faltas e de baixas médicas, as viseiras em acrílico e máscaras comunitárias com marca COPS que fizemos para todos os nossos vigilantes. De forma a apoiarmos o momento crítico que todos os nossos colaboradores atravessavam com a pandemia, avançámos com a oferta de um seguro de vida e um seguro de saúde para todos os funcionários da empresa com mais de seis meses.

Que balanço faz dos 10 anos de atividade da empresa?
O balanço é relativo, tendo em conta que a empresa iniciou as suas atividades na altura em que se desenvolvia a maior crise financeira em toda a Europa. Ficámos, logo de início, sujeitos a grandes despesas com clientes que entraram em processo de insolvência e a uma constante anulação, e suspensão dos serviços que prestávamos, o que nos levou a um défice de liquidez devido ao grande número de incumprimentos.

Essa situação obrigou mais tarde a COPS a ter de recorrer a um PER (Processo Especial de Revitalização), no sentido de reestruturar a sua área financeira. Mantivemo-nos estáveis até ao ano de 2019, quando demos início a um novo caminho que tem levado a consecutivos sucessos no aumento do número de vigilantes ativos e no aumento progressivo dos valores faturados mensalmente. Hoje, olho para este projeto como um grande sucesso no setor da segurança privada.

Em 2019 foram alvo de um processo de reestruturação. Em que é que consistiu e qual é o balanço?
Em primeiro lugar, consistiu em ir procurar as pessoas certas para os vários departamentos que compõem a empresa. Depois implementar uma estratégia de crescimento através das melhorias de gestão baseadas na melhoria contínua dos nossos processos. Começámos a apostar fortemente no fator humano e na valorização do nosso principal ativo: o vigilante. Conseguindo, dessa forma, uma melhoria significativa no serviço prestado ao cliente e na sua avaliação dos nossos serviços.

Reestruturámos o setor comercial, dando início a uma aposta forte na contratação pública e na preservação dos nossos clientes. Considero o atual balanço extremamente positivo e comprovado pelo crescimento substancial que temos verificado na empresa ao longo destes dois últimos anos.

“Neste momento, a COPS tem 70% dos seus serviços em contratação pública, o que nos obriga a ter uma grande flexibilização na gestão de custos, pois, sempre que um serviço vai a concurso, ninguém nos garante que consigamos ganhar novamente”.

Quando entramos nos serviços públicos, a primeira pessoa que nos recebe é o vigilante privado. É o setor público ou privado que mais peso tem na faturação da COPS?
Até 2018 a empresa trabalhava praticamente a 100% para o cliente privado. Neste momento, a COPS tem 70% dos seus serviços em contratação pública, o que nos obriga a ter uma grande flexibilização na gestão de custos, pois, sempre que um serviço vai a concurso, ninguém nos garante que consigamos ganhar novamente.

Quem são os clientes de peso da COPS?
Vários, tais como o Ministério da Justiça, a nível nacional, Infraestruturas de Portugal, Universidade de Lisboa (UL) e alguns clientes particulares que não posso divulgar. No entanto, deixo o exemplo da SONAE como um cliente com quem trabalhámos há alguns anos.

O que distingue a COPS de outras empresas do setor em Portugal?
São vários os pontos que nos diferenciam das restantes empresas do setor. Consideramos como ponto fulcral  um departamento de comunicação bastante ativo e onde temos colocado um gestor de clientes, que nos permite ter uma maior relação de proximidade com o cliente, conseguindo, dessa forma, ter sempre uma resposta atempada a todas as questões que nos são colocadas. Uma proximidade junto do vigilante, fazendo-o sentir que está numa família e é respeitado. Todos os supervisores são instruídos no sentido de criarem respeito, colaboração e apoio junto dos vigilantes.

A COPS foi a primeira empresa do setor da segurança privada a fazer uma oferta de um seguro de vida e um seguro de saúde a todos os seus vigilantes no sentido de os apoiar na época crítica da pandemia que atravessamos. Temos lutado sistematicamente com os nossos clientes, DGS e task-force para que o vigilante seja tido como uma figura a incluir nas listas de vacinação prioritária. Criámos um departamento de comunicação bastante ativo que interage com toda a empresa, permitindo dessa forma uma comunicação interna aberta entre todos os colaboradores. Julgo que o fator humano, a dedicação e o empenho de todos os envolvidos tem feito da COPS uma empresa diferente e única no setor.

Como avalia o setor da segurança privada em Portugal?
Existe uma grande falta de profissionalismo e de ética profissional na gestão das empresas, o que, por consequência, afeta todo o restante setor da segurança privada. O não controlo na formação dos vigilantes é o que origina alguma falta de qualidade na operativa. Na minha opinião, existe um elevado número de empresas nas quais o seu gestor não tem qualquer tipo de formação em gestão, o que provoca um enorme défice na ética profissional. Tudo isto, associado à falta de fiscalização, tanto na área laboral, como na formação dos técnicos, como na direção de segurança, onde a maior parte dos candidatos a esta área são vigilantes com habilitações mínimas. É urgente uma maior união do setor no sentido de desenvolvermos um trabalho comum para a melhoria de todos.

” Um dos grandes desafios a colocar ao setor é a criação de uma contratação coletiva única que permita o entendimento entre todos os envolvidos no setor”.

Quais os grandes desafios que se colocam à segurança privada?
Atualmente, o grande desafio está nos processos de transmissão de empresas ao abrigo do artigo 285º do Código do Trabalho ou da cláusula 14 da contratação coletiva. O problema começa com o total desentendimento entre as duas associações de empresas que originam duas contratações coletivas, com entendimentos diferentes, onde o principal prejudicado é sempre o vigilante. Um dos grandes desafios a colocar ao setor é a criação de uma contratação coletiva única que permita o entendimento entre todos os envolvidos no setor.

Quais são as exigências tecnológicas que uma empresa como a COPS tem atualmente?
Temos uma grande variedade de tecnologia que nos ajuda diariamente a desenvolver e a coordenar os nossos serviços, tais como: GPS de viaturas, que nos ajudam a dar apoio aos clientes, sabendo qual o supervisor ou viatura mais próxima ao local; rondas com pistola de picagem online, que nos permitem perceber o local onde se encontra o rondista/vigilante e possibilitando que o cliente tenha acesso imediato online às rondas efetuadas; telemóveis em todos os postos, para podermos estar em contacto permanente com todas as equipas de trabalho e central operacional; programa de escalas disponível a todos os supervisores, permitindo-lhes atualizar as mesmas de forma a que o backoffice tenha acesso no imediato.

Somos também bastante crédulos no desenvolvimento dos novos sistemas de segurança virtual, que vão sendo desenvolvidos e atentos às novas soluções de segurança que vão aparecendo no mercado.

No ano passado surgiram notícias na imprensa portuguesa que falavam de ‘dumping social’ praticado por empresas de segurança privada que são selecionadas nos concursos públicos por apresentarem valores mais baixos no seu caderno de encargos e que têm como resultado a violação de direitos laborais e a prática de baixos salários. O que tem a dizer sobre este tema, visto que a COPS aparecia vinculada a estas informações?
É preciso entender o que é o dumping social. Existem, neste setor, dezenas de empresas que não pagam a taxa de 25% das horas noturnas, que obrigam os seus vigilantes a trabalhar 192 horas por mês para terem direito a horas extras, que obrigam ao pagamento do fardamento, pagam as horas extras a 3 euros à hora, não pagam subsídios de Natal, nem de férias, não pagam subsídio de alimentação por todos os dias trabalhados, não pagam os 100% dos feriados, etc. etc. Isto, sim, é dumping social! Pois, a empresa está a penalizar os direitos dos seus vigilantes como forma de obter lucros e baixar os seus custos.

Nunca a COPS, em tempo algum, utilizou tais métodos como forma de baixar os seus valores na contratação pública. E a prova irrevogável que temos disso é termos sido considerados numa votação de vigilantes no ano de 2021 como a terceira melhor empresa de um conjunto de 69 para trabalhar em Portugal na segurança privada. Esta votação é elaborada, anualmente, no maior fórum de segurança privada com 23 mil integrantes.

Na contratação pública, algumas empresas conseguem apresentar valores mais competitivos porque os seus custos indiretos são inferiores ao de empresas de outra dimensão. Uma empresa com cinco administrativos tem custos indiretos muito inferiores aos de uma empresa com 100 administrativos. Na COPS não existe qualquer violação dos direitos dos seus vigilantes, daí sermos uma das empresas deste setor com menos processos em tribunal em função do seu rácio pelo número de vigilantes.

Quais os cuidados que tem a COPS ao contratar?
Fazer uma boa gestão na contratação é sinónimo de conhecermos minimamente quem contratamos e não é muito fácil numa entrevista de 60 minutos com fichas de avaliação preenchidas. Muitas das vezes quando pensamos que fizemos uma boa contratação, deparamo-nos com algumas dificuldades na adaptação do vigilante ao posto de trabalho, competindo ao supervisor a sua recolocação num posto com outras características, evitando sempre o seu despedimento. Daí advém o nosso baixo índice de demissões.

“Não perder nenhum cliente, fechar o ano com saldo positivo, conseguirmos atingir valores anuais entre 28 e 30 milhões, ter todo o nosso efetivo vacinado contra a Covid-19, e tornar-nos ainda mais competitivos, mas sempre de uma forma sustentável”.

Quais os objetivos para este ano?
Não perder nenhum cliente, fechar o ano com saldo positivo, conseguirmos atingir valores anuais entre 28 e 30 milhões, ter todo o nosso efetivo vacinado contra a Covid-19, e tornar-nos ainda mais competitivos, mas sempre de uma forma sustentável. Desejamos criar, junto dos colaboradores, mais apoios sociais, como exemplo o apoio à maternidade.

Como vê a COPS dentro de cinco anos?
Gostaria de a ver entre as cinco melhores empresas do setor e, porque não, ser a primeira empresa nacional de segurança privada com financiamento próprio, reforçando a procura do cliente particular. Pretendemos também reforçar a nossa postura no apoio social aos colaboradores, tornando-nos assim uma empresa diferenciada das restantes.

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