Opinião

As vantagens e as desvantagens em ser um bom professor

Lurdes Neves, investigadora e docente no ISG*

Aulas interessantes e com facilidade de acompanhamento que incluam oportunidades frequentes para os alunos avaliarem o seu conhecimento poderão ser uma boa alternativa para aumentar a aprendizagem.

Como assim? Mas existem desvantagens em se ser bom professor? Na verdade, um professor que consegue promover aulas interessantes, bem organizadas e claras, pode criar a ilusão nos alunos de que aprenderam em quantidade e profundidade os conteúdos, quando, em estudos experimentais realizados, as suas notas não são significativamente diferentes das classificações de alunos que tiveram aulas com maior dificuldade de acompanhamento. Conclui-se ainda que ter alunos interessados tem inúmeras vantagens, mas a ilusão de aprendizagem pode também ter consequências negativas.

O facto de os alunos terem acreditado que aprenderam mais quando as aulas são mais fáceis de acompanhar poderá ter duas implicações:

(a) os alunos em aulas mais fáceis de acompanhar são mais assíduos e demonstram mais interesse nos temas abordados, o que poderá ter impacto no seu desempenho escolar;

(b) os alunos poderão acreditar que aprenderam o suficiente durante a aula e, por conseguinte, vão estudar menos autonomamente, o que pode ter impacto nos seus resultados.

De forma a conciliar as vantagens e desvantagens, a proposta de resolução deste paradoxo poderá passar então por desenvolver aulas que motivem e interessem os alunos, havendo simultaneamente a preocupação com o uso de estratégias que aumentem a sua capacidade de avaliação do que já sabem. Algumas estratégias possíveis para aumentar a capacidade metacognitiva dos alunos incluem:

  1. Solicitar aos alunos a avaliação do seu conhecimento no imediato e alguns dias após a aula e, sempre que possível, após a oportunidade de contactarem de novo com os tópicos da aula através de alguma atividade, o que deverá minimizar os efeitos da facilidade da aula nas estimativas de aprendizagem;
  2. Possibilitar que os alunos recordem o conteúdo da aula através da sua memória na realização de testes ao longo do tempo, o que os levará a perceber que o facto de a aula ter sido tão facilmente seguida e codificada poderá não garantir que será facilmente relembrada;
  3. Dar feedback aos alunos sobre as tentativas de recuperação do conteúdo da aula, demonstrando que alguma informação que julgavam ter aprendido poderá não o ter sido corretamente.

Em suma, aulas interessantes e com facilidade de acompanhamento que incluam oportunidades frequentes para os alunos avaliarem o seu conhecimento poderão ser uma boa alternativa para aumentar a aprendizagem. Por conseguinte, as aulas apresentadas por um professor confiante, que mantém contacto visual com os alunos, e que comunica ao nível da linguagem verbal e não verbal de forma, terão impacto no interesse e na motivação dos alunos.

Complementarmente, solicitar aos alunos para avaliar o quanto aprenderam após um intervalo de tempo após os momentos de avaliação e ainda o feedback contínuo aumentará a probabilidade de se reduzir a sobreavaliação da percepção da aprendizagem ou “excesso de confiança” desenvolvida no acompanhamento das aulas interessantes.

*Presidente do Conselho Geral, investigadora e docente do ISG – Instituto Superior de Gestão.


Lurdes Neves realizou o Doutoramento em Psicologia, com especialização em Psicologia da Educação. Áreas de Especialização em Psicologia da Educação, Psicologia das Organizações, Orientação Vocacional e do Desenvolvimento da Carreira e Coaching Psicológico. Foi Coordenadora de Gabinetes de Apoio ao Docente em Agrupamentos de Escolas. Especialista em formação nas áreas de Liderança, Avaliação de Desempenho, Gestão de Trabalho em Equipa, Gestão de Conflitos, Formação Pedagógica Inicial e Contínua de Formadores, Diagnóstico, Conceção, Avaliação e Gestão da Formação, Motivação, Liderança de Equipas e Coaching  com públicos diversificados do setor público e privado. Consultora especializada em Agrupamentos de Escola, Gestão de Recursos Humanos, Projetos de Liderança Educativa, seleção e recrutamento para o desenvolvimento da liderança estratégica, implementação do projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular, coaching educativo e diferenciação pedagógica em sala de aula. Foi investigadora no Centro de Psicologia da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Autora de escalas de perceção de liderança e motivação no trabalho adaptadas a Portugal e de diversas comunicações e publicações nacionais e internacionais na área da liderança, coaching, mudança organizacional, educação e formação profissional.

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